
O mundo avan�ou, os pa�ses que estavam atr�s de n�s nos anos 1980, quando aqui teria havido um tal “milagre econ�mico”, nos tomaram a dianteira. Um deles, a China, em breve dever� superar os EUA como superpot�ncia e, em 2025, sua economia j� ser� maior que a do Jap�o, Alemanha, Fran�a, It�lia e Canad� reunidos. E nem mais temos, ao menos, a Sele��o e o Ayrton Senna para afagar a estima nacional.
A cada solavanco do pa�s, provocado seja por eventos externos como a pandemia da COVID-19 este ano e a grande crise de Wall Street em 2008, seja por causas internas, como os surtos inflacion�rios antes da reforma monet�ria de 1994 e o impeachment de Dilma em 2016, h� o vi�s mal disfar�ado como torcida de retorno � “normalidade”. Qual?
Os indicadores da economia perdem vi�o a cada recess�o, adiando a reden��o social para a maioria da popula��o, que nasce e morre com a carteira de trabalho em branco. S� lhe resta o mercado informal.
Assim estamos agora, com a economia saindo do baque das medidas de isolamento social. O ministro da Economia da vez vende otimismo no notici�rio, empres�rios falam de falta de insumos, o d�lar humilha o real, a infla��o d� as caras, os operadores de pap�is da d�vida p�blica e seus economistas se descabelam, cada qual encenando o seu papel: encurralar o Banco Central, para desistir dos juros baixos, e cobrar o governo e os pol�ticos para enxugar os gastos p�blicos.
O que est� acontecendo e o que vai acontecer depois da pandemia? Para o bem, anote-se que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, est� certo ao dizer que a infla��o subiu pontualmente e tende a desinflar se o gasto p�blico excepcional devido �s a��es contra a pandemia sair de cena ao fim do ano, como manda a lei.
� certo esperar. A Selic a 2% ao ano � essencial para a rolagem da d�vida do Tesouro, que saltar� de 75,8% do PIB em 2019 para 91,5% este ano. D�vida alta pede juro baixo, que n�o tem raz�o de subir com a infla��o pr�xima da meta e a atividade econ�mica e o emprego ainda deprimidos.
O fosso que s� se alarga
Para o mal, anote-se que a retomada da economia se d� sobre uma base que encolha a cada retrocesso, al�m de a expans�o ocorrer em setores cuja produtividade � baixa, como servi�os, ou que geram pouco emprego e pouca receita tribut�ria, como o agroneg�cio.
Ao fim, se a economia cair em torno de 4% este ano e recuperar tal perda em 2021, o que est� no limite superior das proje��es apuradas pelo BC, chegaremos a 2022 com o produto interno bruto (PIB) ainda 0,26% abaixo do n�vel em que estava em 2019. E nem isso � certo.
A realidade a ser encarada � que a atividade econ�mica no Brasil cresce menos que o necess�rio h� 40 anos para suprir o aumento da popula��o e permitir a eleva��o do bem-estar. Trata-se de um fosso que se alarga quanto mais tempo perdemos priorizando o lado fiscal das contas p�blicas em vez da governan�a do Estado brasileiro e do planejamento do crescimento. Em rela��o aos pa�ses mais din�micos do mundo, como a China, a dist�ncia talvez j� seja inalcan��vel.
Desde 1980, segundo Pedro Ferreira e Renato Fragelli, professores da FGV, a renda per capita cresceu apenas 0,6% ao ano, enquanto a da China avan�ou 7% ao ano. Nos EUA, 2% ao ano. Nestes 40 anos, por duas vezes a d�cada foi perdida, com a renda per capita regredindo 0,6% de 1980 a 1990 e de 2010 a 2020.
Arrimos do caixa p�blico
Tais resultados explicam e resumem as mazelas que nos chocam – da pobreza end�mica, que nem sensibiliza os afortunados de t�o antiga, � viol�ncia, passando pela elei��o de Jair Bolsonaro mais como um voto de protesto por tal situa��o, j� que os pobres correspondem a 70% da popula��o, que endossa as suas propostas.
Ele pr�prio entendeu, ao se surpreender, e mais ainda o ministro Paulo Guedes, com a multid�o de trabalhadores informais habilitada a receber o aux�lio emergencial, 67 milh�es de pessoas. Equivale a mais de 80% da for�a de trabalho com carteira assinada.
Parece �bvio que mais que um Bolsa-Fam�lia refor�ado para resgatar a popularidade de Bolsonaro, do que o pa�s precisa � de crescimento econ�mico robusto por anos seguidos, de 3% no m�nimo, e de est�mulos para a expans�o empresarial e investimentos criadores de empregos. Ou todos nos tornaremos arrimos do Estado, dirigido por med�ocres. J� estamos perto. Os arrimos do caixa p�blico representam 36% da popula��o total. Ou 79% da for�a de trabalho atual de 96 milh�es.
N�o bastam s� as reformas
A reconstru��o da economia, tal como se debate tamb�m nos EUA, n�o se limita a voltar � pr�-pandemia. Se l� a cria��o de bons empregos est� na ordem do dia, cobrada pela classe m�dia em retra��o, aqui o metro � menor – prover emprego decente, assim como educa��o e sa�de eficazes, � a prioridade. L� e c� isso vir� com investimento pesado p�blico e privado, al�m de meios para grande dinamismo empresarial.
N�o bastam as reformas estruturais velhas conhecidas, at� porque a maioria delas s� ter� efeito anos depois de ser aprovada, enquanto h� urg�ncias a enfrentar dependentes do crescimento.
N�o h� rela��o de causa e efeito entre crescimento e ajuste fiscal – e n�o passa de vodu ideol�gico a ideia de que tudo o que vem do Estado � ruim. Nos EUA, onde at� o processamento do IR � operado por uma empresa privada, a indu��o empresarial sob v�rias formas � pr�tica recorrente desde os anos 1930 e sua expans�o foi anunciada pelas campanhas de Donald Trump e pelo presidente eleito, Joe Biden.