Céu

C�u

Gerd Altmann/Pixabay

A funcion�ria p�blica municipal Cynthia Andr�ia Ant�o Pires, de 45 anos, sempre manteve em dia seus exames preventivos e, desde os 40, fazia regularmente mamografia e ultrassom. Em 2019, n�o foi diferente e os exames n�o apresentaram nenhuma altera��o.

Em fevereiro de 2020, ela percebeu, durante o banho, um pequeno caro�o em seu seio esquerdo. “Achei estranho e conversei com duas colegas enfermeiras para saber se seria o caso de procurar uma mastologista, j� que os exames recentes n�o tinham mostrado altera��es e ambas recomendaram investigar. Assim fiz.”

Quando iniciou esse processo, passou pela cabe�a dela que poderia ser um c�ncer e, ao se despedir da mastologista com os pedidos de exames em m�os, ela se lembra de ter dito: “Independentemente do que for, vai dar tudo certo! E assim foi!”.  
 
 
Em abril, o resultado do histopatol�gico apontou um carcinoma invasivo tipo 3. Ela estava no trabalho quando abriu o resultado e no primeiro impacto o que sentiu foi medo e susto. Em seguida, ao compartilhar com suas amigas do trabalho a not�cia, chorou por alguns minutos. “Fui acolhida e, daquele momento em diante, conectei-me com minha cren�a mais profunda de ser amada por Deus e de ter minha vida toda posta em suas m�os. Mesmo sem saber o que eu viveria dali em diante, descansei meu cora��o na certeza de que estava tudo certo e de que eu viveria a experi�ncia do c�ncer da melhor forma poss�vel, uma vez que sou cuidada por um Deus amoroso e que pensa nos detalhes.

Ela, neste per�odo, pensava em fazer o seu melhor, primeiro por ela mesma e depois por aqueles a quem ama: filho, m�e, fam�lia e amigos que estavam naquele momento passando juntos com Cynthia pela loucura de uma pandemia, que impunha a todos o isolamento e toda a sorte de incertezas. 
 
“Durante um ano e meio de tratamento, a f� me manteve em permanente estado de descanso. Experimentei a profundidade e a beleza de viver um dia de cada vez, li��o que vale para qualquer pessoa em qualquer situa��o, porque o momento mais incr�vel da nossa vida � o agora. A cada medicamento que eu recebia, mentalizava que estava recebendo um elixir de cura e cada profissional de sa�de eu enxergava como um anjo.” Nesse per�odo, ela buscou aprender coisas novas e permitiu-se descansar.

Cynthia Andréia Antão Pires, funcionária pública

Cynthia Andr�ia Ant�o Pires, funcion�ria p�blica

T�lio Santos/EM/D.A Press

"A cada medicamento que eu recebia, mentalizava que estava recebendo um elixir de cura e cada profissional de sa�de eu enxergava como um anjo"

Cynthia Andr�ia Ant�o Pires, funcion�ria p�blica


RISADAS 

Nas sess�es de quimioterapia, quando ia acompanhada por uma amiga, dava, com ela, muitas risadas. “Fui grata, muito grata por poder estar em casa com meu filho durante meu tratamento devido � nova rotina de aulas remotas que a pandemia nos submeteu”, conta. Foi grata pelo tr�nsito tranquilo, pela facilidade em agendar consultas devido � pandemia. Um paradoxo incompreens�vel para ela: ser grata por ter descoberto um c�ncer durante a pandemia.

“Foi muito triste ver tantas pessoas morrendo nesse per�odo. Mas eu nunca temi a morte. N�o tenho medo da morte. O c�ncer me revelou que pior do que temer a morte � n�o fazer boas escolhas na vida, mantendo situa��es adoecedoras, que tiram diariamente a alegria e esperan�a. Estar morta em vida � a verdadeira trag�dia.”

E nesse processo profundo de refletir sobre tudo isso, ela foi renascendo aos poucos ao longo do tratamento. Hoje, Cynthia  tem uma vis�o completamente renovada sobre essa mesma f� que a sustentou ao longo desse per�odo. Fez muitas mudan�as, novas escolhas e continuou vivendo um dia de cada vez, tentando fazer de cada um deles a melhor experi�ncia para ela e, se poss�vel, para quem a cerca tamb�m. “Sigo curada, s� por hoje, com muita f� em Deus, f� no amor e f� na vida.”

Fernanda Fusco, psicóloga

Fernanda Fusco, psic�loga

Jair Amaral/EM/D.A Press

"A religiosidade e a espiritualidade s�o assuntos sempre presentes no cotidiano das pessoas e s�o muito relevantes para o equil�brio de suas fun��es ps�quicas"

Fernanda Fusco, psic�loga


EXIST�NCIA 

Segundo a psic�loga Fernanda Fusco, especializada em educa��o parental,  a psicologia se pronuncia sobre a f� com o olhar sobre aquilo que motiva a vida de uma pessoa ou o que d� significado � sua exist�ncia. “De acordo com as experi�ncias que tenho observado nos atendimentos cl�nicos, a religiosidade e a espiritualidade s�o assuntos sempre presentes no cotidiano das pessoas e s�o muito relevantes para o equil�brio de suas fun��es ps�quicas”, diz. 

“A OMS (2002) aponta os conceitos que envolvem a sa�de mental como bem-estar subjetivo, autoefic�cia percebida, autonomia, compet�ncia e autorrealiza��o de potencial emocional e intelectual, tal como aspectos vinculados � qualidade de vida, � capacidade de amar, de trabalhar e de se relacionar com o outro. Podemos colocar a f� como o pilar central desses conceitos, pois, embora ela n�o seja verific�vel empiricamente, h� in�meros artigos cient�ficos que apontam a f� como uma ferramenta terap�utica complementar, que impulsiona a pessoa a buscar o significado e o sentido da vida, o que por consequ�ncia ajuda na sa�de ou no tratamento de sa�de que o indiv�duo est� passando.”
 

Fernanda ressalta que existem artigos cient�ficos cujos relatos se baseiam na percep��o de que as pessoas com mais f� evoluem melhor quanto aos sintomas cl�nicos. “A f� � a pressuposi��o de uma certeza que n�o sabemos necessariamente o que �, mas que constataremos posteriormente. Baseada nessas afirma��es e na leitura de v�rios autores como Freud, Winnicott e Dalgalarondo, por exemplo, ela � um rico campo de estudos para os processos psicol�gicos, cuja percep��o � notada na cl�nica quando h� redu��o da ansiedade ou da culpa, mesmo na mudan�a de posturas dos pacientes frente a algum desafio em suas vidas ou nas vari�veis motivacionais.