Inaugurada há 130 anos, rotunda do conjunto ferroviário de Ribeirão Vermelho vence a luta contra a deterioração e deverá ter concluída, até o fim do ano
A imponente construção de 3,3 milmetros quadrados de área coberta e forma circular, que lembra o milenar anfiteatro de Roma, passa por obras de restauração - (crédito: FOTOS: FELIPE C. V. PIRES/PREFEITURA DE RIBEIRÃO VERMELHO/DIVULGAÇÃO)
crédito: FOTOS: FELIPE C. V. PIRES/PREFEITURA DE RIBEIRÃO VERMELHO/DIVULGAÇÃO
Há monumentos que a gente visita, a passeio ou trabalho, e ficam gravados na nossa memória para sempre. Se estiverem degradados, então, clamamos por uma iniciativa urgente para preservar o bem cultural, histórico e de valor para a comunidade. Em 2009, estive com a equipe do EMno município de Ribeirão Vermelho, na Região Sul do estado, para conhecer a rotunda do conjunto ferroviário, construção inaugurada em 1895, às margens do Rio Grande. Mesmo à mercê da degradação, sem perder a imponência, a construção de 3,3 mil metros quadrados de área coberta e forma circular me lembrou o milenar anfiteatro de Roma. E aí entrou na minha cabeça como o Coliseu de Minas.
Agora, passados tantos anos, vem a boa notícia, conforme conta o secretário Municipal de Esporte, Lazer, Cultura e Turismo, Ícaro Henrique de Andrade Souza: deverá ficar pronta até o fim do ano a primeira etapa da obra de restauração da rotunda tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e município. O projeto para as intervenções orçadas em R$ 7 milhões foi dividido em três fases.
Na primeira etapa, são contemplados drenagem pluvial e cobertura; na segunda, paredes e esquadrias (portas, janelas, portões e outros); e na última, o piso, com calçamento. Para a primeira, iniciada há dois anos e em conclusão, a Prefeitura de Ribeirão Vermelho contraiu empréstimo no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), no valor referente a 65% do custo de R$ 1,5 milhão, e vai complementar o restante. Para a segunda etapa, os recursos (R$ 2,9 milhões) virão do termo de ajustamento de conduta firmado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) com uma empresa.
Conforme o MPMG, o projeto "Preservar para conhecer, conhecer para preservar – narrar, restaurar e recriar a Rotunda Ferroviária de Ribeirão Vermelho" visa à restauração do monumento e a promoção de atividades de engajamento comunitário e educação patrimonial no município com população de 4 mil habitantes. O projeto será executado pela Associação Arquitetas Sem Fronteiras (ASF Brasil), com início previsto para janeiro.
O recurso foi destinado, via plataforma Semente/MPMG, como parte das compensações de acordo assinado em novembro de 2024 e aditado em junho deste ano, no qual uma empresa se comprometeu a adotar uma série de medidas para reparar e compensar danos causados ao meio ambiente.
Para a última etapa, a prefeitura, proprietária do imóvel, busca parceiros. O secretário municipal informa que o espaço deverá abrigar um centro de convenções. Novo tempo, portanto, para a construção, considerada a maior do gênero, em Minas, no século 19, que funcionava como local de abrigo, manutenção e manobras dos trens. No centro, ficava um dispositivo denominado girador de locomotivas de onde irradiavam as linhas.
Nobreza
Edificação circular de 75 metros de diâmetro, a rotunda foi erguida com materiais nobres importados da Escócia e da França. Pesquisas mostram que serviu como principal instalação de manutenção da Estrada Férrea Oeste de Minas (em operação de 1881 a 1931, e depois encampada pela extinta Rede Ferroviária Federal), e continuou sendo usada como depósito de locomotivas até 1985, mesmo após a desativação do seu parque mecânico. Desde então, sofreu com as ações do tempo.
Em 2014, o conjunto arquitetônico de Ribeirão Vermelho foi tombado pelo Iepha-MG. Além da rotunda, o complexo inclui estações fluvial e ferroviária, oficinas, engenho de café e outras edificações históricas.
Busto do Mestre Valentim, artista mineiro...
