Kelly Pendry

M�e de dois filhos, Kelly Pendry recebeu seu diagn�stico de c�ncer j� em estado terminal. Agora, ela adverte �s mulheres que t�m preocupa��es de sa�de que busquem e exijam todas as investiga��es que sejam necess�rias

BBC

Kelly Pendry tem c�ncer terminal e passou v�rios anos sem conseguir o diagn�stico. Ela mora em Ewloe, no condado de Flintshire (oeste do Pa�s de Gales), tem 42 anos de idade e � m�e de dois filhos. Em 2021, ela foi diagnosticada com leiomiossarcoma uterino. Mas seus sintomas iniciais – “per�odos menstruais fortes e prolongados” e “muita dor” – come�aram em 2016. Ela se pergunta se as coisas seriam diferentes se ela tivesse sido diagnosticada com mais rapidez.

Leiomiossarcoma � um tipo raro de c�ncer. O tumor � respons�vel por menos de 5% dos tumores malignos de �tero, segundo pesquisadores.

No Brasil, exclu�dos os de tumores de pele n�o melanoma, o c�ncer do colo do �tero � o terceiro tipo de c�ncer mais incidente entre mulheres.

Pendry afirma que, quando descreveu seus sintomas ao m�dico pela primeira vez, ela ouviu que “o corpo realmente leva um tempo para se normalizar [depois da gravidez]”.


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Ela conta que foi aconselhada a tomar p�lula anticoncepcional ou colocar um DIU. Em outra ocasi�o, ela recebeu uma receita de antidepressivos. “Eu me senti uma rainha do drama”, ela conta. “Senti que estava exagerando, que ‘isso est� meio que na minha cabe�a, ser� que � burrice?’”


Kelly Pendry, seu marido Michael e os filhos Sam, de 10 anos, e Isla, de oito.

Kelly Pendry, seu marido Michael e os filhos Sam, de 10 anos, e Isla, de oito

ARQUIVO PESSOAL

Mas as condi��es de Pendry eram debilitantes.

“Havia dias em que eu me retorcia de dor”, relembra ela. “Nos dias em que eu n�o estava sangrando, [a dor] era menor. Eu estava ganhando peso sem explica��o. Eu tinha esse est�mago, muito, muito inchado.”

‘Como voc� est� aguentando?’

Foi s� em abril de 2020 que um m�dico geral local – que Pendry descreve como “her�i” – concordou que algo estava errado, depois que percebeu que havia n�dulos no seu abd�men.

“Pela primeira vez, algu�m confirmou alguma coisa”, ela conta. “Ele perguntou ‘como voc� est� aguentando?’ Eu respondi ‘n�o estou’.”


Kelly e o marido, Michael

O marido de Kelly Pendry, Michael, espera levantar dinheiro suficiente para pagar a cirurgia nos Estados Unidos

BBC

Em novembro de 2020, Kelly Pendry foi diagnosticada com fibroides benignos. Os m�dicos recomendaram a ela que uma histerectomia seria o melhor caminho, mas a pandemia fez com que suas consultas de acompanhamento fossem continuamente postergadas e a cirurgia nunca aconteceu.

Em junho de 2021, Pendry sangrava todos os dias e “parecia que estava com nove meses de gravidez”. 

Foi mais ou menos nessa �poca que um m�dico mencionou pela primeira vez a possibilidade de um sarcoma, mas o diagn�stico s� viria em novembro de 2021, depois de uma bi�psia do pulm�o.

Nessa �poca, Pendry descobriu que seu c�ncer j� estava em est�gio quatro e era terminal. “Uma enfermeira me disse para n�o fazer planos para o Natal”, relembra ela.

Pendry foi encaminhada para um oncologista do Centro de C�ncer Clatterbridge em Liverpool, na Inglaterra. O m�dico disse que faria o melhor poss�vel para tratar do seu c�ncer, mesmo sendo incur�vel.

“Ele nos perguntou o que n�s quer�amos e n�s respondemos ‘tempo’. O m�ximo de tempo que fosse humanamente poss�vel”, ela conta.

