
Voc� � uma das pessoas que preferem n�o falar nem ouvir sobre c�ncer porque “falar atrai”? Pois saiba que n�o � a �nica, embora a ideia esteja totalmente equivocada e amparada em preconceitos impregnados em nossa cultura. As pessoas confundem o diagn�stico do c�ncer com uma senten�a de morte. Outra ideia popular � a de que se trata de “um castigo”.
� necess�rio combater essas defini��es e o tabu relacionado a palavra “c�ncer”. Falar sobre o assunto, ouvir hist�rias, saber como � a preven��o e como o diagn�stico precoce interfere no sucesso do tratamento nos d� mais ferramentas para lidar com a doen�a – que � complexa, sim, mas que n�o deve ser supervalorizada como um monstro invenc�vel.
D�cadas atr�s, os tumores eram diagnosticados somente em est�gio avan�ado e poucas pessoas se curavam. Mas, hoje, isso mudou radicalmente. Com o diagn�stico mais precoce – poss�vel gra�as a in�meras tecnologias, incluindo os testes gen�ticos –, a gente tem um armament�rio muito mais eficiente para recupera��o do paciente, para tratar, para curar, para ter qualidade de vida. Com exames que identificam s�ndromes heredit�rias, hoje � poss�vel realizar at� mesmo programas de preven��o espec�ficos para indiv�duos com predisposi��o heredit�ria, reduzindo as chances ou at� evitando completamente o aparecimento do tumor. Isso n�o existia antes.
Outro grande problema do passado era o tratamento muito t�xico. N�o havia medica��o, por exemplo, para n�useas e v�mitos. As pessoas sofriam muito. Atualmente � tudo muito mais moderno. Tratar o c�ncer hoje n�o corresponde necessariamente �quela antiga imagem de pessoas passando muito mal, quando o tratamento, muitas vezes, trazia efeitos colaterais piores do que os sintomas da pr�pria doen�a.
Os laborat�rios de gen�tica molecular contribuem ainda para a sele��o de melhores terapias. � o que chamamos de tratamento de precis�o e personalizado, nos quais informa��es sobre os fatores e caracter�sticas gen�ticas do tumor, de sua carcinog�nese, permitem o uso de medicamentos mais eficientes e menos t�xicos. Essas terapias s�o elaboradas para atacar diretamente as c�lulas doentes, sem agredir tecidos saud�veis, como ocorreria na oncologia tradicional.
O preconceito ainda existe, tanto que alguns programas de TV se recusam a falar do tema "c�ncer" sob a alega��o de que a linha editorial foca somente em sa�de. Ora, levar conte�dos sobre preven��o, tecnologias que facilitam o diagn�stico, combater o preconceito e o tabu n�o � justamente promover a sa�de?
� importante a imprensa divulgar constantemente sobre como os bons h�bitos de vida (a alimenta��o saud�vel, o controle de peso, n�o fumar, n�o beber, o cuidado com a exposi��o � luz solar) contribuem para a preven��o do c�ncer. Estabelecer a rela��o entre as causas e a incid�ncia dessa enfermidade � indispens�vel, pois, apesar de as tecnologias de preven��o, rastreamento e tratamento terem evolu�do anos-luz, para alguns tumores a ocorr�ncia tem au- mentado. Estudo publicado recentemente na revista Jama Network Open, por exemplo, mostrou que as taxas de c�ncer aumentaram 30% de 1973 a 2015 entre adolescentes e adultos jovens norte-americanos, de 15 a 39 anos.
Apesar de fatos como esse, o cen�rio melhorou quanto ao acesso a informa��es. E a m�dia influenciou bastante. Inclusive, essa coluna � um exemplo disso: um espa�o para falar sobre a tem�tica de forma did�tica, algo impens�vel h� alguns anos. O conhecimento est� mais democratizado, dispon�vel nas telas dos celulares.
Desde que as pessoas procurem fontes confi�veis ou oficiais, elas t�m informa��es de melhor qualidade, diferentemente do que acontecia no passado, quando a principal fonte eram as rodas de conversas entre amigos.
A popula��o tem papel fundamental para desmistificar a palavra c�ncer: se educando, se informando com as fontes corretas, entendendo que o c�ncer � uma doen�a poss�vel de prevenir e de detectar precocemente. � importante perder o medo, quebrar o tabu.
Enquanto n�o se fala do c�ncer, est� se ocultando. Ou ent�o mitifica e mistifica. Por isso, convido voc� a falar bastante sobre esse tema. Uma vez que haja detec��o precoce, as chances de cura chegam a praticamente 100%.