
"Propaganda" de golpes e lições para 2026
O Ibad não apenas financiaria massivamente opositores a Goulart, mas se infiltraria em movimentos populares, sindicais e estudantis
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Em 1959, com o alegado propósito de “defender a democracia”, surge o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad). Assim o descreveu o pesquisador e cientista político René Dreifuss, em sua monumental obra “1964: A conquista do Estado”: formado por empresários nacionais e estrangeiros, entre os quais, com especial participação, membros da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos e da Escola Superior de Guerra (ESG), ligada ao Exército.
O Ibad atuava em estreita colaboração com a Agência de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA. Ganhou notoriedade, já na Presidência de João Goulart, mais especificamente, em 1962, durante as eleições diretas para governadores de 11 estados e para a eleição de 409 cadeiras na Câmara dos Deputados e dois terços do Senado Federal. Naquelas eleições, revela Dreifuss, o Ibad serviu de “conduto de fundos maciços para influenciar o processo eleitoral”. Seria o último pleito antes do golpe de 31 de março de 64.
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O Ibad não apenas financiaria massivamente opositores a Goulart, mas se infiltraria em movimentos populares, sindicais e estudantis. Àquela altura, esse instituto, um dos pilares do complexo ideológico para a criação de consensos favoráveis ao golpe, tinha o apoio de outro braço: em 1961, nasceu o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes). Era propósito declarado do Ipes promover a educação cultural, moral e cívica dos indivíduos” por meio de “estudos e atividades sociais”. Tinha recomendações para “contribuir para o progresso econômico, o bem-estar social e fortificar o regime democrático”.
No contexto da Guerra Fria, Ipes e Ibad atuariam para disseminar o pânico da “ameaça comunista” na sociedade, mobilizar movimentos ultraconservadores e religiosos, disseminando ideias que não se encerrariam com o golpe, mas também legitimariam o papel dos militares, a caça aos “comunistas” – assim chamados via de regras os opositores ao regime. Tal visão de mundo justificou, uma vez instalada a ditadura, a Doutrina de Segurança Nacional e o combate aos chamados “inimigos internos” pelo aparelho repressivo do Estado.
É assim que golpes de Estado nunca operam no vácuo. Caminham ao lado de propaganda e disseminação de ideologias que mobilizem e justifiquem uma ruptura institucional. É exatamente por isso que a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia contra um núcleo particular que começou a ser julgado nesta terça-feira. Chamado “Núcleo 4”, ali não há lideranças políticas de expressão.
São cinco militares, um policial federal e um profissional liberal. Gonet defende a condenação de todos no contexto da trama golpista, pela tática de promover a desinformação. Não apenas a disseminação de informações que atacavam o coração operacional da democracia brasileira – as urnas eletrônicas. Igualmente importante é a denúncia de que promoviam ataques virtuais para pressionar os comandantes das Forças Armadas a aderir ao plano de ruptura. Todos os sete clamam inocência. No devido processo legal, terão oportunidade de comprovar as suas alegações.
Este é um julgamento sem estrelas políticas, com pouco holofote, mas extremamente importante. Poderá criar uma jurisprudência, que terá consequências nas eleições de 2026: quem propagar notícias falsas, com o propósito de desacreditar a lisura do processo eleitoral, está atentando criminalmente contra o Estado democrático de direito? O que diferencia uma dúvida, uma crítica isolada, de um ataque sistemático à operacionalização das eleições?
Metas
Para 2026, a Prefeitura de Belo Horizonte estima arrecadar R$ 24,15 bilhões e gastar R$ 24,92 bilhões. Déficit: R$ 787 milhões. As áreas de saúde e educação respondem por cerca de 50% das despesas. Os dados foram apresentados pelo Executivo municipal à Comissão de Orçamento e Finanças Públicas da Câmara Municipal, no âmbito dos debates em torno do Projeto de Lei do Orçamento Anual (PLOA) 2026 e do Projeto de Lei da Revisão do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) 2026-2029.
Dívida ativa
Ao mesmo tempo em que se projeta o déficit nas contas municipais, o estoque da dívida ativa é de R$ 8 bilhões, segundo o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais e Auditores Técnicos de Tributos Municipais de Belo Horizonte (Sinfisco BH), André de Freitas Martins. A informação foi confirmada pelo secretário de Fazenda, Pedro Meneguetti. Segundo ele, nos próximos dias, será publicado decreto para tornar a cobrança mais ágil.
Propostas populares
Cidadãos interessados em participar do debate sobre os gastos da cidade projetados na PLOA 2026 e no PPAG 2026-2029 podem apresentar sugestões até as 16h desta quinta-feira (16/10). As sugestões populares deverão ser encaminhadas exclusivamente pelo portal da CMBH por meio de formulário próprio.
Sem recomposição
As forças de segurança pública marcaram ato de protesto contra o governo do estado para o próximo 28 de outubro, na Praça da Assembleia. A categoria reivindica recomposição salarial. O secretário de Estado de Fazenda de Minas Gerais, Luiz Cláudio Gomes, justificou em audiência pública na Assembleia, nesta semana, a situação fiscal do estado para negar o reajuste dessas perdas.
Via Pix
Motoristas abordados pela fiscalização de trânsito poderão quitar via Pix, no ato da abordagem, o IPVA atrasado. Assim, evitariam custos adicionais com retirada, transporte e custódia de veículos nos pátios de apreensão. Esse é o teor do Projeto de Lei 3831/25, de autoria do deputado estadual Enes Cândido (Republicanos). A matéria, que altera a Lei 14.937, de 2003, que dispõe sobre o IPVA, recebeu parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nesta terça (14/10). A principal mudança é a inclusão do Pix para quitação imediata da dívida.
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Notório saber
O diretor de Artes Cênicas e Dança na Funarte no Rio, Rui Moreira, que é coreógrafo e bailarino e um dos fundadores do FAN, vai receber nesta quinta-feira (16/10) o título de Doutor Notório Saber pelo Seminário Saberes Tradicionais e Notório Saber da UFMG. Além de Rui Moreira, também serão homenageados com igual título Jorge dos Anjos, Kanátyo Pataxó e João Angoleiro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.