meninas usam celular sentadas em um banco de uma praça

Adolesc�ncia: fase de mudan�as, inquieta��es e descobertas e, para muitos, per�odo dif�cil, complicado

Gary Cassel/Pixabay
Ah, a adolesc�ncia… fase de mudan�as, inquieta��es e descobertas. H� quem sinta saudades e h� quem deteste recordar a �poca, mas todo mundo guarda alguma lembran�a divertida ou ao menos embara�osa do per�odo. Na arte, n�o faltam tentativas de representar as metamorfoses da juventude, tanto que caracter�sticas como rebeldia, busca por identidade e valoriza��o das amizades s�o comumente associadas a esse p�blico.

Fato � que o adolescer � mais complexo do que os estere�tipos d�o conta, da� a import�ncia de um especialista para lidar diretamente com esses jovens, al�m de cuidar da sua sa�de. Entra em cena o m�dico hebiatra, especializado em adolesc�ncia, e ainda pouco conhecido. Esse profissional, tamb�m pediatra, lida com quest�es como a puberdade e as mudan�as psicol�gicas, nem sempre percebidas por pais ou respons�veis.

A hebiatra Bianca Lundberg explica que o objetivo da especialidade � preparar o jovem para uma vida adulta com melhores h�bitos e menos sofrimento. “A ideia � ter uma escuta verdadeiramente ativa do adolescente, pois ouvindo seus problemas, queixas e d�vidas, podemos orient�-los e trat�-los melhor”, completa.

Nas consultas e acompanhamentos, h� exame f�sico completo, incluindo verifica��o de peso, estatura e desenvolvimento da puberdade. Nesse momento, o paciente tem direito � privacidade. � aconselh�vel fazer a transi��o da pediatria para a hebiatria quando a ida ao primeiro m�dico ficar dificultada, seja pelo ambiente muito infantil, seja pelo profissional n�o estar acostumado a atender adolescentes.
Bianca acrescenta que as principais queixas desse p�blico est�o relacionadas ao pr�prio crescimento e ao desenvolvimento do corpo, � din�mica dentro da fam�lia e na escola, entre amigos, inimigos e professores. Ademais, a autoimagem e a autoestima tendem a se fragilizar nessas idades — como tudo muda muito r�pido, o jovem n�o se reconhece e nem sempre se aceita.

Jadi Pedrosa, hebiatra e educadora parental, refor�a que quest�es est�ticas e ligadas a um padr�o corporal s�o bastante comuns nos ambulat�rios onde atua. Sobre essa fase da vida, a especialista � enf�tica: “Os pais ainda temem muito o adolescer, devido � enorme desinforma��o em torno disso. � de extrema import�ncia que as necessidades reais dos adolescentes cheguem at� seus respons�veis”.

A adolesc�ncia

Conforme orienta��es das hebiatras Bianca Lundberg e Jadi Pedrosa, veja o que pais e respons�veis precisam se atentar quando o assunto � sa�de das meninas e dos meninos na adolesc�ncia:

  • Necessidades biol�gicas: sono adequado, consumo de alimentos promotores de sa�de e pr�tica de atividade f�sica regular.
  • Carteira de imuniza��o atualizada com vacinas contra HPV, meningites bacterianas, difteria, t�tano e coqueluche.
  • Cautela a comportamentos de risco, como uso de �lcool e de subst�ncias il�citas. Al�m disso, o consumo permanece em alerta entre os mais jovens.
  • Orienta��o a respeito de relacionamentos, sexo e sexualidade. Consentimento, prote��o, afeto, maneiras de evitar gravidez n�o desejada e infec��es sexualmente transmiss�veis s�o assuntos que devem percorrer todos os momentos da adolesc�ncia.
  • Zelo pela sa�de mental dos adolescentes, que t�m mais riscos de desenvolver baixa autoestima, depress�o, ansiedade e transtornos alimentares.
  • Alerta para excesso de telas e isolamento social. Educa��o digital menos punitiva e que promova a proatividade dos jovens neste ambiente.

Lembrete

No Distrito Federal, um total de 120 locais de vacina��o de rotina est�o prontos para imunizar meninos e meninas de 9 a 14 anos contra o HPV. Os garotos t�m expans�o da faixa et�ria at� outubro, esperando completar os 11 anos para iniciar o ciclo composto por duas doses.
 
Segundo dados da Secretaria de Sa�de, a cobertura vacinal local, por�m, est� abaixo da meta de 80%, estabelecida pelo Minist�rio da Sa�de. Vale destacar que o imunizante disponibilizado protege contra quatro tipos do HPV e a oferta para os meninos ajuda a ampliar a prote��o. Quanto mais cedo a crian�a tomar, mais efetividade a vacina ter� no organismo.

Palavra do especialista

Denise Leite � m�dica hebiatra h� 20 anos e atua em Bras�lia

A adolesc�ncia � uma das fases mais complexas da vida. No entanto, pouco se fala sobre o especialista que cuida desse p�blico, o hebiatra. Por qu�?
A hebiatria � a especialidade m�dica que trata da sa�de de adolescentes. Faz parte da �rea de atua��o da pediatria. � pouco conhecida, embora n�o seja recente. Come�ou a ser difundida no mundo na d�cada de 1950 e, no Brasil, ap�s os anos 1970. Os servi�os da USP, em S�o Paulo, e da UERJ, no Rio de Janeiro, foram os pioneiros no pa�s. No Brasil, existem poucos hebiatras, cerca de 200. Assim como a adolesc�ncia � um processo de vida complexo, para trabalhar com esse p�blico, deve-se ir al�m da qualifica��o e do estudo. Apresentar perfil, interesse, disponibilidade e n�o ter julgamento de valores � importante. Talvez isso justifique poucos profissionais que trabalham na �rea.

Normalmente, quando ocorre a menarca, as meninas s�o levadas a ginecologistas e, a partir da�, tendem a ser acompanhadas por essa especialista. Com os meninos, n�o parece haver a mesma aten��o na adolesc�ncia, no que tange � sua sa�de. Isso de fato acontece?
Isso acontece, sim. E n�o � somente com o adolescente menino; o homem tamb�m tem dificuldades de cuidar de sua sa�de, seja por motivos individuais, seja por quest�es culturais e institucionais. Neles, existe o pensamento da invulnerabilidade, de ser forte, e ter algo para acompanhar sua sa�de mostraria uma fragilidade. Ademais, os meninos n�o t�m o costume de verificar suas mudan�as (crescimento, aumento de pelos e test�culos, primeira ejacula��o, etc.). Assim, o m�dico hebiatra trabalha com as quest�es da puberdade, tanto de meninas quanto de meninos, pois, apesar de ser uma especialidade focal, realiza um cuidado de forma integral.

De que forma as redes sociais t�m influenciado no trabalho no hebiatra, considerando o tempo de tela, as intera��es virtuais e o maior acesso � informa��o por parte dos jovens?
Na minha opini�o, as redes sociais podem contribuir para o trabalho da hebiatria, pois, como os/as adolescentes desta gera��o s�o nativos digitais, uma forma de conex�o entre especialista e cliente � por meio digital: observa��o dos perfis dos adolescentes, postagem de conte�dos com a “cara” deles, com m�sicas que eles gostam. Dessa forma, pode-se utilizar ferramentas para aproxim�-los, como jogos virtuais, memes, entre outros.

*Estagi�ria sob a supervis�o de Sibele Negromonte