Em 21 de julho, sob o título de “Um mineiro iluminado”, contamos aqui um pouco da história do Mestre Valentim, natural do Serro, antiga Vila do Príncipe – dias antes, havíamos fotografado o busto em bronze do artista, que fica na entrada do Passeio Público, no Rio de Janeiro. Pois a peça foi vandalizada, no último dia 16. Encontrada caída no chão, precisou ser retirada para avaliação técnica e reparos, conforme explica o secretário de Conservação e Serviços Públicos da Prefeitura do Rio, Diego Vaz. Em seguida, a Gerência de Monumentos levou o busto para Parque Noronha Santos, pois, com a queda, demanda reforços na base.
Peça foi vandalizada, encontrada caída no chão, precisou ser retirada para avaliação técnica e reparos
GUSTAVO WERNECK/EM/D.A PRESS – 21/7/2025 - PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO/DIVULGAÇÃO
...É alvo de vandalismo no Rio de Janeiro
Estudiosos da arte colonial brasileira consideram Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813), o Mestre Valentim, o “Aleijadinho do Rio de Janeiro”, com trabalhos em pedra (mármore e granito), metal e madeira, alguns de destaque no Jardim Botânico da antiga capital do Brasil. Ele viveu na cidade natal até os três anos, morou em Portugal e depois se estabeleceu na capital fluminense. No Brasil, Valentim trabalhou com um Barroco tardio, o rococó e o clássico. No Rio, fez o projeto original do Passeio Público, primeiro jardim aberto à população da cidade. E, por infeliz coincidência, nesse local, tem sua memória marcada pelo vandalismo quando são lembrados os 280 anos do seu nascimento.
Imagem de São Miguel Arcanjo
MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS/DIVULGAÇÃO
Parede da memória
Está desaparecida desde 1991, da Matriz Nossa Senhora dos Prazeres, no distrito de Milho Verde, no Serro, a imagem de São Miguel Arcanjo.Do século 18, em madeira esculpida, policromada e dourada, a escultura tem 66 centímetros de altura e 30 cm de largura. O templo foi tombado, em 1980, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Quem tiver informações sobre a peça sacra pode acessar a plataforma Sondar, do Ministério Público de Minas Gerais (sondar.mpmg.mp.br), na qual se encontra um acervo disponível com cerca de 2,5 mil bens culturais mineiros, a exemplo de documentos e peças de arte sacra.
Restauração 1
Boa notícia para os moradores de Diamantinae a legião de admiradores do Centro Histórico reconhecido como Patrimônio Mundial. Estão garantidos os recursos federais para restauração da Igreja Nossa Senhora do Carmo, uma das joias do conjunto arquitetônico da cidade. Na sexta-feira (26), foi assinado o termo de compromisso para o serviço, a ser viabilizado por meio do PAC Cidades Históricas – iniciativa do governo federal articulada pelo Iphan e realizada em parceria com a Prefeitura de Diamantina. Durante o ato de assinatura no templo do século 18, a superintendente do Iphan em Minas, Maria do Carmo Lara, o próximo passo será a licitação para as obras orçadas em R$ 8 milhões.
Restauração 2
Os serviços vão contemplar todo o templo, incluindo altares e demais elementos artísticos. Vai aqui uma curiosidade: trata-se da única igreja de Diamantina sem torre frontal. Conforme os estudos, o templo foi construído entre 1760 e 1765 com recursos do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, que viveu no antigo Arraial do Tijuco com a célebre Chica da Silva. A talha dourada dos altares em estilo barroco-rococó, de fins do século 18 encanta moradores e visitantes, assim como as pinturas do teto da capela-mor e da nave executadas pelo guarda-mor José Soares de Araújo, natural de Braga, Portugal, e irmão da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Já o órgão musical, mais antigo integralmente construído no Brasil, está em funcionamento. Nele, José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, considerado um dos maiores compositores sacros das Américas, executou muitas de suas partituras.
A arquiteta mineira Maria Cristina Rocha Simão lança “Diferentes olhares sobre a preservação das cidades: entre os dissensos e os diálogos dos moradores com o patrimônio” (Editora Dialética). O livro trata das relações estabelecidas entre moradores e o patrimônio urbano protegido – “como apropriam, significam e expressam essas relações, por meio da leitura do cotidiano desses lugares”, diz a autora, natural de Barbacena. Para fazer a pesquisa, foram escolhidas duas cidades que detêm o título de Patrimônio Mundial e são “tuteladas pelo estado na qualidade de casos-referência”. São elas Ouro Preto, em Minas, e Guimarães, no Minho, em Portugal. A obra está disponível no site da editora e na livraria Outras palavras, em Ouro Preto. Há também versão e-book, em várias plataformas de venda.