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Nutri��o, o manejo do estresse, os relacionamentos saud�veis, as subst�ncias n�o-t�xicas, a atividade f�sica e o sono de qualidade est�o entre os pilares da especialidade

Adonyig/pixabay

Iniciada em 2004 na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, uma nova especialidade m�dica vem ganhando espa�o entre os brasileiros: a medicina do estilo de vida (MEV), uma abordagem que considera a sa�de uma condi��o diretamente relacionada aos costumes do paciente.

Os adeptos acreditam que as doen�as surgem quando suas pr�ticas v�o contra as necessidades do corpo, e buscam reverter esse quadro. A metodologia adota interven��es terap�uticas, relacionadas ao cotidiano, para tratar e prevenir enfermidades diversas. Em resumo, a MEV prega o bem-estar a partir de comportamentos saud�veis.

Para al�m do diagn�stico e do tratamento, os m�dicos atuam mais ou menos como os famosos “coaches” ou no portugu�s, treinadores, onde oferecem uma consultoria especializada – pautada por dados e estudos comprovados – para ajudar o paciente a adotar atitudes que colaborem para a harmonia do funcionamento do organismo.

O movimento surgiu da busca por um sistema de sa�de diferenciado e sustent�vel, mas ancorado em estudos cient�ficos e evid�ncias. Tamb�m em 2004, foi fundado o American College of Lifestyle Medicine (ACLM), primeira sociedade especializada em MEV do mundo, que atualmente conta com mais de 6 mil membros.
 
Por aqui, o Col�gio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV) foi criado em 2018. Os integrantes procuram promover e desenvolver de forma oficial a MEV no Brasil, para prevenir, tratar e reverter doen�as cr�nicas n�o transmiss�veis. “Esse processo vai al�m de uma simples orienta��o ou prescri��o.

Utiliza-se t�cnicas motivacionais para abordar sistematicamente os seis pilares fundamentais da sa�de (manejo do estresse, subst�ncias t�xicas, relacionamentos saud�veis, nutri��o, atividade f�sica e sono), desenvolvendo uma rela��o de parceria entre m�dico e paciente, juntamente ao apoio da fam�lia, de uma equipe interdisciplinar e da comunidade com o objetivo de transformar positivamente o estilo de vida e a sa�de. O paciente se torna cada vez mais informado e ativo no processo de transforma��o da sua sa�de”, explica a institui��o.

Nesse cen�rio de busca por uma medicina ampla, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estudantes formaram a Liga Acad�mica da Medicina do Estilo de Vida (LAMEV), em 2021. O coletivo surgiu atrav�s da experi�ncia de um projeto de extens�o na cidade de Catas Altas, na Regi�o Central do estado, onde os universit�rios auxiliavam no controle de diabetes e hipertens�o atrav�s da melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Hoje, a LAMEV conta com 26 alunos e dezenas de interessados em participar.
 
 
Fora da academia, a MEV tamb�m se expande por Minas, principalmente na capital. Um exemplo � a Tr�ade Rosa, voltada para o p�blico feminino. A iniciativa nasceu da vis�o de Zil� Abdala – cl�nica m�dica –, N�rcia Vila�a – ginecologista e obstetra – e Katia Pegos – psiquiatra –, tr�s m�dicas que estudaram na Faculdade de Medicina da UFMG e, ao longo das carreiras, buscaram conduzir os pacientes na dire��o de seu maior bem-estar, al�m realizar o tratamento de doen�as.

“Nosso prop�sito � ajudar um maior n�mero de mulheres a ter informa��es de qualidade, baseadas no que h� de mais avan�ado no conhecimento cient�fico atual, de maneira acess�vel e de f�cil compreens�o, compartilhando nossa experi�ncia”, informa a idealizadora Zil�.

Clínica Zila Abdala (E), psiquiatra Kátia Pegos (C) e a ginecologista e obstetra Nárcia Vilaça

Cl�nica Zila Abdala (E), psiquiatra K�tia Pegos (C) e a ginecologista e obstetra N�rcia Vila�a. Elas se uniram no projeto Tr�ade Rosa para falar sobre sa�de feminina e expandir a medicina do estilo de vida

Tr�ade Rosa/Divulga��o

Inspira��o 

Em 2020, com a pandemia de COVID-19, a a��o da Tr�ade Rosa ganhou for�a. A conta do Instagram, que hoje possui mais de 14 mil seguidores, foi divulgada atrav�s de um grupo de pacientes no WhatsApp e passou a ganhar simpatizantes. “Come�amos a perceber qual era o maior interesse do nosso p�blico, se eram posts no feed, lives, stories”, conta K�tia. O trio, em setembro de 2022, lan�ou o livro “Uma jornada de vida melhor: medicina de estilo de vida e a sa�de da mulher”, dispon�vel na Amazon. “Sempre foi um sonho lan�ar um livro impresso, mas hoje em dia, as pessoas procuram muito mais vers�es digitais. Ent�o, n�o faria sentido”, declara N�rcia.

A Tr�ade Rosa est� conseguindo inspirar cada vez mais pessoas. “Acompanhei de perto a estrutura��o do trabalho online delas e s� de acompanhar o conte�do consegui fazer grandes mudan�as na minha vida. Eu j� tinha entrado na menopausa e conhecer essa possibilidade trouxe um novo olhar sobre essa fase. Mudei a minha postura e passei a cuidar do meu corpo e da minha cabe�a”, revela a consultora laboratorial Maria Helena Savino, de 55 anos.

