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Estado de Minas DESCONSTRUIR ESTERE�TIPOS

Por que h� t�o poucas pessoas negras em cargos de lideran�a?

Racismo estrutural faz com que postos de destaque sejam associados apenas a pessoas brancas


27/08/2021 06:00 - atualizado 27/08/2021 09:33

Repórter Luiz Teixeira, da TV Globo(foto: Reprodução)
Rep�rter Luiz Teixeira, da TV Globo (foto: Reprodu��o)
 
H� alguns anos, fui trabalhar durante um feriado e, para entrar na empresa, era necess�rio passar por um vigia. Ele pediu meu documento e perguntou se eu era funcion�rio da lanchonete. Expliquei que era jornalista e que trabalhava em uma r�dio. Ele me olhou de cima a baixo e perguntou de novo: “voc� trabalha na lanchonete?!”.
 
Mesmo eu explicando que iria para a r�dio, por mais duas vezes, ele perguntou se eu trabalhava na lanchonete. N�o h� nada de errado ou indigno em trabalhar como gar�om, caixa, ou em algum  outro cargo em uma lanchonete. Mas observe bem: mesmo explicando, in�meras vezes, que eu era jornalista, ainda sim, o vigia “deduziu” e insistiu que, por ser negro, s� poderia trabalhar na lanchoente. 
  
Volta e meia, outros colegas de profiss�o, infelizmente, tamb�m passam por isso. Nessa semana, o rep�rter esportivo Luiz Teixeira, da Rede Globo, usou as redes sociais para denunciar um caso de racismo durante o credenciamento de um jogo.
 

'O jornalista relatou que foi ''questionado'' sobre a sua fun��o: ''mais uma vez fui 'questionado', no credenciamento de um jogo, se eu era c�mera ou auxiliar, mesmo sendo o �nico rep�rter de campo e com a roupa da transmiss�o. N�o fiz nem seis meses de TV Globo e perdi as contas de quantas vezes isso j� aconteceu. � duro aceitar um rep�rter negro?'', escreveu no Twitter.'

 
 
O jornalista relatou que foi "questionado" sobre a sua fun��o: "mais uma vez fui 'questionado', no credenciamento de um jogo, se eu era c�mera ou auxiliar, mesmo sendo o �nico rep�rter de campo e com a roupa da transmiss�o. N�o fiz nem seis meses de TV Globo e perdi as contas de quantas vezes isso j� aconteceu. � duro aceitar um rep�rter negro?", escreveu no Twitter.
 
"Todas as fun��es s�o essenciais e importantes para uma transmiss�o de TV acontecer. TODAS! Mas ser sempre o 'confundido' gera um desgaste grande e pra mim NUNCA ser� normal, principalmente por saber o real motivo do 'deslize' e por ver que o 'procedimento padr�o' s� serve pra um", acrescentou.
 
Mas se voc� acha que essas s�o exce��es, proponho que fa�a um exerc�cio r�pido: Voc� vai se consultar pela primeira vez  com um/uma cardiologista. Quais as caracter�sticas f�sicas voc� acredita que esse profissional possui? Para muitos pessoas, automaticamente vem � cabe�a a imagem de um homem, branco e cis. 
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), as pessoas negros representam mais de metade (56%) da popula��o brasileira. Diante disso, o que leva as pessoas a naturalizarem a aus�ncia de pessoas negras em postos de destaque? Por que, em diferentes situa��es e momentos da minha vida, me deparo com pessoas duvidando, estranhando ou questionando se realmente sou jornalista, estudante de p�s-gradua��o e palestrante? 
 
O racismo estrutural � a resposta. Ele se manifesta de diferentes formas, uma delas � criando barreiras para pessoas negras n�o ocuparem pontos de destaque e tomadas de decis�o. S� para voc� ter uma ideia, menos de 5% dos altos cargos nas empresas s�o ocupados por pretos ou pardos, de acordo com a pesquisa realizada pela consultoria Talenses em parceria com o Insper. � poss�vel perceber essa segrega��o at� dentro do cinema nacional.
 

'O que leva as pessoas a naturalizarem a aus�ncia de pessoas negras em postos de destaque? Por que, em diferentes situa��es e momentos da minha vida, me deparo com pessoas duvidando, estranhando ou questionando se realmente sou jornalista, estudante de p�s-gradua��o e palestrante?'

 
Dos 142 longas-metragens lan�ados em 2016, 75,4% foram dirigidos por homens brancos. Nenhum de todos esses filmes foi dirigido ou teve como roteirista uma mulher negra. Os dados s�o da Ag�ncia Nacional de Cinema (Ancine). Ainda de acordo com a Ag�ncia, em 75,3% dos longas nacionais, os negros s�o, no m�ximo, 20% do elenco.
 
Com o passar dos anos, essa aus�ncia e falta de representatividade da comunidade negra em lugares de protagonismo infelizmente foi naturalizada.
Silvio Almeida, advogado, fil�sofo e professor universit�rio, explica em seu livro "Racismo Estrutural", que o racismo � sempre estrutural, ou seja, integra a organiza��o econ�mica e pol�tica da sociedade brasileira. Al�m disso, em seu livro, ele explica como desde os prim�rdios o racismo foi fortalecido pelas teorias filos�ficas, jur�dicas e cient�ficas no Brasil. Ou seja, n�o � poss�vel combater o racismo sem entender que ele � estrutural. 
 
Esse � um assunto que tamb�m vou abordar em outros artigos, mas aqui deixo algumas perguntas que voc� pode refletir sobre as manifesta��es do racismo estrutural no seu dia a dia: 
 
  • Qual � a cor dos diretores e presidentes da empresa que voc� trabalha? 
  • Quantas atrizes e atores negros s�o protagonistas em suas novelas ou s�ries favoritas?
  • Quantos cantores sertanejos negros de sucesso voc� conhece? 
  • Quantos profissionais da arquitetura e dentistas negros e negras voc� conhece?
  • Qual � o imagin�rio das elites brasileiras em rela��o �s pessoas negras? 
  • Perguntas como essas s�o fundamentais para ajudar a refletir sobre a rela��o entre corpos e viv�ncias negras e postos de destaque e de protagonismo.

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