O chef Renato Quintino ao lado do filho Jo�o: "Os melhores momentos da minha vida est�o na cozinha"
Marcos Vieira/EM/D.A Press
Cozinhar � pura qu�mica. Ela come�a na magia das rea��es, das misturas de temperos e especiarias com os alimentos e fecha o ciclo com todos ao redor da mesa, saboreando o prato e reagindo ao sabor e troca de viv�ncias. Redescobrir a experi�ncia de transformar e preparar a pr�pria comida � mergulhar na sua hist�ria, na da sua fam�lia e tamb�m na da humanidade.
� a chance di�ria de presentear o paladar e despert�-lo para valores t�o caros, guardados na mem�ria e, sim, formar novas lembran�as. Momento sagrado para compartilhar a vida, a alegria, o afeto, os saberes, as d�vidas, os pesares e dores, hora de aprender, dividir e relaxar em meio a tempos de acelera��o de tudo.
No entanto, ainda que o cozinhar, a alimenta��o saud�vel e equilibrada, a gastronomia, enfim, a comida, estejam na mente das pessoas, com programas pipocando na TV e no mundo virtual, h� quem dedique cada vez menos tempo ao preparo das refei��es. Podem at� se preocupar com a qualidade e quantidade de calorias ingeridas, mas grande parte dispensa o tempo dentro da cozinha pela praticidade perigosa de consumir produtos industrializados, muitos mascarados de “saud�veis”.
Quem sabe � hora de rever esse comportamento, mudar de h�bitos e voltar a vivenciar uma alimenta��o mais natural, fresca, sem conservantes - a chamada comida de verdade. Um chef muito conhecido de BH, Renato Quintino, que comanda o Espa�o Renato Quintino, onde d� aulas de gastronomia para pequenas turmas h� quase duas d�cadas (s�o 25 de cozinha), come�ou a se aventurar nesse universo aos 16 anos, sem imaginar que seria seu ramo profissional.
“Gosto de cozinhar desde a adolesc�ncia, fazia p�o e torta de banana, que ficavam muito bons. Tenho forma��o em filosofia, artes pl�sticas e, um dia, decidi que iria trabalhar preparando alimentos e nunca mais parei. Os melhores momentos da minha vida est�o na cozinha. Cozinho diariamente no trabalho ou em casa e tenho a companhia dos meus filhos, Jo�o e Alice (agora nem tanto porque ela est� morando na Holanda), e da minha mulher, Cl�udia. Adoro, � o meu trabalho, mas acima de tudo um prazer.”
Alice, o pai Renato e o marido Nout, na Holanda
Arquivo pessoal
Uni�o
Renato Quintino diz que cozinhar � um momento de concentra��o ao lidar com o preparo do alimento, picar, temperar, sentir os aromas e sabores. “Tamb�m � hora de agregar. A cozinha � uni�o, o melhor lugar da casa para o mineiro, que gosta de mesa farta, generosa e simples. A atmosfera de compartilhar o alimento � um ritual desde as antigas civiliza��es. N�o � � toa que restaurante significa restaurar, ou seja, o cozinhar envolve o receber, ser anfitri�o, a hospitalidade, hora de relaxar e na companhia da fam�lia. � perfeito.”
Com os filhos, Renato conta que aconteceu de forma natural. “Desde crian�a. Sa�am comigo para comprar caf� mo�do na hora. Al�m disso, a cultura gastron�mica faz parte do dia a dia da educa��o tamb�m. Cozinhar o pr�prio alimento. E nossa cozinha � um lugar para a fam�lia conversar todos os assuntos. A cozinha aceita falar de neg�cios, de situa��es de conflito e de amor, enfim, � um protocolo importante da humanidade. Na mitologia grega h� diversos rituais envolvendo a comida, desde o casamento at� os momentos f�nebres. Cozinha � emo��o.”
Para o jornalista e redator Jo�o, filho de Renato, a fam�lia sempre prezou pela qualidade dos alimentos, sabor e momentos compartilhados. “A cozinha � o lugar da conversa em fam�lia, lugar de encontro, de ouvir e falar e celebrar, al�m de comer bem. � espa�o de afeto, carinho e, em algum momento, virou um hobby para mim, um grande prazer e paix�o.”
Foto de verduras
Pf�deri/Pixabay
Lugar de afeto
Jo�o destaca que a comida ou a culin�ria envolve hist�ria, cultura, mem�ria. “Voc� aprende a se conhecer, se conectar e apreciar n�o s� o alimento, mas os momentos em que se est� junto dos seus. Tenho v�rios pratos deliciosos e afetivos, mas a massa carbonara, um prato simples, barato e f�cil, me faz carregar boas lembran�as ao lado do meu pai. Fizemos v�rias vezes juntos. A cozinha � um lugar afetivo para n�s dois. Temos a companhia da minha m�e e irm�, que assumem mais o papel da degusta��o”, conta.
Na correria com a finaliza��o de um mestrado na Holanda, Alice conseguiu contar a rela��o da cozinha e do cozinhar com a fam�lia. “Na casa dos meus pais, a cozinha e a comida s�o coisas s�rias. Todos cozinham muito bem, principalmente meu pai. Qualquer coisa em que ele encosta, tem um gostinho especial. A fam�lia tem muito afeto e o cozinhar agrega mem�ria de inf�ncia, de acolhimento e aconchego. Para mim, morando na Holanda h� sete anos, mato a saudade quando meus pais e meu irm�o me visitam e, se est�o aqui, sempre opto por almo�ar em casa para poder aproveitar ao m�ximo os pratos do meu pai.”
Alice diz que os pratos que mais gosta da cozinha brasileira s�o feijoada, moqueca e o franguinho com quiabo. “� meu preferido. E tudo com gosto de casa, uma forma que me faz sentir no Brasil.” Para a mestranda, cozinhar para o outro � uma forma de cuidado. “Em casa, meu pai sempre cozinhou para a gente, com muito carinho. Lembro, desde crian�a, de pedir para ele me preparar uma torrada com queijo, cortada em quadradinhos. Ele fazia com o maior cuidado. E hoje, eu com 30 anos, continuo pedindo a torrada com queijo em quadradinhos.”
Ela revela que seu marido, Nout, tamb�m gosta de cozinhar e se arrisca ao lado do sogro chef. Enfim, Renato n�o s� cozinha e ensina, foi dono de restaurantes, empres�rio, se tornou um estudioso, um viajante de roteiros gastron�micos autorais, e escreve sobre o tema. Tem publicado o livro “A Invas�o dos Incas Venusianos – Receitas de Todos os Mundos”, com 150 receitas de autoria pr�pria, em 2013, estruturado em cap�tulos que expressam diferentes contextos e refer�ncias da gastronomia pelo mundo.
Cozinhar o pr�prio alimento, valorizar a comida de verdade, de forma equilibrada e saud�vel, n�o � s� um ato para ter energia e saciar a fome. Cozinhar � mais do que isso. � tamb�m cuidado com a sa�de emocional, � desafiador, estimula a criatividade e contribui com a forma��o e desenvolvimento de v�nculos com outras pessoas. Se voc� se inspirou, conhe�a mais hist�rias de vidas compartilhadas na cozinha.
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