Homem com expressão de surpresa, usando óculos tortos e com xícara na mão

Quem disse que sempre podemos aprender com os nossos erros?

Getty Images

� errando que se aprende. Pelo menos, a maioria de n�s j� ouviu isso. Mas a ci�ncia mostra que, muitas vezes, deixamos de aprender com os erros do passado. E, em vez disso, costumamos repetir os mesmos erros.


O que quero dizer com erros aqui?


Acho que todos n�s concordamos que aprendemos rapidamente que, se colocarmos a m�o em um fog�o quente, nos queimamos. E, por isso, provavelmente n�o iremos repetir este erro.


Isso acontece porque o nosso c�rebro cria uma resposta � amea�a de est�mulos fisicamente dolorosos com base em experi�ncias pr�vias.


Mas, quando a quest�o � o pensamento, os padr�es de comportamento e a tomada de decis�es, n�s repetimos nossos erros com frequ�ncia - como ocorre quando chegamos atrasados para os nossos compromissos, deixamos tarefas para a �ltima hora ou julgamos as pessoas com base na primeira impress�o.


O motivo pode estar na forma em que o nosso c�rebro processa as informa��es e cria os modelos que consultamos repetidamente. Esses modelos s�o, essencialmente, atalhos que nos ajudam a tomar decis�es no mundo real.


Mas esses atalhos mentais, chamados de heur�sticas, tamb�m podem nos ajudar a repetir os nossos erros.


No meu livro Sway: Unravelling Unconscious Bias ("Oscila��es: desvendando o vi�s inconsciente", em tradu��o livre), comento que os seres humanos n�o s�o naturalmente racionais, como n�s gostar�amos de acreditar. A sobrecarga de informa��es � confusa e cansativa; por isso, n�s filtramos o ru�do.

Leia tamb�m: Livro ensina a falar 'n�o' quando � necess�rio


N�s observamos apenas partes do mundo. Temos a tend�ncia de observar o que � repetitivo, haja ou n�o algum padr�o, e costumamos preservar a mem�ria generalizando e recorrendo � tipifica��o.


N�s tamb�m tiramos conclus�es a partir de dados esparsos e usamos atalhos cognitivos para criar uma vers�o da realidade na qual queremos implicitamente acreditar. Isso cria um fluxo reduzido de recebimento de informa��es, o que nos ajuda a ligar os pontos e preencher as lacunas com aquilo que j� conhecemos.


Ilustração de cérebro repousado em uma rede

O nosso c�rebro � pregui�oso - � preciso um grande esfor�o cognitivo para mudar os roteiros e atalhos que criamos na nossa mente

Getty Images

E, por fim, o nosso c�rebro � pregui�oso. � preciso muito esfor�o cognitivo para mudar os roteiros e atalhos que j� constru�mos.


Por tudo isso, somos mais propensos a cair sempre nos mesmos padr�es de a��o e comportamento, mesmo quando sabemos que estamos repetindo nossos erros.


Este comportamento � chamado de vi�s de confirma��o - nossa tend�ncia de confirmar aquilo em que j� acreditamos, em vez de alterar nossa mentalidade para incorporar novas ideias e informa��es.


Tamb�m fazemos uso com frequ�ncia dos instintos - uma esp�cie autom�tica e subconsciente de pensamento, baseada no ac�mulo de experi�ncias passadas - para tomar decis�es e fazer julgamentos em situa��es novas.


�s vezes, n�s insistimos em certos padr�es de comportamento e repetimos nossos erros devido a um "efeito do ego" que nos induz a manter nossas cren�as pr�-existentes. Temos a tend�ncia de escolher seletivamente as estruturas de informa��o e feedback que nos ajudem a proteger nosso ego.


Um estudo mostrou que, quando as pessoas s�o relembradas dos sucessos do passado, elas costumam repetir mais esses comportamentos bem-sucedidos. Mas, quando elas est�o cientes ou s�o ativamente relembradas dos seus fracassos, a probabilidade de alterar o padr�o de comportamento que gerou aquela frustra��o � menor.


Ou seja, as pessoas, na verdade, costumam repetir os mesmos comportamentos.


Isso acontece porque, quando pensamos nos nossos fracassos do passado, provavelmente ficamos tristes. E, nesses momentos, somos mais dispostos a perdoar aquele comportamento que nos � confort�vel e familiar.


