pai segura bebê no colo

Desde 2021, a companhia que optar pelo programa Empresa Cidad� pode estender a licen�a maternidade para 180 dias, e a paternidade, para 20, com o abatimento dessa extens�o no imposto de renda

Candelario Gomez Lopez/Pixabay


S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Eu imaginei que tivesse que acordar sozinha � noite para amamentar, porque precisaria poup�-lo, j� que ele iria trabalhar no dia seguinte", diz a empres�ria Andreza Almeida Dyonisio, 37, se referindo ao marido, Felipe Rocha, 36, gerente de vendas e marketing da Rhodia Brasil. "Mas ele levanta junto comigo sempre que ela chora e parte das vezes ele d� a mamadeira, para que eu possa descansar um pouco", diz.

A pequena Cec�lia chegou ao mundo h� cerca de 20 dias, causando uma "revolu��o" n�o s� na vida da m�e, como � o costume entre os beb�s. A vida do pai tamb�m foi transformada, para al�m dos cinco tradicionais dias de licen�a remunerada previstos pela lei brasileira. A empresa de Rocha adota a licen�a paternidade estendida, que concede aos pais uma pausa remunerada de at� quatro meses para cuidados com o rec�m-nascido.

� isso que vai permitir com que Andreza, dona de uma loja de roupas, volte antes do previsto para o trabalho. "Desde que a gente decidiu ter um filho, eu sabia que o Felipe seria um pai presente, porque era o sonho dele", afirma. "Eu pensava, por�m, que o meu maternar fosse mais solit�rio, talvez com ajuda da minha m�e. Mas ele est� participando de tudo, vendo o desenvolvimento dela, dividindo os perrengues do dia e da noite, vivendo a paternidade por inteiro."

Enquanto a lei brasileira prev� que as mulheres tirem uma licen�a de 120 dias quando se tornam m�es, os homens que se tornam pais t�m cinco dias corridos. Desde 2021, a companhia que optar pelo programa Empresa Cidad� pode estender a licen�a maternidade para 180 dias, e a paternidade, para 20, com o abatimento dessa extens�o no imposto de renda.

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A prorroga��o do per�odo de licen�a maternidade (que passou a ser chamada de licen�a parental) pode ser dividida entre m�es e pais, desde que ambos trabalhem em companhias que participem do Empresa Cidad�.

S�o raras as empresas cidad�s  

Apesar do incentivo governamental, o n�mero de empresas cidad�s ainda � pouco significativo: cerca de 26 mil, segundo o levantamento mais recente da Receita Federal, de julho de 2022. Quase nada diante das 20,2 milh�es de empresas cadastradas no pa�s ao final do ano passado, de acordo com o Minist�rio da Economia.

Algumas filiais brasileiras de grandes multinacionais como Rhodia (controlada pelo grupo Solvay), Haleon (fabricante do anti�cido Eno), Sanofi (dona da marca Medley de medicamentos) e Corteva (produtora de sementes e defensivos) v�m investindo na licen�a parental remunerada estendida, bancando o benef�cio por conta. Elas seguem as premissas das respectivas matrizes, que consideram a licen�a remunerada para os pais uma ferramenta para promover a igualdade de g�nero.

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"� claro que as empresas precisam fazer com que a conta feche", diz Edna Bedani, professora da �rea de lideran�a e carreiras da ESPM e vice-presidente do conselho deliberativo da ABRH-SP (Associa��o Brasileira de Recursos Humanos de S�o Paulo). Segundo ela, � poss�vel que em alguns casos a remunera��o comece em 100%, e depois seja negociada a 90% ou 80% do sal�rio nos meses seguintes.

"Mas, em geral, essas companhias t�m consci�ncia de que o benef�cio contribui para aumentar a diversidade e a consequente riqueza de ideias, uma vez que mais gente de licen�a exige um rearranjo interno - e os lugares passam a ser ocupados por mulheres ou profissionais mais velhos, por exemplo", afirma. "De quebra, elas conquistam maior engajamento dos funcion�rios, aumentam a reten��o de talentos e melhoram a sua reputa��o na sociedade."

