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Estado de Minas BRASIL S/A

O d�lar n�o cai no Brasil porque h� muitos esquecidos e distra�dos

Falta de mem�ria abala a moeda estrangeira, a infla��o, o crescimento, e deixa a economia desgovernada


17/10/2021 04:00 - atualizado 17/10/2021 08:20

Preços das carnes em açougue em Belo Horizonte
Moeda depreciada e pre�os internacionalizados formam a combina��o demon�aca que explode a carestia, da carne � gasolina (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)


Em meio � profus�o de not�cias e “narrativas”, como hoje se diz, emanadas de Bras�lia, h� algumas poucas certezas. A primeira � que a economia n�o vai decolar ano que vem, ao contr�rio do que diz o ministro Paulo Guedes e repetiu em Washington, na assembleia anual do FMI. Se ele estivesse certo, errado estaria o Banco Central.

Com a infla��o ganhando for�a, sobretudo pela deprecia��o cambial que come�ou no fim de 2019 e foi recebida com enc�mios por Guedes, porque impulsionaria as exporta��es e acabaria com as viagens das dom�sticas � Disney – “uma festa danada”, disse ele em fevereiro do ano passado, talvez por achar, como Bolsonaro, que a COVID fosse s� uma “gripezinha” –, os senhores da economia, distra�dos, n�o viram as sequelas sobre a infla��o, que j� passa de 10% em 12 meses.

� o que levou o BC a voltar a inflar a Selic – com atraso, segundo os defensores do capinancismo brasileiro – para encarecer o cr�dito e, assim, esfriar a demanda, portanto, o crescimento econ�mico. Mas, tamb�m, para atrair os d�lares vadios que vagam o mundo � procura de barganhas, n�o de oportunidades de investimentos de longo prazo. Deixando mais claro: o governo age, por meio do BC, para esfriar a economia, n�o para faz�-la decolar, crescer em V, como Guedes diz.

Quanto mais d�lares chegarem, mais o real poder� apreciar-se – e menor a press�o inflacion�ria. Os pre�os de alimentos relevantes e dos combust�veis seguem a paridade internacional, e l� fora eles est�o em alta. Moeda depreciada e pre�os internacionalizados formam a combina��o demon�aca que explode a carestia, da carne � gasolina. Tem de ser assim? N�o, ao menos n�o tanto quanto tem sido.

O mesmo boom de commodities que felicitou os dois governos Lula, gra�as ao apetite da China por gr�os, prote�nas e min�rios, voltou parcialmente em 2020, azeitando as rela��es de troca do pa�s, que significam pre�os melhores de exporta��es vis-�-vis de importa��es.

Pera a�! Se nossas commodities s�o competitivas, se os seus pre�os est�o bombando no mundo, se a China importa o que estiver � venda, se as exporta��es batem recordes (com as commodities representando 70% do total exportado, dos quais 44% de soja, min�rio de ferro e petr�leo, contra ralos 33% de manufaturados, que j� foram mais de 60% at� 2003), por que diante dessa configura��o t�o confort�vel o d�lar n�o cai no Brasil? Porque h� muitos esquecidos e distra�dos.

BC tem de ser temido

Em 2006, quando o ingresso maci�o de divisas valorizava o real, amea�ando a ind�stria e as exporta��es, o governo tomou a decis�o adequada � ocasi�o. Al�m de o Tesouro se endividar para comprar o excesso de d�lares, rompeu com uma regra de 1933 ao permitir que parte das cambiais dos exportadores pudesse ficar no exterior.

Tais a��es sancionadas pelo ent�o presidente Lula deram ao pa�s o que nunca tivera: reservas de divisas geridas pelo BC superiores � d�vida externa soberana. Nunca mais houve crise cambial, principal causa de insolv�ncia na Am�rica Latina, sendo Argentina a campe�. Atualmente, as reservas somam US$ 356 bilh�es, das maiores no mundo, e, em tese, deveriam fazer o BC ser temido pelos especuladores.

Se operasse com derivativos cambiais no mercado futuro, a turma da arbitragem de taxas de juros e moedas precisaria ter muito sangue frio para mexer com o real. Mas, comportado, o BC aplica o grosso das reservas em t�tulos dos EUA, que rendem quase nada.

O dinheiro dos exportadores l� fora tamb�m est� esquecido, embora totalize US$ 46 bilh�es na contagem recente do BC. Se chamasse de volta parte destes fundos, o real estaria ao redor de R$ 4,50 por d�lar, a cota��o considerada justa pela maioria dos especialistas.

Ziquizira do c�mbio?

O problema de muitas distor��es na economia se deve a regras mais ideol�gicas que t�cnicas, assentadas na primazia do mercado, apesar de conspirar contra os interesses da economia real e da popula��o. Por autoimposi��o, o BC n�o opera conforme seus pares dos EUA, da Europa do euro, do Jap�o, da Inglaterra passaram a operar desde a crise de 2008. O Congresso aprovou com o tal “or�amento de guerra”, que permitiu o governo enfrentar a pandemia gastando acima do teto de gasto, a permiss�o para o BC recomprar pap�is de d�vida.

Nos EUA, do fim de 2019 at� o trimestre passado, o Tesouro captou US$ 5,4 trilh�es com seus t�tulos, dos quais o Fed absorveu mais da metade, US$ 3 trilh�es. Se o BC operasse assim, parte da d�vida que o Tesouro emitiu para financiar os gastos excepcionais na pandemia, como o aux�lio emergencial, n�o viria a mercado. O BC n�o teria de recompr�-la por meio de “opera��es compromissadas” de at� 90 dias, que pressionam os juros e d�o corda aos que falam de “precip�cio fiscal”, como se o pa�s estivesse � beira da insolv�ncia.

A d�vida bruta de 82% do PIB desce para 61%, abatendo-se a parte das reservas em d�lares do BC. Chega-se assim ao conceito de d�vida l�quida, cujo n�vel n�o � nada anormal, comparado aos das economias emergentes e desenvolvidas. Por que, ent�o, a ziquizira do c�mbio?

Recado aos distra�dos

O pa�s tem problemas fiscais s�rios, mas devido � p�ssima aloca��o dos dinheiros p�blicos, sequela da captura do or�amento pela elite da burocracia e por partidos que alugam apoio a presidentes fracos. N�o surpreende que milhares tentem a vida pol�tica e quem se elege cuida de reeleger-se e traz a fam�lia para a roda. Bolsonaro � esse pol�tico padr�o, assim como a maioria que o apoia no Congresso. N�o acham dinheiro para ampliar o Bolsa Fam�lia e para dar absorventes a mulheres pobres, mas t�m para as emendas e o “or�amento secreto”.

S�o tantas distra��es que se “esquecem” de que uma economia aberta exige estoques reguladores da cesta b�sica, como arroz e feij�o, e do que tem pre�o dolarizado, como gasolina, diesel, carne, milho. Isso h� nos EUA. E havia aqui at� que o governo passado os reduziu ao m�nimo para poupar um troco no or�amento e dar poder de mercado � Petrobras, ent�o combalida, e ao agroexportador. Deram a isso o nome de reformas liberais...

Distra��es. Amn�sias. E erros, como rebaixar o real, esperando impulsionar o crescimento estagnado exportando o que dispensa esteroide cambial. A ind�stria foi lesada, pois opera integrada �s cadeias produtivas globais, e a infla��o acordou. � a nossa crise. Sem compreend�-la, n�o h� como resolv�-la.

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