Em 1974, Maria Bethânia estreou no Rio de Janeiro o espetáculo “A cena muda”, no qual não dizia uma palavra sequer ao público, apenas cantava em blocos longos e ininterruptos. Cinco décadas depois, o cantor e compositor Ayrton Montarroyos se inspira nesse formato para apresentar “A lira do povo”.

No espetáculo deste sábado (12/7), no Centro Cultural Unimed BH Minas, ele também opta pelo silêncio entre as canções e prefere que o público evite os aplausos, entendidos por ele como a interrupção de uma catarse. “Gás neon”, canção do show escrita por Gonzaguinha (1945-1991), também integrou o repertório original de Bethânia.

Lançado em junho do ano passado, o disco que dá origem ao show foi concebido, desde o início, como um espetáculo, com roteiro e direção assinados pelo próprio Ayrton Montarroyos.

Com 29 faixas, o projeto arrojado apresenta um percurso musical que atravessa as paisagens do sertão, do mar e da cidade.

Dividida em três atos, chamados de “suítes” por Montarroyos, “A lira do povo” marca a mudança na forma como o artista, revelado em 2015 na quarta edição do reality musical The Voice Brasil, que agora será atração do SBT/Alterosa, se apresenta ao público. Ele deixa o formato de recital para adotar a encenação teatral, ou, como define, um “cinema cantado”.

“Apresento ao público uma tragédia. Desde o meu segundo disco, ‘Um mergulho no nada’, já venho explorando temas ligados à mitologia grega. Sempre me interessou a relação do ser humano com o folclore, com o mitológico, com a força da palavra. Fui juntando esses elementos que me são naturais, porque já fazem parte da minha vida. São temas que estudo, com os quais me relaciono de forma muito próxima e que me dão prazer” explica o cantor.

Do sertão para a cidade

A jornada do sertão para a cidade tem ligação pessoal com a vida do artista, que reside em São Paulo há 10 anos, vindo de Pernambuco. No sertão, aparecem composições de Heitor Villa-Lobos, Edu Lobo, João do Vale e Fagner. No mar, estão nomes como Sidney Miller, Inezita Barroso e Dorival Caymmi. Já na cidade, entram em cena Gonzaguinha, Sérgio Ricardo e Kiko Dinucci.

O disco começa com o som de uma trilha de trem que, segundo Montarroyos, “vai passeando pelas coisas interiores do homem”.
A ideia do título, o artista conta orgulhoso, veio do produtor e poeta Hermínio Bello de Carvalho.

A voz de Ayrton tem ganhado destaque na televisão, como intérprete nas trilhas sonoras das novelas “No rancho fundo” e “Garota do momento”, ambas da Globo.

Com faixas de tantos autores, o processo de gravação do disco enfrentou obstáculos, especialmente no licenciamento das faixas.

“Criei um enorme problema para meu empresário e para a gravadora”, conta Montarroyos. Muitas das músicas escolhidas são de autores já falecidos, com herdeiros ausentes, e estão sob controle de editoras que, segundo ele, impõem regras “absurdas”.

“As editoras não fazem os repasses devidos aos autores, não cobram das plataformas como Spotify, mas exigem que o intérprete pague R$ 5 mil, R$ 6 mil por música. Com 29 faixas, imagina o tamanho da conta”, afirma. Ele conta ter chegado a um acordo para manter a maior parte do repertório.

MPB sem originalidade

Além das dificuldades práticas, o artista enxerga problemas mais profundos para quem escolhe ser intérprete hoje em dia. O próprio funcionamento da indústria, segundo ele, tem minado a originalidade na música popular brasileira.

“Os movimentos do mainstream destruíram tudo o que amo na música brasileira. As harmonias vão sempre para o mesmo lugar, tudo soa igual. A criatividade foi tirada pelo mercado.”

Ainda assim, Ayrton reconhece alguns espaços de inovação. “Num tempo tão pobre de invenção, ainda vejo algumas revoluções como o funk”, aponta.

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“A LIRA DO POVO”

Show de Ayrton Montarroyos. Neste sábado (12/7), às 20h, no Centro Cultural Unimed BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos à venda no Sympla e na bilheteria do teatro a R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia).

OUTROS SHOWS

>>> JARDIM SONORO

O festival Jardim Sonoro realiza sua segunda edição em Inhotim, de hoje a domingo (11 a 13/7), com shows de Luiza Brina, Mônica Salmaso, Cécile McLorin Salvant, Josyara e Tetê Espíndola, entre outras atrações. Os shows acontecem em dois palcos criados especialmente para o festival. O acesso ao evento é gratuito, corresponde ao valor da entrada no museu, vendida por R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia) no site www.inhotim.org.br/visite/ingressos.


>>> SÁ E GUARABYRA

A dupla Sá & Guarabyra se despede do público de BH com sua última apresentação na cidade neste sábado (12/7), às 21h, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). O show inclui sucessos como “Dona”, “Roque Santeiro” e “Cheiro mineiro de flor”. Os ingressos estão à venda pelo site Eventim e na bilheteria do teatro, com valores de R$ 260 (inteira) e R$ 130 (meia) para a plateia 2, e R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia) para a plateia superior.

>>> MARCOS FREDERICO

No sábado (12/7), o compositor e bandolinista mineiro Marcos Frederico lança seu oitavo disco, “Despalavra”, em apresentação no Música aos Montes (Av. Agulhas Negras, 225 - Mangabeiras), a partir das 17h. O show conta com participação especial de Paulinho Santos (ex-Uakti) e traz nove faixas autorais que transitam entre o choro, o fado e a valsa.A entrada custa R$ 15.

>>> CIDADE JUNINA

No sábado (12/7), o sertanejo toma conta da Cidade Junina com show de César Menotti & Fabiano, no Mirante Beagá (Rua Henriqueto Cardinale, 460, Olhos D’Água). O evento conta ainda com apresentações de Rick & Nogueira e Bruna Lipiani. Os ingressos variam entre R$ 340 (inteira feminino), R$ 320 (inteira masculino) e R$ 170 (meia social). 

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