Mesmo quando pensamos de forma lenta e cuidadosa, o nosso c�rebro tem um vi�s voltado para as informa��es e modelos que hav�amos usado no passado, mesmo que eles tenham resultado em erros. Este � o chamado vi�s da familiaridade.


Mulher abraçada a notebook como se tivesse se escondendo atrás dele

Muitas pessoas se sentem mal quando cometem erros e tratam de escond�-los das outras pessoas

Getty Images

Mas tamb�m � poss�vel aprender com nossos erros. Em outro experimento, por exemplo, macacos e seres humanos precisaram assistir a pontos barulhentos que se moviam sobre uma tela e analisar sua dire��o final de movimento.


Os pesquisadores conclu�ram que as duas esp�cies reduziam a velocidade depois de um erro. E, quanto maior o erro, maior seria a desacelera��o posterior ao erro, o que demonstra que mais informa��es estavam sendo acumuladas.


Mas a qualidade dessa informa��o era baixa. Nossos atalhos cognitivos podem nos for�ar a descartar qualquer informa��o nova que possa nos ajudar a evitar a repeti��o dos erros.


E, de fato, quando cometemos erros na realiza��o de uma determinada tarefa, o "vi�s da frequ�ncia" nos torna propensos a repeti-los, sempre que fizermos a mesma tarefa outra vez.


Resumidamente, o nosso c�rebro come�a a considerar que os erros que cometemos anteriormente s�o a forma correta de realizar uma tarefa, criando o "caminho do erro" habitual.


Por isso, quanto mais repetirmos as mesmas tarefas, maior ser� a nossa chance de percorrer o caminho que levou ao erro, at� que ele fique profundamente enraizado e se torne um conjunto de atalhos cognitivos permanentes no nosso c�rebro.

Controle cognitivo

O panorama parece desanimador. Mas ser� que h� algo que podemos fazer?


N�s temos uma habilidade mental que pode se sobrepor �s heur�sticas, conhecida como "controle cognitivo". E h� estudos neurocient�ficos recentes com camundongos que est�o nos dando uma ideia melhor de que partes do c�rebro est�o envolvidas nessa habilidade.


Mulher sorrindo após cair de skate

Aceite seus erros e reserve um tempo para analis�-los, recomendam os cientistas

Getty Images

Os pesquisadores tamb�m identificaram duas regi�es do c�rebro que abrigam "neur�nios monitoradores dos pr�prios erros" - c�lulas cerebrais que monitoram erros. Estas �reas est�o no c�rtex frontal e, aparentemente, s�o parte de uma sequ�ncia de etapas de processamento, que inclui desde retomar a concentra��o at� aprender com nossos erros.


Os pesquisadores est�o estudando se uma melhor compreens�o deste mecanismo pode ajudar a desenvolver melhores tratamentos para pacientes com Alzheimer, j� que a preserva��o do controle cognitivo � fundamental para o bem-estar na idade avan�ada.


Mas, mesmo se n�o tivermos a compreens�o exata dos processos cerebrais envolvidos no controle cognitivo e na autocorre��o, h� medidas mais simples que podemos tomar. Uma delas � nos sentirmos mais confort�veis quando cometermos erros.


Talvez imaginemos que esta seja uma atitude errada em rela��o aos fracassos - mas, na verdade, � um caminho mais positivo para o progresso.


Nossa sociedade rejeita as falhas e os erros e, por isso, costumamos sentir vergonha dos nossos erros e tentamos escond�-los.


Quanto mais culpa e vergonha n�s sentirmos e quanto mais tentarmos esconder os nossos erros dos outros, maior a nossa probabilidade de repeti-los. E, quando n�o nos sentimos t�o desapontados com n�s mesmos, maior a chance de absorvermos novas informa��es que podem nos ajudar a corrigir os nossos erros.


Tamb�m pode ser uma boa ideia fazer um intervalo na realiza��o de uma tarefa que queremos aprender a fazer melhor.


Reconhecer as nossas falhas e fazer uma pausa para analis�-las pode nos ajudar a reduzir o vi�s de frequ�ncia, nos tornando menos propensos a repetir nossos erros e a refor�ar os caminhos que nos levam a eles.


* Pragya Agarwal � professora de desigualdade e justi�a social da Universidade de Loughborough, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de not�cias acad�micas The Conversation e republicado sob licen�a Creative Commons. Leia aqui a vers�o original em ingl�s.