TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO

Nolan Williams demonstra t�cnica: sintomas aliviados em uma semana, ap�s cinco sess�es

Steve Fisch/Divulga��o

Poderosos pulsos magn�ticos aplicados no couro cabeludo para estimular o c�rebro podem trazer al�vio r�pido para muitos pacientes gravemente deprimidos, para os quais os tratamentos padr�o falharam. Contudo, ainda � um mist�rio exatamente como a estimula��o magn�tica transcraniana (EMT), como a terapia � conhecida, muda o c�rebro para melhorar o problema. Agora, uma pesquisa liderada por cientistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriu que ela funciona invertendo a dire��o dos sinais anormais do c�rebro.

As descobertas tamb�m sugerem que fluxos inversos de atividade neural entre �reas-chave do �rg�o podem ser usados como um biomarcador para diagnosticar a depress�o. "A principal hip�tese � que a EMT poderia alterar o fluxo da atividade neural no c�rebro", disse o psiquiatra Anish Mitra. "Mas, para ser honesto, eu estava bastante c�tico. Eu queria testar isso."

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Como estudante de p�s-gradua��o na Universidade de Washington, ele desenvolveu uma ferramenta matem�tica para analisar imagens de resson�ncia magn�tica funcional, ou fMRI — comumente usadas para localizar �reas ativas no c�rebro. A nova avalia��o considerou diferen�as m�nimas no tempo entre a ativa��o de diferentes regi�es para revelar tamb�m a dire��o dessa atividade.

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No estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), Mitra se uniu a Nolan Williams, professor de psiquiatria e ci�ncias comportamentais, cuja equipe avan�ou no uso da estimula��o magn�tica personalizada. O tratamento aprovado pela Food and Drug Administration, conhecido como Terapia de Neuroestimula��o de Stanford (TNS), incorpora tecnologias avan�adas de imagem para orientar a estimula��o com padr�es de alta dose de pulsos magn�ticos que podem modificar a atividade cerebral relacionada � depress�o maior.

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Em compara��o com a EMT tradicional, que requer sess�es di�rias durante v�rias semanas ou meses, a TNS funciona em um cronograma acelerado, durante apenas cinco dias. "Esse foi o teste perfeito para ver se a TNS tem a capacidade de mudar a maneira como os sinais fluem pelo c�rebro", disse Mitra.

Os pesquisadores recrutaram 33 pacientes diagnosticados com transtorno depressivo maior resistente ao tratamento. Vinte e tr�s receberam a TNS e 10, um tratamento simulado que imitava tecnologia, mas sem, de fato, a estimula��o. Os cientistas compararam os dados dessas pessoas com os de 85 controles sem depress�o.

Quando pacientes deprimidos foram tratados com a nova tecnologia, o fluxo de atividade neural mudou para a dire��o normal dentro de uma semana, coincidindo com o al�vio dos sintomas. Aqueles com casos mais graves — e os sinais cerebrais mais mal direcionados — foram os mais propensos a se beneficiar do tratamento. "Somos capazes de desfazer a anormalidade espa�o-temporal para que o c�rebro das pessoas se pare�am com os de controles normais e saud�veis", destaca Nolan Williams, professor de psiquiatria e ci�ncias comportamentais.

Conex�o

Ao analisar as informa��es da fMRI em todo o c�rebro, uma conex�o se destacou. No �rg�o normal, a �nsula anterior, regi�o que integra as sensa��es corporais, envia sinais para uma �rea que rege as emo��es, o c�rtex cingulado anterior. "Voc� pode pensar nisso como o c�rtex cingulado anterior recebendo essas informa��es sobre o corpo — como frequ�ncia card�aca ou temperatura — e, ent�o, decidindo como se sentir com base em todos esses sinais", exemplifica Mitra.

Em tr�s quartos dos participantes com depress�o, no entanto, o fluxo t�pico de atividade foi revertido: o c�rtex cingulado anterior enviou sinais para a �nsula anterior. Quanto mais grave a depress�o, maior a propor��o de sinais que viajaram na dire��o errada. "O que vimos � que quem � o remetente e quem � o destinat�rio parecem realmente importar se algu�m est� deprimido", explica o neurocientista. "� quase como se voc� j� tivesse decidido como vai se sentir. Ent�o, tudo o que voc� est� sentindo foi filtrado por isso", disse ele.

Triagem

Um desafio no tratamento da depress�o tem sido a falta de compreens�o de seus mecanismos biol�gicos. Se um paciente tiver febre, existem v�rios testes — para uma infec��o bacteriana ou viral, por exemplo — que podem determinar o tratamento adequado. Mas para um paciente deprimido, n�o h� exames an�logos. O trabalho liderado por Mitra indica um caminho para essa abordagem. "Essa � a primeira vez na psiquiatria em que essa mudan�a espec�fica em uma biologia — o fluxo de sinais entre essas duas regi�es do c�rebro — prev� a mudan�a nos sintomas cl�nicos", afirma Williams.

Por�m, nem todo mundo com depress�o tem o fluxo anormal de atividade neural que foi identificado, e o padr�o pode ser raro em casos menos graves, ressalta o especialista. Mas isso pode servir como um importante indicador para o tratamento de triagem para o dist�rbio. "Quando pegamos uma pessoa com depress�o grave, podemos procurar esse biomarcador para decidir a probabilidade de ela responder bem ao tratamento com TNS ", complementa Mitra. Os pesquisadores planejam replicar o estudo em um grupo maior de pacientes.