
Domingo, dia 19, ficar� marcado como o do vel�rio do governo ou talvez o alvorecer de outro. Aparentando estar possu�do por alguma entidade sa�da dos anos trevosos da d�cada de 1930 na It�lia, Jair Bolsonaro subiu na ca�amba de uma picape e afirmou que “acabou a �poca da patifaria”, jurou n�o querer “negociar nada”, discursando para um grupo que pedia interven��o militar e asneiras subversivas.
N�o era nada disso, muito pelo contr�rio. Tentou um golpe de m�o, acuado por investiga��es contra seus tr�s filhos parlamentares, e, n�o encontrando respaldo, apelou ao que aprendeu como parlamentar.
Ambos os governos t�m Bolsonaro como presidente, mas o ferrabr�s d� sinais de que dividir�, ou ceder�, a cadeira presidencial para outro presidente parecido com o deputado de sete mandatos alojados em partidos do Centr�o – o bloco da direita fisiol�gica, conhecida pelo apetite por cargos p�blicos, nacos or�ament�rios e licita��es.
Depois de perder o ministro S�rgio Moro, num epis�dio que come�ou com a demiss�o do chefe da Pol�cia Federal, Maur�cio Valeixo, pouco se lixando tamb�m em rifar o popular ex-titular da Sa�de no auge da pandemia da COVID-19, Bolsonaro se mostra o que sempre foi: um pol�tico dedicado aos interesses pr�prios e da fam�lia.
Bolsonaro � atormentado pelo medo do impeachment, raz�o pela qual ati�ou a cachorrada virtual contra o presidente da C�mara, Rodrigo Maia; pela mem�ria do Queiroz, seu antigo escudeiro; e pela tutela militar. S� que, impulsivo e limitado, faz o jogo do tudo ou nada. Como agora, ao empurrar Moro e a Lava-Jato para a porta da rua.
Ex-poderoso juiz destemido, �dolo da classe m�dia moralista e que a levou a acreditar que pol�tica � valhacouto de bandidos, Moro j� n�o vestia saia justa, mas uma cueca que lhe esmagava os bagos.
“Chega da velha pol�tica”, gritou na ca�amba estacionada em frente ao QG do Ex�rcito. O grito de guerra do rebelde sessent�o soou como senha para um assalto ao Congresso e ao STF, como pedia a turba de apoiadores (v�rios policiais � paisana e seus familiares, o n�cleo raiz da extrema-direita minorit�ria, mas barulhenta, no pa�s).
A rea��o foi proporcional, com as institui��es constitucionais se armando para defender a democracia, inclusive nos termos da Lei de Seguran�a Nacional. O procurador-geral, Augusto Aras, pediu ao STF e foi autorizado a acionar o Minist�rio P�blico e a Pol�cia Federal para investigar quem patrocinou carreatas e tais inf�mias. E...
Par�as voltam com crach�
E Bolsonaro tornou transparente a negocia��o que j� vinha urdindo com o pessoal dos partidos do Centr�o mais atingidos pela Lava-Jato – gente fina como Roberto Jefferson, do PTB, Valdemar Costa Neto, do PL (ex-PR), ambos condenados, e outros da turma do “� dando que se recebe”, que tamb�m se encontra dispon�vel no Senado.
Na verdade, s�o seus velhos companheiros dos tempos de deputado, dos quais se afastou ao vestir a camisa da Lava-Jato e a bandeira do “novo” na pol�tica. Ele recorreu aos ‘par�as’ com a expectativa de abafar a lideran�a do presidente da C�mara, com o qual alterna hostilidade gratuita e reconhecimento pelo seu empenho em aprovar a agenda de reformas econ�micas e aquietar a pol�tica e o mercado. Mas e o discurso eleitoral de que viria para moralizar a pol�tica, repetido no ato ca�ambeiro? Foi como despedida de solteiro, quando tudo � liberado, menos esquecer a noiva no altar no dia seguinte.
O anacronismo na economia
Bolsonaro � assim, com personalidade multipolar. Dotado de parcos recursos pessoais sobre como gerir um pa�s, a pandemia lhe tirou os p�s do ch�o. Ao assistir � parada abrupta da economia, o pandem�nio em hospitais do SUS e a inabilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, para vencer o quinqu�nio de estagna��o e planejar como sair da depress�o, voltou-se � doutrina desenvolvimentista da caserna.
Seus ministros fardados nunca acenderam vela para o neoliberalismo de Guedes, focado na austeridade dos programas sociais, parcim�nia com os privil�gios da alta burocracia e omiss�o com os subs�dios e desonera��es tribut�rias dos setores retr�grados. �, na pr�tica, a mesma pol�tica desde o segundo governo Dilma Rousseff, o que levou � maior recess�o da hist�ria, seguida da estagna��o pelo quarto ano consecutivo e que adentrava em 2020 antes da pandemia.
Pa�s algum no mundo, da Inglaterra da Revolu��o Industrial aos EUA da independ�ncia para frente, enriqueceu sem �ntima rela��o entre a estrutura pol�tica e burocr�tica do Estado e o setor privado. Nem a China de economia planificada at� 1978 e cada vez mais privada. S� aqui o anacronismo do pensamento econ�mico � seguido � risca.
Novo comunista do peda�o
Dessa salada de eventos nocivos para a economia, mal�ficos para as expectativas sociais e certamente danosos para a sa�de coletiva, vai sair o Brasil do futuro imediato. O cen�rio � p�ssimo. Se nos EUA o desemprego j� chega a 16%, a maior taxa desde a Grande Depress�o dos anos 1930, n�s, como economia derivada, � que n�o vamos sair do enrosco falando em a��es que j� eram obsoletas no s�culo passado.
Os modelos econ�micos estavam questionados em todas as democracias ocidentais antes da pandemia. Com as medidas in�ditas de isolamento social ou lockdown adotadas para conter a contamina��o e evitar um genoc�dio, discutir a economia com mente aberta se tornou imperioso. � o que fez o general Walter Braga Netto, ministro da Casa Civil, ao anunciar as diretrizes do que vir� a ser um programa de retomada do investimento p�blico e privado em infraestrutura.
� o melhor plano de retomada da economia, �nico at� agora que para de p�, e, no entanto, foi recebido com pedras pela equipe econ�mica e ca�oado por economistas na imprensa sem saberem do que se trata.
Esse Brasil n�o se ajuda. Parlamentares fisiol�gicos recebidos de bra�os abertos por radicais da moralidade que n�o se vexam de ser assassinos de reputa��es, como fazem com Rodrigo Maia, e come�am a fazer contra S�rgio Moro, “novo comunista” do peda�o. Assim n�o vai – mas h� solu��o. Dif�cil, mas h�. S� n�o est� nas redes insociais.
