
Esque�a tudo que voc� viu nos consagrados Interestelar, Gravidade ou qualquer outra fic��o cient�fica de Hollywood. A verdadeira jornada no espa�o n�o ser� exclusividade de norte-americanos e pode contar com o protagonismo de uma brasileira. A professora Sandra Maria Feliciano, 51 anos, moradora de Porto Velho, est� entre os 100 finalistas a uma viagem sem volta cuja miss�o (de verdade!) � colonizar Marte. A candidata contou detalhes da aventura, enquanto se comparou ao portugu�s Pedro �lvares Cabral: “Ele tamb�m n�o tinha no��o do que encontraria”.
O fato de ser uma viagem sem volta n�o assusta a pretendente a astronauta. “Mesmo se n�o fosse assim, eu ficaria por l�. Minha miss�o � colonizar Marte, e � isso que vou fazer”, disse, determinada. Se for selecionada, a brasileira ser� funcion�ria da iniciativa Mars One, receber� um sal�rio (o valor ainda n�o foi informado) e participar� de um treinamento por oito anos antes de embarcar para o espa�o, em 2022. “N�o estou interessada em dinheiro, n�o sei quanto vou receber. Quero fazer isso para realizar meu sonho. J� pedi aposentadoria e recusei um mestrado na Espanha para me dedicar ao projeto. Ir para Marte n�o � s� um desafio, � uma necessidade. Algu�m tem de come�ar”, destacou.
Ciente dos futuros percal�os, ela se considera uma desbravadora e esbanja coragem (tal qual os protagonistas dos filmes hollywoodianos) ao falar do que a espera: “Aqueles que forem ser�o os desbravadores, espremidos em pequenas naves, podendo alcan�ar uma morte horr�vel ou a gl�ria de entrar para a hist�ria”.
Fascinada por fic��o cient�fica, Sandra nasceu na terra do astronauta brasileiro Marcos Pontes. “S� pode ser a �gua de Bauru (SP)”, brincou. O interesse pelo desconhecido surgiu quando ela tinha 6 anos. “Quando assisti a Neil Armstrong pisando a Lua, fiquei encantada. Decidi que era isso que queria fazer.” Aos 9 anos, mudou-se para Rond�nia, onde se formaria em direito e administra��o.
Apesar de (ainda) n�o ser astronauta e de dar aulas em uma universidade, ela se dedicou a escrever livros sobre o espa�o. Os antigos — Parte 1 � uma das obras, cuja hist�ria mistura ci�ncia espacial e descobertas arqueol�gicas da regi�o amaz�nica, associadas a relatos mal esclarecidos sobre a forma��o de um planeta.
Foi ao pesquisar sobre Marte para outro de seus livros que Sandra soube do projeto Mars One. “A princ�pio, fiquei com receio, sem saber se era confi�vel. Depois, vi que cientistas ganhadores do Nobel estavam envolvidos. Eu me inscrevi e, at� agora, deu tudo certo”, acrescentou, referindo-se ao holand�s Gerard’t Hooft, Nobel de F�sica em 1999.
A fam�lia de Sandra ainda est� se adaptando � ideia de ter um parente em outro planeta. “Meu pai acha sensacional, contou para todos os vizinhos. Meus irm�os me chamaram de louca”, revelou. Sandra mora sozinha, n�o � casada e n�o tem filhos, mas � muito pr�xima de seus pais e irm�os: “Claro que vou sentir falta deles, mas haver� um link de comunica��o, com um delay de 17 minutos. A gente vai poder conversar e contar novidades, mesmo que com atraso”.

SELE��O
O projeto vai escolher 24 pessoas para colonizar o Planeta Vermelho. Entre os pr�-selecionados, est�o cientistas e acad�micos com idades entre 19 e 60 anos. Ao fim do processo, 12 homens e 12 mulheres ser�o lan�ados no espa�o dentro de pequenas c�psulas.
Para concorrer ao posto de astronauta, a brasileira teve de gravar um v�deo de apresenta��o totalmente em ingl�s (dominar o idioma, l�ngua oficial da miss�o, � pr�-requisito). Ela ainda est� no n�vel b�sico do ingl�s, mas contou com ajuda dos professores do curso que frequenta. No in�cio, eram mais de 200 mil candidatos. Ap�s a fase de entrevistas on-line, restaram apenas 100.
Sandra integra o grupo com 50 homens e 50 mulheres que atravessaram com sucesso a segunda rodada. Os candidatos v�m de todo o mundo: 39 das Am�ricas, 31 da Europa, 16 da �sia, sete da �frica e sete da Oceania. “O grande corte de candidatos � um passo importante para sabermos quem tem as qualidades certas para ir a Marte”, disse o holand�s Bas Lansdorp, cofundador e diretor-executivo da funda��o Mars One em comunicado oficial.
O treinamento de oito anos come�a com prepara��o psicol�gica. Em seguida, os candidatos v�o receber treinamento t�cnico em �reas como medicina e engenharia. Na terceira e �ltima etapa, grupos ser�o enviados, durante tr�s meses, para diferentes pa�ses, onde v�o simular a conviv�ncia em Marte. O ritual se repetir� anualmente, at� a data da miss�o.
Enquanto isso, em 2016 ser�o enviados o sat�lite de comunica��o e rovers (uma esp�cie de rob� explorador) para checar o local onde a col�nia ser� instalada. Entre 2018 e 2020, ser�o enviados os diversos m�dulos contendo alimenta��o, �gua, oxig�nio, pain�is fotovoltaicos e o restante do equipamento.
Em 2022, sair�o os casulos, que ser�o tamb�m os h�bitats, com aproximadamente 52m² para cada casal. O m�dulo cont�m quarto, sala, banheiro, a�rea de hidroponia (t�cnica especial de cultivo) e higiene. Ao pousar no planeta, esses m�dulos ficar�o abaixo do n�vel do solo, para impedir a incid�ncia de radia��o nas “casas”.
ALERTA DO MIT
O projeto Mars One � visto com desconfian�a por muitos especialistas e, segundo alguns cientistas, tem poucas chances de �xito. Recentemente, um estudo feito por pesquisadores do Instituto Tecnol�gico de Massachusetts (MIT) concluiu que os desbravadores de Marte devem come�ar a morrer ap�s 68 dias no planeta. O grupo de especialistas chegou a essa conclus�o depois de analisar dados cient�ficos dispon�veis sobre a miss�o. Segundo o informe de 35 p�ginas, divulgado em outubro passado, os astronautas devem morrer asfixiados. As plantas, que teoricamente devem alimentar os colonos, produzir�o oxig�nio demais, e a tecnologia para equilibrar a atmosfera ainda n�o foi desenvolvida. Al�m disso, os colonos depender�o do envio de pe�as de reposi��o em uma miss�o que poder� custar US$ 4,5 bilh�es, uma cifra que, segundo os autores do informe, aumentar� com o envio de outros equipamentos.