
Segundo o professor titular do Departamento de Ginecologia e Obstetr�cia da Faculdade de Medicina da UFMG, Agnaldo Lopes da Silva Filho, 90% das mulheres acometidas pelo c�ncer de ov�rio morrem antes de completar cinco anos de tratamento. Por essa raz�o, o grupo se interessou por investigar esse biomarcador, alvo de estudos em v�rios outros centros de pesquisa de todo o mundo. De acordo com as pesquisadoras Let�cia da Concei��o Braga e Luciana Maria Silva, da Funed, observou-se que os tumores ovarianos comportam-se de maneira bem diferente dependendo do tipo de cada um. Elas estudaram amostras de 45 pacientes do HC/UFMG, divididas em tumor benigno e maligno (c�ncer eptelial de ov�rio), e entre aquelas com tumor maligno foram tamb�m coletadas amostras do tumor e dos locais metast�ticos (onde houve aparecimento da doen�a no organismo).
Essas amostras foram processadas – sendo extra�dos o DNA e o RNA – e passaram por uma s�rie de exames, que identificaram mol�culas que estavam mais ou menos expressas nas pacientes com c�ncer de ov�rio. � como uma impress�o digital gen�tica levando a possibilidade de marcadores sobre o comportamento da doen�a, identificando a fase (se inicial, mais avan�ada) e se se trata de tumor mais agressivo. As pesquisadoras estudaram prote�nas que atuam protegendo a c�lula doente e tornam ineficaz o tratamento, n�o respondendo �s drogas chamadas de recombinantes e anticorpos monoclonais que t�m a fun��o de matar a c�lula doente.
O resultado da pesquisa identificou que essas drogas usadas para tratar as pacientes com c�ncer de ov�rio n�o trazem benef�cio algum nos casos de tumores metast�ticos e serve de alerta para uso generalizado desse tipo de combate. “O uso das drogas � base de prote�na trail recombinante e anticorpos monoclonais antitrail pode n�o ter efic�cia no combate � doen�a em determinados tipos de tumores. Com a pesquisa, identificamos um grupo cujo tratamento poderia ser eficaz, conta Let�cia da Concei��o Braga, autora da pesquisa que se transformou em tese de doutorado da pesquisadora.
Esses novos tratamentos baseados na prote�na trail perdem sua efic�cia em mulheres j� em fase de met�stase. “Esse tratamento deve ser aplicado em pacientes que expressam menos o gene. Nesse caso, os tumores prim�rios, pass�veis de cura e recupera��o. Pacientes com met�stase se tornam refrat�rias a essa terap�utica”, afirma a pesquisadora.
De acordo com ela, o que ocorre atualmente � que o tratamento quimioter�pico � aplicado de maneira indiscriminada, sem determinar se as pacientes respondem a uma determinada droga. “Da� a relev�ncia do nosso trabalho: evitar que uma promissora estrat�gica terap�utica se torne ineficaz por puro desconhecimento da biologia do tumor”, explica a doutora.
O professor Agnaldo Lopes comenta que h� lacunas em rela��o � abordagem do c�ncer de ov�rio e h� muito espa�o para pesquisa, no que diz respeito ao desenvolvimento de testes e diagn�sticos, tornando-o cada vez mais precoce o que permitiria um tratamento mais eficaz: “O ov�rio � um �rg�o pequeno, mas tem como carater�stica diversos tecidos, desde a parte mais interna, onde est�o os tecidos germinativos, que podem at� virar c�lulas tronco, at� a parte mais externa, a epitelial. Cada tipo de c�lula pode originar tanto tumores benignos quanto malignos. Os mais frequentes surgem na camada externa, que � o chamado c�ncer epitelial de ov�rio. Ele atinge tipicamente mulheres acima de 40 anos de idade, na fase pr� ou p�s-menopausa e faixa et�ria mais acometida pela doen�a. Os outros tumores, como os germinativos, atingem pacientes mais jovens, at� mesmo meninas na segunda faixa de vida”, explica Lopes.
Rastreamento
O grande problema, segundo o ginecologista, � que efetivamente n�o h� hoje m�todo de diagn�stico para rastrear o c�ncer de ov�rio, diferentemente do c�ncer de colo do �tero, como o exame de papanicolau, ou o de mama, que pode ser detectado pela mamografia e o utrassom. N�o h� ainda nenhum teste que possa ser aplicado com o objetivo de um diagn�stico precoce. A paciente assintom�tica com exame cl�nico normal tem muito pouco a oferecer nessa identifica��o. Da� a import�ncia de pesquisa de biomarcadores, tanto para o diagn�stico quanto para o rastreamento, de resposta ao tratamento e segmento p�s tratamento. Isso requer grande investimento financeiro, pois s�o pesquisas sofisticadas e de longa dura��o.
Esse tumor costuma ser assintom�tico, por isso � recomendado que os m�dicos valorizem as queixas dos pacientes. “S�o sintomas gen�ricos que v�o desde a distens�o ao desconforto abdominais, que podem ter v�rias causas. Mas esses sintomas, especialmente com dura��o inferior a seis meses, chamam a aten��o e merecem investiga��o, seja por meio de exames, como o de sangue, e testes diagn�sticos, como o de ultrassom transvaginal, que � um instrumento de diagn�stico mas n�o serve para rastreamento”, acrescenta Agnaldo.
Os resultados at� agora apontam uma perspectiva positiva, segundo o professor da UFMG, indicando algumas mol�culas candidatas ao tratamento. Ele espera que nos pr�ximos cinco anos seja poss�vel oferecer um tratamento cl�nico como alternativa: “Hoje n�o h� m�todo eficaz para diagn�stico. A paciente que tem sintomas como sangramento uterino anormal, distens�o abdominal sem defini��o clara, ou fez alguns exames que mostrem a possibilidade de algum cisto deve ser avaliada pelo ginecologista e em casos mais cr�ticos, por um profissional experiente em oncologia ginecol�gica”, diz. Outra coisa que chama a aten��o, segundo o m�dico, � a gen�tica familiar: 5% dos c�nceres de ov�rio apontam evid�ncias familiares, e uma grande rela��o com o c�ncer de mama.
Est�gio avan�ado
Para a m�dica ginecologista e obstetra dos hospitais Mater Dei e Instituto Mineiro de C�ncer M�rio Pena S�lua Oliveira Calil de Paula, ainda n�o se conseguiu chegar a marcadores espec�ficos para o c�ncer de ov�rio. No Brasil, al�m da parceira entre Funed e UFMG, a Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem desenvolvendo pesquisas nesse sentido. Segundo S�lua, entre 60% e 70% dos casos desse tipo de tumor somente s�o descobertos quando se encontram no est�gio 3 (eles v�o de 1 a 4), o que j� � uma situa��o grav�ssima, quando as mulheres come�am a apresentar sintomas. Segundo estudos publicados nos Estados Unidos, uma entre cada 68 a 70 mulheres ter�o c�ncer no ov�rio e 20% ser�o submetidas a algum tipo de interven��o cir�rgica na massa p�lvica (quando h� suspeita de alguma les�o no ov�rio).