
A pris�o domiciliar provocada pelo coronav�rus consegue ter, vez ou outra, uma fuga de alegria. Como o tempo n�o est� para brincadeira, e o frio s� pede cobertor e cama, a casa pode ser reconfortante. E nesse tempo estranho, quando n�o chove, temos que ir levando o cotidiano como � poss�vel. Depois de encarar uma conta da Copasa de mais de R$ 1.800, aprendi que com o frio � poss�vel molhar o jardim duas vezes por semana. Iniciei esse projeto e vou agradecer se der certo. Porque o meu jardim tem agradecido a �gua com alegria e muito luxo.
A cada dia que passa, tenho uma bela surpresa, como est�o acontecendo com meu cip� de S�o Jo�o. Para quem n�o conhece, � aquela trepadeira que s� floresce uma vez por ano e d� cachos lindos de flores laranja. Trouxe a muda do interior, ela cresceu no muro, foi parar no telhado da casa, do telhado passou pelos pinheiros do jardim. Resultado: o pinheiro est� com belos ramos de flores, al�m do muro. Quem chega em minha casa, v� logo a explos�o de cor de uma trepadeira pouco comum na cidade.
Outro lance mais do que bonito � a congea, uma trepadeira que foi se alastrando pelo muro da casa. Plantada na entrada, foi descendo muro abaixo e est� imensa, n�o s� na porta, como em uma mangueira de todo tamanho que tenho no fundo do jardim. Ela � linda, delicada, d� pequenas flores rosadas que cobrem tudo, n�o se v� uma s� folha em toda a �rea de ramagem. Da mangueira n�o se v� uma s� folha, � s� flor. Pena que a congea s� floresce uma vez por ano, dura muitas semanas floridas, mas o que resta em outros dias � apenas uma esp�cie muito farta de trepadeira, as folhas s�o bem verdes, permanentes.
Outra flor que me encanta � a cabe�a de velho. Recebi uma muda de minha amiga Consuelo Garzon, que n�o vejo h� muito tempo. Ela cresceu e tamb�m s� floresce uma vez por ano. Da noite para o dia, a �rvore, que n�o � pequena, deixa de ser completamente verde para se transformar em completamente branca. Cobre-se totalmente de flores que duram mais ou menor um m�s. Come�a a amarelar, o branco acaba e o verde volta.
Como se as flores n�o bastassem, a natureza ainda me deu outra alegria: uma leva de jabuticabas temporonas. J� contei aqui, mas n�o custa nada repetir, que tenho uma jabuticabeira que ganhei do ent�o governador e meu amigo H�lio Garcia. Uma ag�ncia da Caixa Econ�mica, na Avenida Afonso Pena, ia ser demolida e bem na ponta do terreno tinha um p� de jabuticaba que ia ser cortado. Pedi daqui e dali e o p� foi parar no meu jardim. � lindo, grande, e j� deu mais quatro filhotes. Ent�o, de vez em quando as frutas aparecem fora da esta��o.
Na primeira vez, foi quando meu sobrinho, que mora no Canad� com a fam�lia, veio passar f�rias aqui. Como acontece comigo, ele tamb�m adora jabuticaba. E meu p� deu uma boa safra, n�o muita, mas o suficiente para que ele matasse a vontade. Agora, ela deu uma nova safra. Adotei o truque que me ensinaram de colocar garrafas de vidro de tampa para baixo penduradas nos galhos para espantar morcegos, e deu mais ou menor certo. Consegui colher muitas “jabutis” e me fartei com elas. O reflexo s� apareceu na medi��o di�ria da glicose.
Trago esse prazer gastron�mico da minha inf�ncia, como sou de Santa Luzia, a maioria dos quintais tem p�s francos da fruta, que florescem todos os anos e foram companheiros dos meus dias de menina. Gostava tanto que uma tia querida, do meu lado paterno, mandava uns balaios da fruta para mim. E quando me mudei para uma casa, a primeira coisa que me veio � cabe�a foi ter uma jabuticabeira em meu jardim. Agora tenho cinco, mas por enquanto duas delas ainda n�o d�o frutos.
Herdei essa mania de minha m�e e, como ela, adoro orqu�deas. S� que este ano elas n�o est�o muito ativas, florescer que � bom, nada. Apesar de ter um cuidador que � craque no assunto. Vamos ver se daqui at� setembro elas tomem vergonha e flores�am.