Casal olhando o por-do-sol

Casal olhando o por-do-sol

StockSnap/Pixabay

 

S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A estilista Dominique Jacon, 28, estava saindo h� um ano com a mesma pessoa, mas n�o sabia exatamente o que era aquela rela��o - n�o era namoro, n�o era amizade. Eles falavam "eu te amo" um ao outro, mas apresentar para a fam�lia estava fora de quest�o.

 

Quando indagava ao parceiro o que tinham, ele dizia para deixarem rolar. Em alguns momentos, a rela��o era monog�mica. Em outros, era aberta.

 

Ela queria um r�tulo e uma amiga explicou que ela estava em uma "situationship". O termo � uma brincadeira com as palavras em ingl�s "relationship" (relacionamento) e "situation" (situa��o), e indica algu�m que poderia ser classificado como um "ficante premium" ou um "rolo oficial".

 

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O casal acabou terminando, mas Jacon diz que o caso foi importante para ela entender o que gosta e o que n�o curte mais em um relacionamento. Hoje, busca um namorado em uma rela��o monog�mica.

 

Assim como as "situationships", termos como rela��es abertas e n�o monog�micas t�m ficado cada vez mais comuns. A estilista afirma que cresceu o n�mero de amigos pr�ximos que est�o em rela��es n�o monog�micas, se d�o bem e s�o felizes. Mas, para ela, o formato n�o funcionou.

 

 

 

Diferentes formatos de relacionamentos aparecem cada vez com mais frequ�ncia, mas n�o � poss�vel dizer que os millennials (nascidos entre in�cio dos anos 1980 e meados da d�cada seguinte) foram os ï¿½ltimos rom�nticos.

 

Um relat�rio divulgado em mar�o pelo Tinder aponta que a gera��o Z (nascida entre o final dos anos 1990 e 2010) n�o descarta relacionamentos amorosos, mas prefere defini-los de forma diferente dos mais velhos.

 

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Segundo o levantamento, a maioria das pessoas entre 18 e 25 anos busca companheirismo, amizade ou encontros sem compromisso no aplicativo. Ao mesmo tempo, 64% desse grupo dizem gostar da satisfa��o emocional que um relacionamento proporciona.

 

Mesmo em rela��es casuais, a busca n�o � apenas pelo sexo em si, aponta o relat�rio. Os jovens admitem que querem criar v�nculos e passar um momento �ntimo e carinhoso com algu�m novo --mas isso acontece porque gostam de conhecer pessoas diferentes (63% da faixa et�ria de 18 a 25 anos disseram isso) e de fazer novas conex�es (61%), n�o porque querem se casar.

 

H� uma diferen�a geracional. Na gera��o Z, h� maiores chances de a rela��o ter in�cio como amizade e ter um desfecho mais amplo, n�o necessariamente rom�ntico. J� entre os millennials, a tend�ncia � de associar algum tipo de inten��o rom�ntica aos relacionamentos casuais.

Por isso, � na gera��o mais nova que � mais comum o uso de termos como "lance", "amizade colorida", "ficante s�rio", "contatinho", e, � claro, "ficante sem compromisso".

Jairo Bouer, psiquiatra e especialista em sexualidade, nota que n�o � como se o ideal rom�ntico tivesse sido perdido entre os mais jovens. Para ele, a ideia de encontrar algu�m segue presente, mas com formatos de relacionamento mais variados.

O m�dico ouve com frequ�ncia cen�rios como: "eu amo meu amigo, transo com meus amigos, estamos em uma rela��o, mas posso estar em outra ao mesmo tempo".

"H� uma gama maior de op��es e eles est�o menos preocupados em fechar essa hist�ria t�o cedo", diz.

Agora, com tantos termos hoje para relacionamentos abertos, sem r�tulos e sem compromisso, precisa de mais um? Bouer admite que n�o v� uma diferen�a clara entre um ficante e algu�m que est� em uma situationship, mas talvez o termo esteja ligado com a necessidade geracional de atualizar comportamentos que j� existiam para as outras faixas et�rias.

Marcada pela superexposi��o �s telas e por realizar sexo com menos frequ�ncia, a gera��o Z foi uma das mais impactadas pela pandemia da Covid-19, com interrup��o de intera��es sociais.

"Eles se enchem muito facilmente, h� uma toler�ncia baix�ssima � frustra��o. Qualquer inc�modo, eles caem fora. Isso vai na contram�o de um relacionamento em que voc� tem que negociar, ceder, discutir limites o tempo todo", diz ele.

Mayumi Sato, s�cia da rede social Sexlog e apresentadora do podcast Vida N�o Mono, considera que essas rela��es mais flu�das s�o um reflexo da realidade atual.

"N�o temos mais rela��es profundas nem quando falamos de trabalho. As pessoas n�o pretendem mais trabalhar por 20 ou 30 anos no mesmo lugar", exemplifica ela. "N�o d� para cobrar uma profundidade de pessoas que est�o vivendo de uma forma talvez mais flu�da em outras esferas da vida."

Apesar de a tend�ncia ser mais latente na gera��o Z, n�o � restrita a eles. A influenciadora Ana Aguiar, 32, conhecida nas redes sociais como Ana Cilada, come�ou a repensar as rela��es h� tr�s anos, quando terminou de vez um relacionamento de idas e vindas.

De l� para c�, come�ou a contar dos causos nas redes sociais e angariar seguidores. "Eu tinha certo desejo de casar e constituir fam�lia. N�o � como se isso n�o existisse hoje, mas � por um outro ponto de vista", diz ela.

Em 2020, come�ou a namorar. Em meio � pandemia, mantinha o relacionamento monog�mico e tradicional. No ano seguinte, eles terminaram. Ficaram poucos meses separados e retomaram.

Durante quase dois anos, viveram em um situationship e h� cerca de um m�s reataram o relacionamento. Agora, est� aberto, mas h� regras. Quando saem e sentem vontade de ficar com algu�m, est� liberado. Mas nada de trocar contato ou deixar de estar com o outro porque marcou um encontro.

"Esse � o limite que a gente entendeu que est� disposto a construir", diz. Para ela, � preciso desmistificar a ideia de que pessoas em uma rela��o n�o monog�mica est�o sempre ficando com outras. "Dentro desse processo vai ter momentos em que voc� e o seu companheiro v�o estar mais abertos a essas flexibilidades ou pode ter momentos tamb�m que entendam como a gente est� soltando, mas � um pouquinho."

Mayumi, do Sexlog, diz que as terminologias para diferentes rela��es ganharam novas roupagens, mas sempre existiram, embora menos frequentes. "� natural que as novas gera��es testem coisas. Nem tudo vai prosperar e nem se estabelecer", diz.

Por�m, apesar das novidades em rela��o aos formatos de relacionamentos, ela adverte que h� beleza no piegas e que as pessoas n�o deveriam deixar de celebrar suas rela��es. "Voc� pode estar s� ficando, com amigo colorido, rela��o poliamorosa, sou a favor de celebrar. Eu gostaria que as pessoas s� n�o se sentissem mal de serem piegas."