Uma pausa para tomar uma xícara de café durante os estudos pode ser bom para o aprendizado

Uma pausa para tomar uma x�cara de caf� durante os estudos pode ser bom para o aprendizado

(craftedbygc/ Unsplash)

No meu consult�rio, pode-se perceber no canto da mesa uma cuia de chimarr�o e muitos me perguntam se sou ga�cho. Quando digo que n�o sou do Sul do pa�s, vem a segunda pergunta — e o que essa cuia est� fazendo a�? Muito mais do que pela cafe�na da erva mate, o chimarr�o � um ritual de pausas no trabalho que cultivo h� uns 30 anos e que me ajuda muito. Trabalho um pouco, tomo um chazinho, trabalho mais um pouco, e assim mantenho meu ritmo. Quando estou escrevendo, e a mem�ria n�o acode meu chamado, uma pausa para o mate costuma resolver.

Praticar, praticar, praticar. Esse � o mantra de muitos estudantes e discuto frequentemente no consult�rio essa quest�o com pessoas que querem incrementar o desempenho cerebral. Sempre argumento que pausas s�o importantes para a solidifica��o da mem�ria, e bons exemplos s�o um boa noite de sono e uma pausa para atividade f�sica, especialmente entre um turno e outro. Al�m de “esfriar o motor do c�rebro”, o exerc�cio f�sico libera uma s�rie de subst�ncias no c�rebro que facilita o aprendizado.

Um exemplo interessante de pausas � a famosa t�cnica Pomodoro. Pomodoro era um timer em formato de tomate que o italiano Francisco Cirillo usava para avis�-lo, a cada 25 minutos, que estava na hora de um descanso de cinco minutos. A hist�ria rendeu a publica��o do livro The Pomodore Technique , prometendo melhorar o desempenho no trabalho e nos estudos. Francisco estava certo.

O peri�dico Current Biology publicou, em 2019, uma pesquisa em humanos mostrando que pausas ainda mais frequentes podem fazer com que o aprendizado seja mais eficiente. Os volunt�rios aprendiam mais quando praticavam por 10 segundos e, ent�o, descansavam por outros 10 segundos. Isso era feito por 35 vezes e na 11ª repeti��o eles alcan�avam uma efici�ncia m�xima — mantida nas repeti��es posteriores. O mais interessante � que a atividade cerebral, demonstrada pelo m�todo de magnetoencefalografia, era maior nos per�odos de pausa do que durante a pr�tica, refletindo atividade cerebral de consolida��o e solidifica��o da mem�ria.

Em 2021, pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, publicaram, na mesma revista, os resultados de um estudo que nos faz entender melhor como as pausas podem potencializar o aprendizado. Os resultados mostraram que a reten��o do conte�do � maior quando o processo de aprendizado se d� entremeado por pausas. A isso se d� o nome de “efeito espa�amento”.

 

Camundongos tinham que encontrar um peda�o de chocolate escondido em um labirinto em tr�s diferentes oportunidades e o desenho do estudo definia diferentes pausas entre as tr�s chances. No senso comum, pode-se imaginar que quanto mais pr�ximas as tentativas, mais facilmente os animais se lembrariam daquilo que aprenderam. Os pesquisadores demonstraram isso no curt�ssimo prazo, mas passadas algumas horas, o resgate da mem�ria era maior entre os animais que tiveram pausas mais longas entre as oportunidades de achar o chocolate. Pausas maiores fizeram com que as mesmas conex�es neuronais utilizadas em tentativas anteriores fossem ativadas, refor�ando o aprendizado a cada “round”. O conte�do aprendido � armazenado e pode ser recuperado reativando o mesmo grupo de neur�nios e suas conex�es.

O “efeito espa�amento” foi descrito h� mais de um s�culo em diversos mam�feros, e esse �ltimo estudo nos mostra de forma bastante elegante como ele � capaz de aumentar o potencial do aprendizado. Com pausas mais longas, a tarefa fica mais demorada, mas o conte�do aprendido fica consolidado por mais tempo .

E voltando aos humanos, ainda em 2021 foi descrito na revista Cell Reports o efeito compress�o durante as pausas, descrito poucos anos antes, mas de forma mais t�mida. Dessa vez foi demonstrado de forma in�dita que, durante as pausas, o c�rebro continua treinando involuntariamente aquilo que o corpo estava praticando, s� que numa velocidade 20 vezes maior. Esse � o efeito compress�o. E ent�o? Vamos programar intervalos no seu estudo, no seu trabalho?

* Ricardo Afonso Teixeira � doutor em Neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do C�rebro de Bras�lia.