Barbearias são comumente associadas a um espaço de socialização. Poucas pessoas esperam que em locais como esse haja um opressor disfarçado, mas esta é a narrativa de “A barbearia”, espetáculo gratuito que estreia neste sábado (4/10), às 15h, no teatro de bolso do Museu da Moda.
“Dificilmente você vai imaginar que um barbeiro seja um ditador, mas quando ele percebe que o cliente é uma pessoa que diz sim para tudo, ele começa a se aproveitar. Porque é do perfil dele”, afirma o diretor Hailton Karran. No palco, estão os atores mineiros Deávila Marques, como o barbeiro, e Luiz Garcia, interpretando o cliente.
Esta é a primeira montagem mineira do texto “Dizer sim”, da autora argentina Griselda Gambaro, que estreou no país vizinho em 1981, durante a ditadura militar. A narrativa acompanha um cliente ingênuo e falante que decide cortar o cabelo com um barbeiro aproveitador e opressor. Enquanto o espetáculo se desenrola, a tensão entre ambos continua a aumentar.
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Relações abusivas
“Queria discutir essa questão das relações abusivas. Abordar como algumas pessoas dizem sim quando deveriam dizer não, e abrir os olhos das pessoas em relação ao problema do dizer sim. Nas relações abusivas, é a partir disso que a coisa se complica”, diz Hailton.
Além do teatro, o diretor atua em projetos sociais, como o Projeto Providência, da Arquidiocese de Belo Horizonte, realizado nos bairros Aglomerado da Serra, Jardim Vitória e Taquaril. Em contato com as pessoas apoiadas pelo projeto, além dos psicólogos e assistentes sociais, Hailton já se envolveu com diferentes casos de opressão e abuso.
Ele descobriu o texto argentino a partir de uma sugestão de Luiz Garcia e sentiu a necessidade imediata de dirigi-lo. A estreia da montagem deveria ter acontecido antes da pandemia, mas foi adiada em razão da epidemia global. Apesar de chegar oficialmente aos teatros neste fim de semana, a peça já foi exibida abertamente em instituições sociais e teve diversas sessões na própria casa do diretor.
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Espaço alternativo
Hailton afirma que gosta de trabalhar com espetáculos adequados a ambientes alternativos, para não depender do palco italiano e conseguir fazer apresentações acessíveis. Além disso, ele defende que os espaços pequenos ajudam a construir maior tensão no público. “Quanto mais próximo você fica dos atores, mais raiva você tem”, afirma.
Enquanto realizavam a montagem, Hailton optou por não ditar uma linguagem principal. “Gosto de trabalhar sem planejar muito no início. Quando você tem uma linguagem determinada, a criatividade foge”, comenta o diretor. A partir do trabalho de mesa feito entre ele e os atores, adotaram o teatro do absurdo como inspiração principal.
O elemento que se destaca em “A barbearia” é o silêncio do ditador. Ao todo, o personagem de Deávila Marques fala cerca de 15 palavras, sempre em momentos específicos. O cliente, por outro lado, toma conta da montagem com sua espécie de monólogo.
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“O ditador observa muito e fala muito pouco. Ele determina no olhar as atitudes dele, assim como o marido que oprime a mulher. Ele age de uma forma que intimida. Já o cliente fala como nunca vi. Ele tenta se explicar demais, enquanto o ditador vai só observando e deixando ele se enforcar”, destaca Hailton Karran.
* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco
Outros espetáculos
>>> “X- IMAGINATION”
O espetáculo “X-Imagination” faz temporada na Região Metropolitana de Belo Horizonte neste mês, com a primeira apresentação neste sábado (4/10), às 19h, em Ribeirão das Neves, na Casa Semifusa (Rua Cataguases, 73, Sevilha). No domingo (5/10), a peça será apresentada às 18h, em Vespasiano, no Quintal da Vó Laide (Rua Lima, 188, Sueli). A montagem afro futurista, com dramaturgia da poeta Nívea Sabino, conta a história de X (Michelle Sá), uma alienígena que acorda na Terra sem memória e se descobre no planeta a partir dos terreiros, dos quintais e dos quilombos. Entrada gratuita, mediante a retirada de ingressos na bilheteria da casa.
>>> “TELAPLANA”
Debatendo o vício de telas da sociedade, como celulares, notebooks e tablets, a companhia Os Melhores do Mundo apresenta em Belo Horizonte o espetáculo “TelaPlana”, neste sábado (4/10), às 21h, e domingo (5/10), às 19h, no Cine Theatro Brasil (Av. Amazonas, 315, Centro). A peça reúne oito esquetes que abordam a dependência tecnológica a partir de um viés cômico e reflexivo. Atualmente, o elenco em turnê nacional é composto por Adriana Nunes, Adriano Siri, Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Victor Leal e Welder Rodrigues. Ingressos: Plateia 1A: R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia); Plateia 1B: R$ 130 (inteira) e R$ 65 (meia); Plateia 2A: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia); Plateia 2B: R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia); Plateia 2C: R$ 90 (inteira) e R$ 45 (meia). À venda na plataforma Eventim.
>>> “DIÁLOGOS FEMININOS E IDENTIDADE”
O espetáculo “Diálogos femininos e identidade”, da Cia Baobá Minas, aborda trajetória de mulheres negras da história do Brasil e do mundo, como Conceição Evaristo, Elza Soares e Marielle Franco. A primeira apresentação da remontagem será realizada amanhã (4/10), às 19h, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Entrada gratuita, mediante a retirada de ingressos na plataforma Sympla e na bilheteria do teatro meia hora antes da sessão.