Uma das representações traçadas: monogamia e filhos com mulheres de outras regiões

Uma das representa��es tra�adas: monogamia e filhos com mulheres de outras regi�es

(Desenho de Elena Plain; reproduzido com a permiss�o da Universidade de Bordeaux/PACEA)

Cientistas descobriram detalhes de como se comportavam comunidades do per�odo neol�tico, cujo estilo de vida baseado na agricultura, em vez da ca�a e da coleta, contribuiu profundamente para o modo de vida moderno. Conforme o estudo, divulgado, nesta quarta-feira (26/07), na revista Nature, a capacidade de produzir e armazenar comida extra levou povos desse per�odo — h� cerca de 12 mil anos — a desenvolver novos costumes sociais baseados na riqueza e, portanto, a construir hierarquias sociais.

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O trabalho revela h�bitos de duas grandes fam�lias pr�-hist�ricas que viveram em um territ�rio que, hoje, faz parte da Fran�a, e tem como base novos m�todos para obter e analisar o DNA antigo. De acordo com o ensaio, a poligamia n�o era comum na �poca, e os homens se casavam com mulheres de fora, enquanto as filhas viajavam para outros lugares na vida adulta.

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Para o trabalho, pesquisadores da Universidade de Bordeaux, na Fran�a, e do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, avaliaram informa��es do genoma de 94 indiv�duos enterrados em Gurgy, na Fran�a. A partir disso, reconstitu�ram duas �rvores geneal�gicas. A primeira conecta 64 indiv�duos ao longo de sete gera��es e �, at� o momento, a maior representa��o do tipo reconstru�da a partir de DNA antigo. A segunda conecta 12 indiv�duos ao longo de cinco gera��es.

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Ao explorar as genealogias, os pesquisadores revelaram um forte padr�o em que cada gera��o est�, quase que exclusivamente, ligada � gera��o anterior atrav�s do pai biol�gico, conectando, assim, todo o grupo de Gurgy pela linhagem paterna. Ao mesmo tempo, evid�ncias sugerem que os homens permaneciam onde nasceram e tinham filhos com mulheres de fora do local. Em contrapartida, a maioria das filhas adultas n�o ficava na regi�o. Curiosamente, as mulheres que chegavam provavelmente eram vindas de uma rede de comunidades pr�ximas em vez de apenas um �nico grupo.

Fam�lias numerosas

Ma�t� Rivollat, autora principal do estudo, conta que a equipe concluiu tamb�m que as fam�lias tinham muitos integrantes. "Observamos um grande n�mero de irm�os que alcan�aram a idade reprodutiva. Combinado com o n�mero esperado igual de mulheres e a quantidade significativa de infantes falecidos, isso indica a exist�ncia de fam�lias grandes, uma alta taxa de fertilidade e condi��es est�veis de sa�de e nutri��o, o que � bastante surpreendente para tempos t�o antigos", detalha. Outra caracter�stica �nica em Gurgy pontuada pelo artigo � a aus�ncia de meio-irm�os, sugerindo que n�o havia parcerias reprodutivas polig�micas.

St�phane Rottier, arqueoantrop�logo da Universidade de Bordeaux e integrante do grupo de pesquisadores, conta que, desde o in�cio da escava��o, foram encontradas evid�ncias de um controle total do espa�o funer�rio. "Apenas alguns enterros foram sobrepostos, que pareciam ser administrados por um grupo de indiv�duos pr�ximos ou pelo menos por pessoas que sabiam quem era enterrado onde", diz.

Na avalia��o da equipe internacional de cientistas, o trabalho representa um passo sem precedentes na compreens�o da organiza��o social das sociedades passadas. "Somente com os grandes avan�os em nosso campo nos �ltimos anos e a integra��o total dos dados de contexto foi poss�vel realizar um estudo t�o extraordin�rio. � um sonho tornado realidade para todos os antrop�logos e arque�logos e abre um novo caminho para o estudo do passado humano antigo", afirma, em nota, Wolfgang Haak, do instituto alem�o e autor s�nior do estudo.