Taxa de cesárea impacta na incidência de acretismo placentário
Doença em que a placenta se adere ao útero de forma anômala é discutida por especialistas em evento realizado pela primeira vez no Brasil
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Siga noNo último sábado (26/5), aconteceu o Meet the Experts – IS-PAS, Simpósio Internacional de Especialistas da Sociedade Internacional de Acretismo Placentário em São Paulo. Sediado pela primeira vez no Brasil, o encontro foi realizado pelo Grupo Santa Joana, que conta com os hospitais e maternidades Santa Joana, Pro Matre Paulista e Santa Maria, em parceria com a International Society for Placenta Accreta Spectrum (IS-PAS), e discutiu os principais avanços na ciência no estudo do acretismo placentário – quando a adesão da placenta ao útero acontece de forma anômala, uma das mais desafiadoras complicações obstétricas.
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O Simpósio contou com a participação de Sally Collins, presidente da International Society for Placenta Accreta Spectrum (IS-PAS) e chefe da equipe de acretismo placentário da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Segundo a especialista, a incidência de casos de acretismo placentário tem aumentado nos últimos anos, sendo uma das causas a elevação das taxas de cesariana, uma vez que a cicatriz resultante de uma cesárea anterior é um importante fator de risco para a placenta acreta. “Para melhorarmos o diagnóstico, o tratamento e os desfechos, nós precisamos, enquanto clínicos, compartilhar conhecimentos, trocar informações e dialogar uns com os outros. E isso deve acontecer entre hospitais, países e continentes. Por isso, encontros como este são essenciais”, completa.
Segundo Hooman Soleymani Majd, cirurgião e consultor em ginecologia oncológica no Hospital Universitário de Oxford, o acretismo placentário é uma patologia complexa, que frequentemente exige realização de uma histerectomia, razão pela qual a experiência do médico é fundamental. “Quando o especialista atua na área de ginecologia oncológica, desenvolve habilidades cirúrgicas que podem ser incorporadas no manejo dos casos mais graves do espectro da placenta acreta, aumentando a segurança do procedimento, melhorando os resultados, reduzindo a morbidade e prevenindo a mortalidade" diz.
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O cirurgião ginecológico-oncológico comenta que escolheu cuidar de mulheres com complicações placentárias porque sentiu que poderia trazer algo inovador e compartilhar conhecimento com os demais colegas. "Foi assim que, juntamente com a professora Collins, desenvolvemos uma técnica cirúrgica – denominada Soleymani e Collins – que dispensa o uso de equipamentos de alta tecnologia e custo elevado. O procedimento pode ser realizado em qualquer cenário, mesmo em contextos de médios ou baixos recursos, contribuindo para salvar vidas. É essencial não se deixar se intimidar pela complexidade da operação e seguir protocolos bem definidos, de forma sistemática, abrangente, rigorosa e meticulosa”, destaca.
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Para Karin Fox, professora e especialista em Medicina Materno-Fetal na University of Texas Medical Branch (UTMB) em Galveston, no Texas (EUA), que também palestrou durante o evento, existem três pontos fundamentais que precisam ser debatidos: conscientização, padronização da linguagem clínica e pesquisas. “É impressionante como ainda poucas pessoas sabem que o acretismo placentário é uma doença – até serem afetadas por ela. Especialmente em um país como o Brasil, onde mais de 50% dos partos são realizados por cesariana, é essencial reconhecer a cesárea como um fator de risco e trabalhar para reduzir procedimentos desnecessários. Além disso, ainda há muito desconhecimento sobre como diagnosticar e tratar essa condição. Por isso, é crucial unir esforços para promover pesquisas de alta qualidade com treinamento médico e, assim, cuidar melhor de nossas pacientes”, comenta a especialista.
“Organizar esse evento, realizado pela primeira vez fora da Europa, e receber especialistas da Inglaterra, França, Estados Unidos, Finlândia e Portugal, foi extremamente importante para o Grupo Santa Joana e para o Brasil, já que tivemos participação ativa de especialistas de todo o território nacional por meio da Rede Brasileira de Acretismo Placentário. O acretismo placentário é uma doença que aumenta significativamente o risco de hemorragia, e essa continua sendo uma das principais causas de morbidade e morte materna no mundo. Para melhorarmos o cuidado às pacientes com esta condição, é fundamental criar consciência sobre as modalidades de diagnóstico precoce e sobre o planejamento da assistência, pois aquilo que faz a diferença entre a vida e morte é o parto sendo realizado em centros especializados com recursos e profissionais treinados”, diz Eduardo Cordioli, diretor Técnico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana.
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