Quimioterapia ‘extenuante’

“Eu disse ‘n�o consigo pensar em n�o estar presente para as conquistas [das crian�as]’ – coisas bobas, como os primeiros namorados, namoradas, formaturas. Na �poca, eu pensei que n�o chegaria a v�-los com 10 anos de idade.”

Mas seis rodadas agressivas e “extenuantes” de quimioterapia fizeram com que ela ganhasse mais tempo.

Quase um ano depois do final do tratamento, Pendry ainda sente efeitos colaterais dos inibidores de horm�nios, como cansa�o, dores e ondas de calor. Mas ela conta que “nada se compara” com as dores que ela sentia antes.

E permanece o fato de que Pendry ainda tem c�ncer terminal em est�gio quatro.

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“Tivemos estabilidade por um ano”, segundo ela. “Mas sabemos que isso pode simplesmente mudar e com muita rapidez.”

Pendry quer a histerectomia, mas afirma que esta op��o “n�o est� mais dispon�vel. Parece que, como meu c�ncer est� em est�gio quatro, a cirurgia n�o � usada para prolongar a vida.”

O marido de Kelly Pendry, Michael, espera levantar 50 mil libras (cerca de R$ 310 mil) para pagar a cirurgia nos Estados Unidos. “L�, a cirurgia � um tratamento”, ele conta.


Michael

Michael ir� correr 290 km para tentar levantar 50 mil libras (cerca de R$ 310 mil)

ARQUIVO PESSOAL

Pendry n�o quer criticar o “maravilhoso NHS” (o servi�o p�blico de sa�de brit�nico), mas sente que foi “afastada de caminhos que parecem ser dispon�veis em outros pa�ses”.

Michael ir� em breve fazer uma corrida de 290 km de Ewloe at� Hanham, perto de Bristol, na Inglaterra, tentando levantar os fundos necess�rios. Ele descreveu o treinamento para a miss�o como cat�rtico.

‘Eu s� chorava enquanto corria’

“Se eu deixasse as coisas se acumularem em cima de mim... posso correr e me sentir melhor com isso”, ele conta.

“Ontem, aquilo parecia uma tonelada de tijolos me atingindo”, relembra Michael. “Eu s� chorava enquanto corria. Mas me senti melhor depois.”

Kelly Pendry � realista sobre o que o futuro pode reservar para ela, mesmo com a cirurgia.

“Sabemos que eles podem tirar tudo e poder� voltar, sabemos disso”, segundo ela. “S� queremos que as crian�as saibam que tentamos todo o poss�vel. Acho que isso ir� trazer um conforto muito grande para eles.”

Pendry espera que contar sua experi�ncia tamb�m ajude outras pessoas. Ela afirma esperar que sua hist�ria “chegue a algu�m nos est�gios iniciais e fa�a com que eles digam ‘quero mais exames ou gostaria de receber encaminhamento’.”

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“Estamos conversando sobre a sa�de das mulheres, menopausa, per�odos menstruais”, acrescenta ela. “Minha esperan�a � que v� melhorar.”

Em nota, o Conselho de Sa�de da Universidade Betsi Cadwaladr, no Pa�s de Gales, afirmou: “lamentamos saber da experi�ncia da sra. Pendry e a aconselhamos a entrar em contato com seu cl�nico geral, que � um m�dico terceirizado do conselho de sa�de, para que suas preocupa��es possam ser investigadas”.

O Centro de C�ncer Clatterbridge, em Liverpool, afirma que n�o pode comentar sobre pacientes espec�ficos, mas acrescenta: “com c�ncer avan�ado que se espalhou para outras partes do corpo, tratamentos como quimioterapia dirigida a c�lulas cancerosas em todo o corpo geralmente ser�o mais eficazes que a cirurgia”.

“Trabalhamos em conjunto com as equipes de cirurgia da nossa regi�o. Se for prov�vel que a cirurgia seja ben�fica, ela ser� oferecida, mesmo para c�ncer incur�vel”, prossegue o Centro.

“Compreendemos totalmente como pode ser dif�cil viver com c�ncer em est�gio avan�ado e aconselhamos Kelly a conversar com sua equipe cl�nica se tiver qualquer d�vida.”