
Voc� sabe o que s�o os vieses inconscientes? S�o cren�as, pensamentos e atitudes que aprendemos e nutrimos ao longo da vida e que n�o temos necessariamente consci�ncia. Ou seja, comportamentos que, em grande parte das vezes, s�o guiados por padr�es mentais sistem�ticos e n�o por avalia��es racionais e conscientes.
Por exemplo, quando escovamos os dentes, pensamos de forma consciente em cada movimento que realizamos com a escova? N�o! Ou quando voc� est� dirigindo, voc� pensa de forma consciente em todas as decis�es e movimentos que precisa realizar com as m�os e p�s?
'Como eu olho e trato pessoas que n�o fazem parte da minha bolha?'
Se todas as nossas a��es e decis�es do dia a dia fossem tomadas de forma consciente, exigiria de n�s um gasto de energia muito grande, por isso, para garantir a nossa sobreviv�ncia, nossa mente e corpo buscam caminhos para poupar energia. Uma dessas formas � agir de maneira inconsciente.
Ou seja, por meio da repeti��o de pensamentos, atitudes e comportamentos, as atividades do dia a dia se tornam autom�ticas e naturais e essa � uma das formas que nascem os vieses inconscientes.
Dito isto, o vi�s � um aspecto natural do c�rebro humano. Mas em muitos casos, ele acaba sendo uma ferramenta que ajuda na manuten��o de estere�tipos, preconceitos e discrimina��es.
Desde muito cedo familiares, amigos, as diferentes m�dias, novelas, publicidades, entre outros, nos apresentam o que � “padr�o”. “O padr�o a ser seguido” no afeto, sexualidade, beleza, g�nero, e por a�….O que sai dessa bolha “padr�o”, olham e tratam como menor, feio, errado e negativo. Tanto que, muitas vezes, sem perceber, naturalizamos falas e comportamentos preconceituosos. Isso inclui atitudes racistas.
Se liga nos exemplos “sutis”. Uma vez, comprei uma torta online e fui retir�-la na loja. Quando cheguei, os atendentes me olharam de cima a baixo com uma cara de nojo, nem mesmo deram um “bom dia”. A mo�a que me atendeu jogou o pacote no balc�o e perguntou se eu era o entregador do ifood.
J� nesta semana, fui buscar o contrato do meu primeiro apartamento e, na recep��o do pr�dio onde fica a construtora fica, a mo�a que trabalha na portaria perguntou:
O que voc� quer?
Vim buscar um documento na construtora “y”.
Mas voc� tem hora marcada?
J� avisei a construtora sobre minha visita.
Hum, ent�o voc� � o office boy n�?
N�o, vim buscar o documento do meu apartamento.
Ah t�…
Em 2010, assistindo a transmiss�o da Copa do Mundo na �frica do Sul, escutei o seguinte coment�rio: “olha l�, toda hora a c�mera mostra aquele seguran�a”. Essa frase se referia ao presidente da �frica do Sul.
Durante o vel�rio de Mar�lia Mendon�a, v�rios jornais "confundiram" e disseram que o padrasto da cantora era um seguran�a que consolava a m�e de Mar�lia.
E, mesmo quando a pessoa tem a inten��o de ser uma aliada na luta contra o racismo, �s vezes, ela tamb�m manifesta falas, olhares e atitudes racistas, porque n�o deu a import�ncia devida em visitar e desconstruir seus vieses raciais inconscientes.
Quer provas de como essa quest�o tamb�m atravessa a sua vida? Pense agora em um m�dico bem-sucedido, que tem uma linda casa, j� concedeu v�rias entrevistas para a TV e � reconhecido internacionalmente. Me diga, qual imagem veio � sua cabe�a? Um homem branco, hetero, cis?
Quantas vezes voc� presenciou pessoas mudando de cal�ada, ou quantas vezes voc� j� mudou de cal�ada apenas porque viu um homem negro caminhando em sua dire��o?
Esses julgamentos e generaliza��es s�o comandados pelos vieses inconscientes e impactam todas as nossas rela��es. Tudo isso contribui para aumentar a falta de acesso � educa��o, sa�de, moradia digna, trabalho e oportunidades de crescimento na carreira para a comunidade negra. Afeta como a sociedade brasileira olha e trata a popula��o negra.
Quer ver uma coisa, porque � t�o dif�cil para o Brasil imaginar uma mulher negra ocupando o cargo de presidente do pa�s?
Para muitas pessoas uma mulher negra s� pode ser a “tia da cantina” (que � um termo muito pejorativo, essa trabalhadora tem nome), a caixa do supermercado, a pessoa que atende na padaria, a diarista que realiza faxina. Mas imaginar uma mulher negra em um cargo de poder, ainda mais o mais alto do pa�s, � praticamente imposs�vel. Ou seja, durante s�culos o vi�s que pessoas negras n�o podem ocupar postos de lideran�a foi alimentado.
Al�m disso, � muito importante ressaltar que todas as pessoas s�o suscet�veis aos vieses e, muitas vezes, acabamos reproduzindo, por meio de um olhar ou fala, comportamentos preconceituosos, discriminat�rios ou cheios de estere�tipos. Mesmo n�o sendo por maldade, isso n�o pode ser usado como desculpa para manter esse comportamento. Isso n�o reduz os preju�zos que nasceram dessa atitude.
Mas Arthur, o que pode ser feito para mudar tudo isso? Diante de vieses inconscientes que fomentam o racismo estrutural, institucional e recreativo, por exemplo, � necess�rio primeiro admitir que voc� j� reproduziu tais atitudes e comportamentos em diferentes momentos da sua vida. � importante reconhecer que esses vieses existem e como falei, at� sem perceber, voc� j� os reproduziu.
Em seguida � importante se responsabilizar e se comprometer em mudar a forma como pensar, mudar suas atitudes e comportamentos.
E para isso � necess�rio iniciar um processo de autoconhecimento! Durante a sua inf�ncia e adolesc�ncia, como sua fam�lia, amigos e conhecidos tratavam e falavam da popula��o negra, por exemplo? Como isso te impactou? Durante d�cadas, qual foi a imagem que voc� construiu da popula��o negra na sua cabe�a? Se poss�vel, v� buscar ajuda de profissionais para colaborar nesse processo de autoconhecimento.
Tamb�m busque mais informa��es sobre realidades que n�o s�o as suas. O que voc� sabe sobre a comunidade negra e suas demandas? Diversidade e inclus�o s�o aspectos a serem considerados para uma mudan�a de perspectiva. Tomar consci�ncia da import�ncia da pluralidade e do acolhimento e partir para a��o.
Essa pergunta pode te ajudar nessa caminhada: “Como eu olho e trato pessoas que n�o fazem parte da minha bolha?”