J� Marisa Messeder, de 63, deu a largada em sonhos antigos ap�s acompanhar a Tr�ade Rosa. “Comecei a recitar poesias infantis no Instagram, depois fui para o YouTube. Tive muitas visualiza��es e recebi sugest�es de poesias, que tamb�m recitei. A Zil� foi quem mais me motivou”, revela. Al�m dos v�deos, a servidora p�blica federal tamb�m lan�ou um livro infantil, “Rami, um amigo de dentro da terra”, onde os personagens principais s�o seus netos Enrico, de 10, e Giulia, de 6. Marisa conta que o projeto ajudou a se aproximar dos netos, que moram em S�o Paulo. A servidora vai ampliar a edi��o da obra, que ter� ilustra��es da Giulia.

Muito mais do que n�o estar doente

Zil� Abdala, N�rcia Vila�a e Katia Pegos refor�am que a Tr�ade Rosa n�o � como outras contas de medicina no Instagram, porque n�o busca atrair pacientes para o consult�rio privado de cada uma, mas, sim, ser uma ajuda a mais no dia a dia das seguidoras. Nesses tr�s anos, o projeto j� realizou eventos, caminhadas, cursos e workshops online. No perfil @triaderosa s�o feitas lives semanais.

“Temos o sonho de alcan�ar cada vez mais mulheres, talvez com palestras pelo Brasil”, afirma N�rcia. “Nosso primeiro objetivo [de ter muitos seguidores] j� foi alcan�ado, mas ainda estamos no in�cio. Estamos descobrindo e sendo descobertas”, explica K�tia.

Apesar de ter o foco na sa�de da mulher, as m�dicas destacam que o Instagram � aberto para todo tipo de p�blico. “Como temos uma experi�ncia grande de vida e 35 anos na medicina, a gente conhece muita gente. Profissionais m�dicos e de diversas �reas nos apoiam e frequentemente s�o convidados para falar nas lives. J� tivemos nutricionista, preparador f�sico, personal organizer e outros. Ent�o, assim, a gente est� agregando com essa vis�o bem ampla de que a sa�de � muito mais do que n�o estar doente, voc� precisa estar bem com voc� mesmo”, avalia N�rcia.

Segundo o trio, as conversas v�m chamando a aten��o de profissionais da sa�de motivados a conhecer mais sobre a medicina do estilo de vida (MEV). “A Tr�ade Rosa est� sendo uma refer�ncia, n�? Recentemente, recebemos um convite muito bom e participamos de uma aula especial de p�s-gradua��o para falarmos com os profissionais da �rea da sa�de, passar essa experi�ncia que a gente tem. Muitos alunos, inclusive, quiseram tirar d�vidas sobre como abordar melhor a quest�o da sa�de feminina. Ent�o, estamos conseguindo trazer uma vis�o diferente, de um olhar realmente diferenciado de como essa mulher deve ser acolhida e atendida pelas unidades de sa�de”, comemora Zil�.

capa do livro  'Uma jornada de vida melhor: medicina de estilo de vida e a saúde da mulher'

capa do livro "Uma jornada de vida melhor: medicina de estilo de vida e a sa�de da mulher"


Evite confus�o

>> O conceito de medicina do estilo de vida (MEV) pode gerar confus�o. Embora certas pr�ticas e especialidades se cruzem e algumas ideologias e objetivos sejam compartilhados, no contexto geral, elas s�o definidas como diferentes.

>> A medicina preventiva atua com foco em proteger, promover e manter a sa�de e o bem-estar das pessoas e popula��es, prevenindo a doen�a, incapacidade e morte. Seu foco n�o est� em tratar doen�as, mas em prevenir que elas se manifestem.

>> J� a medicina funcional foca em garantir que os principais processos do organismo (metabolismo, digest�o, respira��o) funcionem corretamente. A pr�tica d� aten��o integral ao paciente, e sempre prefere adotar interven��es n�o farmacol�gicas nos tratamentos.

>> A medicina alternativa aposta no tratamento de doen�as atrav�s da utiliza��o de pr�ticas diferenciadas, geralmente sem o uso de medicamentos Homeopatia, acupuntura e quiropraxia s�o algumas das mais populares.

>> Outra pr�tica que pode ser confundida com a MEV � a medicina integrativa, que coloca o paciente em um papel menos passivo em seu tratamento: ele passa a auxiliar ativamente o m�dico na manuten��o da pr�pria sa�de.

>> A pr�tica vem se popularizando por todo o mundo, sendo um dos campos da medicina que mais cresce. Entretanto, ainda n�o � reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), apesar de estar em processo no �rg�o regulamentador, o que a coloca com o car�ter de movimento. Nos Estados Unidos, pa�s de origem da pr�tica, ela j� � reconhecida h� mais de uma d�cada. No site do Col�gio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida (CBMEV) – endere�o www.cbmev.com.br – � poss�vel garantir a participa��o em workshops especializados no assunto.

* Estagi�ria sob a supervis�o da editora Crislaine Neves