
O t�tulo desse artigo parece �bvio, mas, na pr�tica, n�o � bem assim. Desde a inf�ncia, por diversas vezes nosso nome � substitu�do por ofensas e apelidos racistas, como: "nega do sarav�", “macaco”, “asfalto”, "carv�o", "galinha preta", "fuma�a", entre outros.
Tanto no meu ensino fundamental como na conviv�ncia com colegas em brincadeiras na rua, minha inf�ncia foi marcada por esses apelidos maldosos - que ficavam ainda piores quando pedi para n�o ser chamado assim. Com isso, em v�rias situa��es ficava mais calado, quieto para n�o ser visto e, assim, evitar ser alvo dessas “brincadeiras”.
'ofensas e apelidos racistas s�o um legado direto do racismo estrutural que come�ou a ser alimentado por essas terras desde 1535'
O que para algumas pessoas pode ser encarado “apenas com uma brincadeira de crian�a”, na realidade s�o atos que ridicularizam, ferem, magoam e atrapalham nossa autoestima. Essas ofensas e apelidos racistas s�o um legado direto do racismo estrutural que come�ou a ser alimentado por essas terras desde 1535.
Foram mais de 300 anos desumanizando, coisificando e destruindo corpos negros, al�m do apagamento das muitas linguas, culturas, identidades e ra�zes negras. Ali�s, uma das primeiras a��es de controle dos colonizadores e seus descendentes era mudar os nomes e sobrenomes dos escravizados.
'crian�as n�o nascem racistas, elas s�o ensinadas, e qual melhor ensinamento que o exemplo, n�o � mesmo?'
Al�m disso, os escravizados eram chamados por diferentes express�es e apelidos depreciativos. Atitude racista que atravessou s�culos e que ainda se manifesta na forma como pais, m�es e respons�veis falam e enxergam a popula��o negra. At� porque, como j� apontei em um outro artigo, crian�as n�o nascem racistas, elas s�o ensinadas, e qual melhor ensinamento que o exemplo, n�o � mesmo?
E al�m dessas ofensas “disfar�adas de piadas ou brincadeiras de crian�a”, existem outras formas que demonstram a naturaliza��o com a sociedade muitas vezes “esquece” que crian�as negras t�m nome. Quer exemplos? Quantas vezes voc� j� falou frases parecidas: “neguinha, sua m�e est� em casa?”, “� o moleque pretinho da rua de cima”, ou “oh neguim, vai l� na mercearia pra mim”?
'o branco n�o � encarado como ra�a, o branco � naturalizado, o branco � a met�fora do poder'
“Vixi Arthur, agora n�o posso falar mais nada que � racismo. Quando eu falo essas coisas, falo porque tenho carinho pela crian�a”. Diante desse argumento, bora pensar uma coisa: quantas vezes na vida voc� soltou uma frase semelhante: “oh branco, vai buscar um refri na mercearia pra mim”? Se fosse s� por uma quest�o de carinho, isso tamb�m caberia para as crian�as brancas.
Sabe porque voc� n�o faz isso? Porque o branco n�o � encarado como ra�a, o branco � naturalizado, o branco � a met�fora do poder. Quer um exemplo simples que demonstra isso? Na sua inf�ncia, qual era o �nico l�pis que tinha o nome de cor de pele? Era um l�pis bege clarinho n�?
Como j� falei, crian�as aprendem muito mais pelo exemplo. Voc� j� viu alguma crian�a falando frases como: “branco, vamos brincar?” ou “branco, me empresta o l�pis?”. Essa crian�a pode tornar-se um adulto que naturaliza o ato de n�o atribuir nome a crian�as e pessoas negras.
O nome de uma pessoa tem uma liga��o direta com identidade, humanidade, autoestima e ess�ncia. Seja de forma consciente ou inconsciente, quando voc� simplesmente ignora o nome de uma crian�a negra e atribui a ela diferentes formas de cham�-la com express�es que d�o manuten��o ao racismo estrutural, esse movimento contribui para a desumaniza��o dessa crian�a.
Muitas pessoas me perguntam, principamente nesse M�s da Consci�ncia Negra, como ser antirracista. Existem diferentes maneiras, mas em todas n�o pode faltar uma coisa: a PR�TICA!
Por meio do exemplo e da pr�tica escolar, pais, m�es e respons�veis podem ensinar seus pequenos e pequenas que crian�as negras t�m nome!