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Estado de Minas PADECENDO

Mulheres que inspiram

"A melodia e a imagem daquelas mulheres j� me diziam muito. Elas diziam o que eu nunca tinha ouvido: mulher pode tudo!"


11/06/2023 04:00 - atualizado 11/06/2023 06:50
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toca-discos de vinil
(foto: Pixabay)
Como era bom ter refer�ncias femininas no in�cio da adolesc�ncia. Na inf�ncia, a gente s� tinha a Mulher Maravilha como hero�na, enquanto os meninos podiam escolher qual super-her�i queriam ser na brincadeira. Em 1986, conheci minhas hero�nas de carne e osso. Elas estavam ali fazendo hist�ria por meio da m�sica: Madonna e Cyndi Lauper.

Madonna a gente ouvia nas festinhas, desde os 9 ou 10 anos, as festas de anivers�rio j� eram dan�antes, com direito a m�sica lenta e dan�a da vassoura. Hoje, paro para pensar nisso e acho uma insanidade, �ramos crian�as em processo de adultiza��o. Eu tinha 11 anos e ganhei de presente de anivers�rio um disco de vinil da Cyndi Lauper. S� a conhecia por causa das m�sicas do filme “Os Goonies”, mas a capa daquele disco, aqueles cabelos vermelhos pegando fogo, uma saia rodada feita com recortes de jornal, e o batom azul cheio de purpurina j� garantiram que ela se tornasse uma inspira��o para aquela menina magrinha que queria muito ser adolescente.

Eu passava horas ouvindo meus discos de vinil. Lembro de ouvir meu pai dizendo: n�o aguento mais essa voz fina. Imagina, reclamar da voz da Cyndi enquanto eu estava ali me espelhando nela, com o encarte com as letras em ingl�s nas m�os, tentando entender o que ela cantava. Eu estava come�ando a aprender ingl�s naquele ano, n�o sabia o que as m�sicas diziam. Mas a melodia e a imagem daquelas mulheres j� me diziam muito. Elas diziam o que eu nunca tinha ouvido: mulher pode tudo!

Ainda bem que eu tinha a m�sica e minhas musas para acolher as dores da adolesc�ncia quando elas come�aram a vir em forma de bullying. Eu era uma crian�a com corpo de crian�a, e n�o tinha nada de errado em n�o ter curvas aos 11 ou 12 anos, eu me achava linda, usava minissaia com aquelas perninhas finas, fazia pose, caras e bocas para a foto. At� que comecei a ouvir que era magra demais, que perna fina era feio. Eu ainda n�o tinha curvas, e comecei a desej�-las. Comecei a me comparar com outras meninas e a sofrer por n�o ter o corpo ideal.

Aos 13 anos, eu comprava a revista Capricho para saber como eu tinha que ser. Que roupa eu deveria usar. O que podia e n�o podia fazer para n�o ser chamada de galinha. Quais eram as medidas ideais de busto, cintura e quadril. Qual era o peso ideal de acordo com a minha altura. Ideais inating�veis. Eu nunca seria uma Ana Paula Ar�sio ou uma Luana Piovani. Nunca teria cara (nem corpo) de quem sai da capa da revista.

Meu ref�gio eram bolachas pretas, com lado A e lado B tocando bem alto. N�o por acaso, “Girls Just Wanna Have Fun” � um hino da minha gera��o! E True Colors ainda � a m�sica que eu gosto de ouvir quando n�o estou bem:

“Voc�, com os olhos tristes

N�o fique desanimada

Oh, eu sei

� dif�cil criar coragem

Num mundo cheio de pessoas

Voc� pode perder tudo de vista

E a escurid�o que est� dentro de voc�

Pode te fazer sentir t�o insignificante

Mas eu vejo suas cores verdadeiras

Brilhando por dentro

Eu vejo suas cores verdadeiras

E � por isso que eu te amo

Ent�o n�o tenha medo de deix�-las aparecerem

Suas cores verdadeiras

Cores verdadeiras s�o lindas

Como um arco-�ris”

Foi a partir dos meus 11 anos que come�aram a surgir minhas refer�ncias femininas potentes na TV, tinha Xuxa, e She-Ra, Cheetara, a Diana da Caverna do Drag�o, a Feiticeira e a Teela do He-Man.

Quando eu tinha 14 anos, recebi uma faixa dos colegas que guardo at� hoje, era uma din�mica do col�gio onde eu estudava. Os alunos faziam faixas para os demais colegas, na minha estava escrito: Miss Rebelde Sem Causa. A causa, que ningu�m via naquela �poca, sempre existiu. Eu n�o sabia nome�-la, mas podia senti-la. Uma chama que se acendeu por meio das m�sicas da Cyndi Lauper, da Madonna, da Tina Turner, da Rita Lee, e de tantas mulheres maravilhosas e inspiradoras. A causa que est� aqui at� hoje, mesmo que continuem tentando silenci�-la: a causa feminista. 

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