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Estado de Minas MODA

Nas idas e vindas das tend�ncias da moda, a renda nunca desapareceu

Tecido delicado � recheado de hist�ria e est� de novo presente em todas as cole��es, nacionais ou importadas


26/03/2022 04:00 - atualizado 26/03/2022 03:22

Desfile com peças de renda
Material nobre do vestu�rio, renda volta a ocupar seu lugar na moda (foto: ROBERTA BRAGA e CHICO GOMES/Divulga��o)

Numa apropria��o rom�ntica do assunto, sem nenhuma base real, podemos pensar que o v�u que Pen�lope tecia enquanto esperava pela volta de Ulisses devia ser uma bela renda. N�o que exista qualquer registro sobre rendas naquela �poca. Mas a Gr�cia daquele tempo atribu�a grande import�ncia ao corpo, e os v�us e tecidos transparentes eram tidos em grande apre�o, produzidos com fios fin�ssimos de linho.

Na realidade, os tecidos de gaze e musselinas constitu�ram, a partir daquela �poca, o pren�ncio das futuras rendas. Mas o exagerado gosto pelas rendas que se verificou na Europa Ocidental entre os s�culos 15 e 18 poderia significar que, nesse per�odo hist�rico, o culto da beleza pl�stica das formas femininas teria atingido sua m�xima express�o. No que diz respeito � Europa, n�o foi exatamente isso que aconteceu. A loucura pelas rendas est� associada � cultura.

As rendas de Veneza, Alen�on, Argentan, Valenciennes, Malines, Chantilly, Bruxelas, Mil�o, Genova etc. eram verdadeiras preciosidades, transmitidas como joias de fam�lia. A posse e exibi��o dessas rendas significavam um determinado status social – e poder. Por essa raz�o, seu culto partia dos dois centros de comando: a corte e a Igreja.

Esse s�mbolo expl�cito de vaidade estava associado a alguns aspectos curiosos. A Igreja era a maior consumidora de rendas, que n�o s� enfeitavam a roupa dos bispos e padres como os altares. Os homens usavam mais rendas que as mulheres – faziam guerras recobertos de rendas, e os ex�rcitos carregavam rendeiras para fornecer seu trabalho para a tropa. Usadas pelas mulheres, eram sinal apenas de status, uma vez que s� a nobreza e a alta burguesia tinham acesso a elas.

A dificuldade da produ��o era um dos principais motivos para sua valoriza��o. Artesanais, as rendas podem ser divididas em tr�s grupos principais: as de agulha, executadas com agulhas de costura e um fio sobre suporte provis�rio de papel; a “de bilros”, que aprendemos a tecer com os portugueses, e o croch�. A de agulha nasceu em Veneza, no s�culo 15, mesma �poca da renda de bilros, e a mais antiga refer�ncia que se conhece desse tipo de trabalho consta de uma partilha de bens realizada por fam�lia italiana em 1493. Por isso, alguns historiadores acreditam que a de bilros � anterior � de agulha. A de bilros era produzida na It�lia; a de agulha, em Veneza – que, nessa �poca, era uma cidade-Estado independente.

Seu uso foi muito difundido, principalmente pelos pintores da Renascen�a – que chegavam ao detalhe de fornecer aos artes�os o modelo de renda que queriam pintar. Nasceu da� o primeiro livro de padr�es de rendas de que se tem not�cia, editado em 1528 por seu autor, Ant�nio Tagliante. Veneza auferiu lucros incalcul�veis com a venda de rendas para o mundo.

Paris descobre a renda e Catarina de M�dicis foi quem introduziu o uso da renda na corte francesa – e o modismo foi t�o desenfreado, que o dinheiro gasto na sua importa��o praticamente esvaziou os cofres da Fran�a. O baque foi t�o forte que o rei promulgou um decreto que proibia seu uso. Da� para descobrir que em lugar de importar era melhor produzir foi um pulo. A ideia partiu de Colbert, ministro de Luiz XIV que fundou, em 1665, na cidade de Alen�on, as Manufaturas reais o ponto de Fran�a – tocadas pelas m�os de 30 rendeiras de Veneza e 200 de Flandres.

Nasceu assim o ponto de Alen�on, que desbancou rapidamente o ponto de Veneza. Na Fran�a de Luiz XIV, o vestu�rio masculino se tornou um monumento ambulante do trabalho dessas rendeiras. Os homens usavam rendas nas golas encanudadas, nos punhos, nas luvas, nos len�os e at� nas botas. A Revolu��o Francesa significou um golpe mortal para as rendas. A maior parte dos centros produtores foi fechada – e jamais reaberta, mesmo quando Napole�o Bonaparte se interessou pessoalmente pelo assunto. Outro golpe mortal para a renda ocorreu no princ�pio do s�culo 19, com o aparecimento do tear mec�nico e das m�quinas que industrializaram o produto, tornando-o acess�vel a todos.

A renda de bilros chegou ao Brasil por meio dos portugueses e foi, durante muito tempo, ocupa��o dos conventos de freiras, que teciam alfaias para os altares das igrejas. Outro ponto de identifica��o que temos, nessa heran�a, � que as rendeiras daqui e de Portugal s�o sempre mulheres de pescadores. N�o que elas sejam especialmente vocacionadas para esse tipo de trabalho, mas porque pelo litoral � que chegavam as novidades – e as rendas.

Nas idas e vindas das tend�ncias da moda, a renda nunca desapareceu completamente das cole��es, seja vestindo noivas e debutantes, seja detalhando modelos toaletes. A alta-costura francesa tem nesse tipo de produto um grande aliado. E ela est� de novo em todas as cole��es, nacionais ou importadas.

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