Segundo a equipe, a variante antecipa em quase quatro anos a necessidade de um paciente precisar de aux�lio para caminhar
Na esclerose m�ltipla (EM), o sistema imunol�gico ataca erroneamente o c�rebro e a medula espinhal — um processo de degenera��o que pode levar � perda de mobilidade e de independ�ncia. Com o objetivo de compreender melhor por que essa doen�a autoimune se agrava mais em alguns pacientes, um grupo internacional de pesquisadores chegou a uma descoberta significativa: eles identificaram a primeira variante gen�tica associada a uma progress�o mais r�pida da EM. Essa novidade, publicada, nesta quarta-feira (28/06), na revista Nature, representa um marco importante no conhecimento e no combate � doen�a, dizem especialistas.
O grupo investigou 7 milh�es de variantes gen�ticas e identificou uma que est� associada ao avan�o mais r�pido da doen�a. Essa variante est� entre dois genes, DYSF e ZNF638. O primeiro tem liga��o com o processo de infec��o de c�lulas imunes, enquanto o outro desempenha um papel no controle de sobreviv�ncia viral. A proximidade da variante gen�tica sugere que eles podem estar envolvidos na progress�o da doen�a.
"Esses genes s�o, normalmente, ativos no c�rebro e na medula espinhal, e n�o no sistema imunol�gico", afirma, em nota, Adil Harroud, principal autor do estudo. "Nossas descobertas sugerem que a resili�ncia e o reparo no sistema nervoso determinam o curso do desenvolvimento da EM e que devemos nos concentrar nessas partes da biologia humana para melhores terapias."
Conforme Sergio Baranzini, da Universidade da Calif�rnia e coautor s�nior do estudo, herdar essa variante — tanto do pai quanto da m�e — acelera em quase quatro anos a necessidade de aux�lio para caminhar. "Achamos que a descoberta pode ser usada para identificar indiv�duos em risco de progress�o mais r�pida e, assim, iniciar o tratamento mais cedo", cogita.
O cientista tamb�m avalia que a pesquisa poder� acelerar a produ��o de novos medicamentos para a doen�a. "Ter informa��o gen�tica reduz significativamente os riscos no desenvolvimento de drogas. Essa descoberta definir� uma s�rie de abordagens que visar�o cuidar do avan�o da EM. A gen�tica relacionada � gravidade da doen�a sugere que o sistema nervoso central deve ser o alvo dessa nova classe terap�utica", explica.
Progn�stico
Aline Leite, neurologista do Instituto de Neurologia de Goi�nia, conta que alguns marcadores gen�ticos foram, anteriormente, associados � doen�a, mas n�o havia ainda essa rela��o com a progress�o da EM. "Tem paciente que, com 10 anos de esclerose m�ltipla, n�o tem incapacidade, j� outros que, no mesmo tempo, passam a sofrer com essa quest�o. Ent�o, esses fatores gen�ticos est�o sendo associados n�o s� com a origem da patologia, mas tamb�m com o progn�stico e a gravidade."
Priscilla Mara Proveti, neurologista do Hospital Anchieta em Bras�lia, acredita que o trabalho poder� contribuir para o melhoramento das abordagens em pacientes com EM. "Evolu�mos muito na parte de tratamento da inflama��o em raz�o da doen�a, conseguimos criar terapias que controlam melhor o processo inflamat�rio. Ainda existe outra quest�o que est� um pouco encoberta, a degenera��o. E esse tipo de estudo abre uma porta para realmente avaliar e conseguir tratar esse aspecto da doen�a."
Segundo os autores, mais trabalhos s�o necess�rios para determinar como essa variante gen�tica afeta os dois genes, DYSF e ZNF638, e o sistema nervoso em geral.
A equipe tamb�m est� coletando um conjunto ainda maior de amostras de DNA de pessoas diagnosticadas com EM, na esperan�a de encontrar outras variantes que contribuam para os quadros de incapacidade. "Estamos entusiasmados em descobrir mais variantes gen�ticas que podem ajudar a desenvolver tratamentos mais eficazes", diz Baranzini.
O estudo da gen�tica da esclerose m�ltipla tem sido relevante na Universidade de Cambridge desde o fim dos anos 1980. Membros do Departamento de Neuroci�ncias Cl�nicas estiveram intimamente envolvidos na descoberta da grande maioria das variantes gen�ticas que aumentam a suscetibilidade � doen�a. "Mais uma vez, o trabalho (atual) ilustra os benef�cios da colabora��o internacional para o avan�o da compreens�o dos mecanismos da doen�a na esclerose m�ltipla e outras condi��es m�dicas", afirma Alastair Compston, professor de neurologia da institui��o brit�nica e integrante do grupo de pesquisadores.
Palavra de especialista: marcadores cruciais
Marcadores de doen�a sempre foram amplamente pesquisados. Eles que v�o, primeiro, determinar o diagn�stico e, depois, colaborar com o que a gente chama de progn�stico. Eles nos ajudam a identificar aqueles pacientes que podem apresentar uma maneira mais agressiva da doen�a ou uma forma mais leve. Esse artigo est� mostrando que ter esse marcador pode indicar gravidade. Assim, as pessoas podem receber um tratamento mais adequado, a abordagem tem que ser personalizada, pois os deficits s�o individuais. Essa pesquisa � crucial para que a gente consiga ter terap�uticas mais funcionais. Dessa forma, � poss�vel ter um resultado melhor, com menos incapacidade, o paciente ativo e fazendo suas atividades normalmente."
S�rgio Jordy, neurologista da Rede D'or e diretor do Centro M�dico Sinapse
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