Como o racismo afeta a sa�de mental da comunidade negra?

H� muitos anos fiz o seguinte questionamento na reda��o: como o racismo afeta o psicol�gico da comunidade negra? Na �poca o assunto n�o rendeu, sobretudo pela dificuldade de falar abertamente sobre o tema por conta do racismo institucional. Nos �ltimos anos, pesquisas e relat�rios sobre a rela��o entre o racismo e a sa�de mental da popula��o negra ganharam mais for�a, espa�o e visibilidade. 

 

E para entender melhor essa rela��o � importante ter a informa��o e consci�ncia do que foi as atrocidades promovidas durante a escravid�o no Brasil. S� para voc� ter uma ideia, o tr�fico negreiro por aqui come�ou por volta de 1535.

Ent�o, por mais de 300 anos diferentes violencias, abusos, tortura e a falta de empatia feriram, adoeceram, separaram fam�lias, mataram e destru�ram a dignidade e a alma de milh�es de pessoas negras que aqui foram escravizadas nesse per�odo. Imagine a dor e desespero! Alguns historiadores apontam que o �ndice de “mortes volunt�rias” entre os escravizados, era duas ou tr�s vezes mais elevado que entre os homens livres.

 

Infelizmente, mesmo depois de mais de 130 anos do fim da escravid�o, toda essa estrutura racista ainda reverbera em nossos dias. Vemos isso na nega��o de direitos para a comunidade negra como a falta de acesso � sa�de, seguran�a, moradia, trabalho, justi�a, direito de ir e vir, direito � educa��o, entre outros servi�os. Sem falar no Estado que � omisso quanto �s viol�ncias e excessos promovidos pela pol�cia contra a comunidade negra. 

 

Al�m disso, o racismo tamb�m � c�nico! S� para voc� ter uma ideia de acordo com uma pesquisa da Universidade de S�o Paulo (USP), que foi citada no livro "Racismo no Brasil", da cole��o "Folha Explica", 97% dos entrevistados afirmaram n�o ter preconceito, mas 98% disseram conhecer pessoas que manifestavam algum tipo de discrimina��o racial. De acordo com a antrop�loga Kabengele Munanga, o racismo � o crime perfeito: produz v�timas, mas n�o existem autores.

 

Sabe a “brincadeirinha inocente” racista ou a “piada s� pra descontrair” que sempre tenta reduzir pessoas negras, de engra�adas n�o tem nada. Esse racismo do dia a dia tamb�m � uma forma de viol�ncia que muitas vezes se esconde por tr�s do cinismo.

 

Ai eu te pergunto: Como fica nossa sa�de mental no meio de tudo isso? Com certeza muito fragilizada e exausta. Ou seja, o racismo pode ser um dos motivos que potencializam: 

Sem falar nos sentimentos de n�o pertencimento, inferioridade, de vergonha, inseguran�a, culpa, medo, ang�stia, inadequa��o, s�ndrome do impostor, entre outros. E tudo isso pode aumentar o comportamento de risco. 

 

O Brasil � o pa�s com maior �ndice de ansiedade no mundo e o segundo nas Am�ricas em rela��o ao �ndice de depress�o. E, claro, as diferentes manifesta��es do racismo estrutural influenciam essa triste coloca��o do pa�s. S� para voc� ter uma ideia, uma pesquisa do Minist�rio da Sa�de em parceria com a Universidade de Bras�lia (UNB), divulgada em 2019, revelou que jovens negros do sexo masculino entre 10 e 29 anos s�o os que possuem o maior risco cometer suic�dio. A probabilidade de autoexterm�nio nesse grupo � 45% maior do que entre jovens brancos na mesma faixa et�ria. 

 

Hoje � o segundo dia do Setembro Amarelo e como fiz no ano passado, quero ressaltar a urg�ncia da Pol�tica Nacional de Sa�de Integral da Popula��o Negra, criada em 2009,  que leva em conta a sa�de mental da comunidade negra. � necess�rio saber ler os contextos das desigualdades, preconceitos e discrimina��es hist�ricas e como isso afeta sobretudo o  sofrimento ps�quico da comunidade negra. Diante de dados t�o alarmantes, j� passou da hora do suic�dio entre os jovens negros no Brasil ser encarado como quest�o de sa�de publica na pr�tica. 

 

E se voc� � uma pessoa negra que precisa de atendimento psicol�gico ou psiqui�trico, mas no momento n�o tem condi��o de pagar uma consulta, tenho a indica��o de uma lista de profissionais que atendem de gra�a ou com um valor acess�vel. � s� me procurar nas minhas redes sociais (@arthurbugre).

 

Al�m disso, no Brasil, o Centro de Valoriza��o da Vida (CVV) realiza trabalho de escuta e acolhimento das pessoas em sofrimento, pelo site e pelo telefone 188.