
Bras�lia – Ainda que existam pessoas que insistem em fechar os olhos diante das consequ�ncias da a��o do homem sobre o meio ambiente, os efeitos devastadores dessa rela��o desleal n�o podem ser negados. Ambientalistas apontam que, mesmo com a mais otimista das proje��es, a taxa de extin��o atual das esp�cies de vertebrados � 114 vezes maior do que seria sem a atividade humana. Em uma an�lise publicada na revista Science Advances, especialistas apresentam evid�ncias de que o Homo sapiens deu in�cio � sexta extin��o em massa da hist�ria do planeta, um fen�meno que pode causar danos irrevers�veis pelos pr�ximos milh�es de anos. O estudo serve de alerta para a urg�ncia do problema, que s� pode ser amenizado com a��es imediatas.
Para medir o tamanho do impacto humano sobre a diversidade dos vertebrados, os pesquisadores compararam o n�mero de animais que desapareceram do planeta nos �ltimos 500 anos com a chamada taxa de extin��o natural, isto �, o n�mero de esp�cies que eram eliminadas da Terra antes da expans�o da atividade humana. Com base em f�sseis e no tempo estimado de exist�ncia de cada grupo de animais antigos, calculou-se que o mundo perde dois tipos de mam�feros a cada 10 mil esp�cies todos os s�culos.
O n�mero usado pelos pesquisadores � o equivalente ao dobro da taxa de extin��o natural empregada em outras estimativas semelhantes. Para chegar a dados considerados mais “realistas” que as proje��es tradicionais, os autores produziram duas listas distintas: uma conservadora, com base nas 617 esp�cies de vertebrados que desapareceram dos seus h�bitats desde 1500, e outra ainda mais restrita, que n�o leva em conta os 279 bichos que s� existem em cativeiro ou cuja extin��o ainda n�o foi confirmada.

Em qualquer uma das proje��es, a participa��o humana no processo de defauna��o � clara: a estimativa de desaparecimento das esp�cies de vertebrados desde o avan�o da civiliza��o � de oito a mais de 100 vezes maior do que a taxa de extin��o natural. A maioria dos casos se concentra no �ltimo s�culo, mostrando que o impacto da civiliza��o sobre a biodiversidade tem acelerado rapidamente. Sob a estimativa conservadora, seria esperado que nove tipos de animais desse grupo tivessem sido eliminados da natureza, mas a lista tem 468 esp�cies a mais, incluindo 69 mam�feros, 80 p�ssaros, 24 r�pteis, 146 anf�bios e 158 peixes cuja extin��o pode ser diretamente responsabilizada ao homem. Sem a atividade humana, seriam necess�rios entre 800 e 10 mil anos para que esse mesmo n�mero fosse naturalmente eliminado do planeta.
Conservador Os autores do estudo ressaltam que os resultados apresentados s�o limitados e que o impacto humano sobre a biodiversidade �, provavelmente, maior. “A taxa varia a cada grupo, e n�s fizemos suposi��es muito otimistas”, ressalta Paul Ehrlich, professor da Universidade de Stanford, nos EUA, e um dos autores do estudo.
A estrat�gia busca desarmar qualquer argumento que se baseie na poss�vel manipula��o de �ndices para superestimar a crise ambiental. “H� v�rios pol�ticos e outros comentaristas que s�o ignorantes ou pagos para n�o compreender (a situa��o), como aqueles que negam que existe um problema com a ruptura clim�tica antropog�nica”, critica Ehrlich. Mas mesmo os questionadores mais incr�dulos n�o podem negar os resultados de uma an�lise feita a partir de dados conservadores, argumenta.
O fen�meno antropog�nico � compar�vel ao exterm�nio dos dinossauros, ocorrido h� 66 milh�es de anos. No entanto, esta pode ser a transforma��o ambiental mais acelerada em 4,5 bilh�es de anos de exist�ncia da Terra, em que o desaparecimento acelerado de esp�cies sempre era causado por atividades vulc�nicas ou queda de meteoros. Em vez de severas mudan�as clim�ticas que perduram por milhares de anos, a atual extin��o em massa � causada pela introdu��o de esp�cies nativas, pela emiss�o de carbono, pelo desmatamento impulsionado pela agricultura e outros reflexos do desenvolvimento recente da humanidade.
Medidas O sumi�o constante dos animais desencadeia uma s�rie de efeitos sobre o ecossistema, como a poliniza��o feita pelas abelhas e o processo de purifica��o da �gua, mudan�as que devem come�ar a cobrar o pre�o da humanidade nas pr�ximas tr�s gera��es. “Se isso continuar, a vida vai levar milh�es de anos para se recuperar, e a nossa pr�pria esp�cie provavelmente desaparecer� mais cedo”, alerta Gerardo Ceballos, pesquisador do Instituto de Ecologia da Universidade Aut�noma do M�xico.
Para evitar esse cen�rio, os autores alertam que s�o necess�rios “esfor�os r�pidos e intensivos para conservar as esp�cies que j� est�o amea�adas e diminuir as press�es sobre as suas popula��es, como a perda de h�bitat, a explora��o exagerada para ganhos econ�micos e a mudan�a clim�tica”. De acordo com a Lista vermelha da Uni�o Internacional para a Conserva��o da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em ingl�s), cerca de um quinto das esp�cies de vertebrados � amea�ado de extin��o. Em m�dia, 50 novos tipos de mam�feros, aves, r�pteis e peixes entram para a rela��o todos os anos.
617
Total de esp�cies de vertebrados que desapareceram de seus h�bitats desde 1500