Fique atento �s exig�ncias do imperativo

Walter Killing � atento observador do nosso idioma. Acompanha a evolu��o e os diferentes empregos da l�ngua. Um fato lhe tem chamado a aten��o. Trata-se de palavra que aparece em embalagens.

Ele escreve: “As garrafas retorn�veis da Coca-Cola exibem a frase 'Recicle-me'. J� em recipientes com igual prop�sito da Nestl�, l�-se 'Recicla-me'. Ser� que a Coca faz um pedido e a Nestl� d� uma ordem?”

N�o, Killing. S�o manhas do imperativo.  Na gram�tica, discurso significa conversa. As pessoas do discurso s�o as que tomam parte em uma conversa. Para haver conversa, s�o necess�rias tr�s pessoas:

Uma fala ou escreve (1ª pessoa)

Uma escuta ou l� (2ª pessoa)

Uma � o assunto – o ser de que se fala ou escreve (3ª pessoa)

Imagine este bate-papo entre Rafa e Jo�o:

– Jo�o, voc� j� viu o filme “'Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”?

– Ainda n�o. E voc�?

Na primeira frase, Rafa fala. � a 1ª pessoa. Jo�o escuta. � a 2ª. Do que eles falam? Do filme. � a 3ª. Na segunda, invertem-se os pap�is. Jo�o fala e Rafa escuta.

Imperativo deriva de imp�rio. A fam�lia diz tudo. Trata-se de cl� com poderes absolutos. Imperador,  imperial e imperioso s�o alguns dos membros que mandam e desmandam. �s vezes, as criaturas t�m de baixar a crista. Em vez de ordenar, pedem. Ou suplicam. Em qualquer dos casos, o imperativo impera.

O imperativo joga em dois times. Num, libera a a��o ou o modo de ser. � o afirmativo. Noutro, recusa. � o negativo. Pra n�o deixar d�vida, antecede as formas verbais de n�o.

O imperativo afirmativo exige aten��o plena. Rigoroso, divide as pessoas do discurso em dois grupos. As segundas pessoas (tu e v�s), preferidas dos ga�chos, ficam de um lado. As outras (ele, voc�, n�s, eles), de outro. Nada de misturas.

“Tratar diferentemente os desiguais”, reza o mandamento do mand�o. Como? Recorrendo ao presente do indicativo e do subjuntivo. O tu e o v�s derivam do presente do indicativo. Mas esnobam o s final. Assim:

Presente do indicativo: estudo, estudas, estuda, estudais, estudam.

Imperativo afirmativo: estuda tu, estudai v�s.

Simples, as demais pessoas n�o d�o trabalho. Saem todas do presente do subjuntivo: que voc� estude, n�s estudemos, eles estudem.

Eureca! Eis o imperativo afirmativo completo: estuda tu, estude voc�, estudemos n�s, estudai v�s, estudem voc�s.

O imperativo negativo � curto e grosso. Sai todinho do presente do subjuntivo – sem tirar nem p�r. Pra n�o deixar d�vida, antecede-se do adv�rbio n�o. Veja: n�o estudes tu, n�o estude voc�, n�o estudemos n�s, n�o estudeis v�s, n�o estudem voc�s.

“Recicle-me”, diz a garrafa retorn�vel da Coca-Cola. “Recicla-me”, diz a da Nestl�. Por que a diferen�a? Elas usam tratamentos diferentes: Recicle-me voc�. Recicla-me tu. Ambas merecem nota 10.

“Vem pra Caixa voc� tamb�m”, diz o an�ncio da Caixa Econ�mica Federal. Reparou? Ele misturou alho com bugalho. O alho: o verbo se dirige � segunda pessoa (vem tu). O bugalho: o pronome voc� conjuga o verbo na 3ª pessoa (voc�). Que tal desfazer a mistura? H� duas sa�das. Uma: optar pelo tu (Vem pra Caixa tu tamb�m). A outra: assumir o voc� (Venha pra Caixa voc� tamb�m).

“Diga-me com quem andas e te direi quem �s”, alardeia o povo sabido. O problema? A mistura de pessoas. Melhor descer do muro. Assumamos uma pessoa ou outra: Diga-me com quem anda e lhe direi quem � voc�. Dize-me com quem andas e te direi quem �s.

Voc� tem poder? Mande. N�o tem? Pe�a. Ou suplique. Mas fa�a-o bem. A receita: cuide do imperativo.

Rapazes de 18 anos servem o Ex�rcito ou servem no Ex�rcito?

• Adriana Souza, Floripa

O jovem serve no Ex�rcito, na Marinha, na Aeron�utica.

“N�o se nasce leitor. Torna-se leitor.”

Simone de Beauvoir