Mais mulheres em cargos de lideran�a 

Um levantamento realizado pelo centro de estudos americano Peterson Institute for International Economics aponta que a licen�a parental igualit�ria � capaz de aumentar a participa��o das mulheres em cargos de lideran�a.

De acordo com o estudo "Women scaling the corporate ladder: Progress steady but slow globally" (Mulheres subindo a escada corporativa: Progresso constante, mas lento globalmente), divulgado em 2020, ao ritmo atual de mudan�a, levaria mais de uma gera��o para as mulheres alcan�arem a paridade de g�nero -25 anos para mulheres na mesma propor��o de cargos de diretoria e 31 anos para a mesma propor��o de cargos executivos.

Mulheres CEOs, por�m, continuariam extremamente raras nos pr�ximos anos e s� chegariam perto da igualdade com homens em 2063.

 

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Segundo o levantamento, existem dois grandes fatores que levam a essa desigualdade. Em primeiro lugar est� a forma��o: as meninas precisam ser encorajadas a seguirem carreira em �reas como neg�cios, economia e contabilidade, para que possam atingir posi��es de lideran�a nas empresas e mesmo na vida p�blica.


Em segundo lugar, est� a diverg�ncia na carreira de homens e mulheres depois que chegam os filhos. O levantamento mostra que a licen�a de paternidade, ao lado de uma rede de apoio voltada aos cuidados infantis, � capaz de encurtar o per�odo em que as m�es deixam a for�a de trabalho e facilitam sua reinser��o no mercado. Com necessidade de uma pausa menor na carreira por parte delas, a licen�a paternidade contribui ainda para reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres.


"� o meu presente de Dia das M�es", brinca a fonoaudi�loga Ana Lu�za Ferraz, 35, casada com o gerente de marketing da Haleon no Brasil, Ot�vio Queiroz Ferraz, que est� tirando a licen�a remunerada de seis meses depois do nascimento de Pedro, h� dois meses. Os dois j� s�o pais de Rafael, 5.


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"Est� sendo uma experi�ncia muito diferente da primeira gravidez. O Ot�vio est� junto, pode dividir a responsabilidade da cria��o desde o comecinho. � incr�vel, especialmente pelo fato de ele poder participar mais das atividades do mais velho", diz ela, que, como profissional liberal, se sente mais � vontade para voltar a trabalhar assim que poss�vel. "A presen�a dele me ajuda muito, eu n�o me sinto t�o sobrecarregada nesses primeiros meses, quando a gente acorda demais."

Para Ot�vio Ferraz tamb�m est� sendo transformador. "Como gestor, eu n�o entendia muito bem certa inseguran�a das colaboradoras quando sa�am de licen�a maternidade, em rela��o a como seria a sua volta. Agora eu estou vivendo essa ansiedade, mas sei que eu volto melhor do que fui", diz ele.

J� Felipe Rocha fez quest�o de mudar sua identifica��o na rede de relacionamentos profissionais LinkedIn: agora a sua primeira e mais importante fun��o � ser "pai da Cec�lia". "A Cec�lia � a minha cliente de mais dif�cil negocia��o. Quando ela quer, � pra j�", diz ele, que se apavorou com o primeiro banho, se surpreendeu com a quantidade de solu�os e discutiu com a mulher sobre o melhor jeito de trocar as fraldas. "Mas tudo vale para garantir que este v�nculo seja eterno."

Homens come�aram a usar o tempo livre para cursar um MBA

Um relat�rio publicado em mar�o deste ano pela OCDE (Organiza��o para Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico), intitulado "Unindo for�as para a igualdade de g�nero: o que est� nos impedindo?", revela que muitos pa�ses membros do grupo melhoraram suas pol�ticas de licen�a remunerada para pais nos �ltimos anos -embora o �nico que tenha igualado o benef�cio para homens e mulheres tenha sido a Espanha. 

Em alguns, como a Dinamarca, a experi�ncia n�o foi t�o inspiradora: os homens come�aram a usar o tempo livre para cursar um MBA.