Por Vinicius Ayala
Vivemos em um tempo em que opini�es extremistas ganham palco nas redes sociais, teorias da conspira��o substituem fatos cient�ficos e minorias s�o alvo de ataques coordenados. Diante disso, surge a pergunta: devemos tolerar quem usa a liberdade para propagar intoler�ncia? O fil�sofo Karl Popper j� tinha a resposta na ponta da l�ngua – e ela � mais urgente do que nunca.
O Que Karl Popper Ensina Sobre Toler�ncia (e Seus Limites)
Karl Popper, um dos pensadores mais influentes do s�culo XX, cunhou o termo “paradoxo da toler�ncia” em sua obra A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945). A ideia � simples, por�m perturbadora: se uma sociedade for ilimitadamente tolerante, corre o risco de ser destru�da pelos intolerantes. Popper argumenta que, para preservar a democracia, � leg�timo – e at� necess�rio – restringir ativamente grupos ou discursos que pregam a exclus�o, a viol�ncia ou a supress�o de direitos fundamentais.
Em outras palavras, tolerar quem nega o direito � exist�ncia do outro � como entregar uma arma a quem promete atirar em voc�. A democracia, para Popper, n�o � um pacto de ingenuidade. Ela exige defesa ativa contra aqueles que desejam minar seus princ�pios b�sicos, como igualdade e pluralidade.
Liberdade Irrestrita: Quando o “Direito de Opinar” Vira Arma de Destrui��o
Aqui chegamos ao cerne do debate atual. Vivemos na era da “liberdade irrestrita”, onde redes sociais e algoritmos amplificam vozes extremistas sob o pretexto de “neutralidade”. A falta de checagem de fatos, o descaso com discursos de �dio e o abandono de agendas inclusivas criam um terreno f�rtil para a intoler�ncia se disfar�ar de “opini�o”.
Popper alertaria: a liberdade sem responsabilidade � uma licen�a para o caos. Quando permitimos que mentiras sejam tratadas como verdades (exemplo: nega��o do Holocausto ou ataques � vacina��o) ou que discursos violentos contra mulheres, LGBTQIA+, negros e ind�genas sejam normalizados, estamos pavimentando o caminho para a eros�o democr�tica. A “liberdade” dos intolerantes, nesse contexto, n�o � exerc�cio de direito, mas um ataque � sociedade aberta.
Os Intolerantes Devem Ser Tolerados? A Resposta de Popper (e a Nossa Realidade)
A pergunta que n�o quer calar: devemos dar liberdade irrestrita aos intolerantes, aceitando-os como um “custo da democracia”? Popper � categ�rico: n�o. Tolerar a intoler�ncia � um suic�dio �tico. Se um grupo defende a exclus�o de outros, nega direitos humanos ou incita viol�ncia, a sociedade n�o pode ficar passiva. A regra � clara: quem rejeita as regras do jogo democr�tico n�o pode se beneficiar delas.
Isso n�o significa censura, mas defesa proporcional. Por exemplo:
• Plataformas digitais devem moderar discursos de �dio (n�o “opini�es pol�ticas”).
• Leis devem punir incita��o � viol�ncia e nega��o de direitos.
• A educa��o precisa combater a desinforma��o, ensinando pensamento cr�tico.
O risco de n�o agir � maior: o Brasil j� viu teorias conspirat�rias (ex.: ataques �s urnas eletr�nicas) e discursos de �dio (casos de racismo em est�dios) que alimentam polariza��o e viol�ncia.
Toler�ncia N�o � Passividade. � Luta.
Karl Popper nos lembra que a democracia n�o � um bem est�tico. Ela exige vigil�ncia e coragem para dizer “n�o” a quem a quer destruir. A liberdade irrestrita, quando usada como escudo para a intoler�ncia, n�o � virtude, mas cumplicidade.
A resposta ao paradoxo � clara: toleramos tudo, exceto quem n�o tolera. N�o se trata de autoritarismo, mas de proteger o espa�o onde todas as vozes – exceto as que buscam silenciar as outras – possam coexistir. Em um mundo onde fake news e �dio viralizam, seguir Popper n�o � op��o. � sobreviv�ncia.
Talvez tenhamos que atualizar um dito popular brasileiro que diz que “A liberdade termina quando come�a a do outro” para a “ Liberdade termina quando come�a a amea�a ao outro”
Vin�cius Ayala e Advogado
