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Estado de Minas ECONOM�S EM BOM PORTUGU�S

Em Ibiraci cabe um Brasil

Ibiraci tem, no m�nimo, dois casos que se destacam: a qualidade de seus provadores de caf� e a for�a das mulheres trabalhadoras e produtoras


23/08/2022 01:21 - atualizado 03/10/2022 22:51

Fazenda de café em Ibiraci.
Fazenda de caf� em Ibiraci. Cidade tem um produtor e provador de caf� - "Q-grader", certifica��o para competi��es internacionais - vencedor do Campeonato Brasileiro CUP Tasters 2019, que ficou em 26� entre os 80 Q-graders internacionais, no mesmo ano (foto: MF Rural/Divulga��o)
Ibiraci � um munic�pio do estado de Minas Gerais, localizado na regi�o sudoeste do estado, a cerca de 420 km de dist�ncia da capital Belo Horizonte e fronteiri�o aos munic�pios de Franca, Pedregulho e Patroc�nio Paulista, pelo estado de S�o Paulo, e de Claraval, Capetinga, C�ssia, Delfin�polis e Sacramento, pelo lado mineiro. Essa cidade, com cerca de 14 mil habitantes, carrega em sua hist�ria de 194 anos de funda��o fortes marcas de um Brasil cheio de contradi��es, riquezas, desigualdades e desafios. 

Ao chegar no trevo de Ibiraci, pelo lado paulista, avista-se uma placa com o nome da cidade e o seguinte subt�tulo: terra dos caf�s especiais. Ibiraci � um dos munic�pios mineiros que se destaca na produ��o do caf� de qualidade, alcan�ada gra�as �s condi��es geogr�ficas de clima, relevo, solo e altitude – de 1045 metros. Seu carro-chefe �, sem d�vida, a lavoura da cafeicultura que gera, para al�m do plantio e colheita, s�rie de atividades correlatas e de suporte, impacta a gera��o de renda e emprego. 

Embora a atividade cafeicultora seja considera a principal geradora de emprego e renda, no munic�pio, a maior fonte de arrecada��o adv�m do Imposto sobre Circula��o de Mercadorias e Servi�os (ICMS) e royalties por �rea alagada. Ambos s�o gerados em virtude da localiza��o das turbinas de energia da Usina Hidrel�trica Marechal Mascarenhas de Morais, situadas no munic�pio de Ibiraci. Gra�as a esse “acidente geogr�fico”, Ibiraci acaba sendo privilegiada comparativamente a munic�pios de igual porte.

Seu atual prefeito, Ismael Silva C�ndido, ocupou esse cargo entre os anos de 2005 a 2012 e foi um marco na gest�o do munic�pio, em �poca cujos abundantes recursos no pa�s propiciaram, �queles com vis�o e boa capacidade de gest�o, promover salto de qualidade em suas gest�es. 

Os gastos com sa�de e educa��o ultrapassam, em muito, o exigido por lei, ambos em torno de 27% da Receita Corrente L�quida. E isso tem explica��o aparentemente simples, embora gere problema de complexa resolu��o: os imigrantes que ali chegam para o trabalho tempor�rio de colheita do caf� costumam fazer seu “checkup” anual no Centro de Sa�de do munic�pio. H� casos de mulheres que fazem parte do seu pr�-natal e at� mesmo o parto no munic�pio. 

Resumindo: Ibiraci torna-se munic�pio-polo de sa�de para seus imigrantes. E esse impacto tamb�m se d� na educa��o, uma vez que filhos de imigrantes, em idade escolar, tamb�m estudam nas escolas p�blicas municipais e estaduais do munic�pio. 

A atividade cafeeira, assim como tantas outras ligadas ao mercado externo e ao agroneg�cio, vem se mecanizando � medida do poss�vel. Em Ibiraci, aproximadamente 75% das fazendas s�o de pequeno e m�dio porte e as restantes, de grande porte. O resultado da produ��o � praticamente inverso, com a produ��o intensiva e mecanizada dominando as grandes lavouras e gerando a maior parte da produ��o local. 

No entanto, mesmo com a mecaniza��o, ainda se faz necess�rio o uso da m�o de obra na �poca da colheita. E a� surge o Brasil que insiste em reviver seu passado. Ibiraci come�ou sua hist�ria com fazendeiros e escravos. Sempre voltada para a agricultura, expandiu-se tendo o caf� como sua grande commodity.  Tudo indica que n�o tem um produtor em Ibiraci que n�o conhe�a a l�gica do mercado externo ou que n�o acompanhe a cota��o das sacas no mercado internacional, muito embora, majoritariamente, o n�vel de escolaridade seja at� o ensino m�dio. 

Nesse jeito mineiro de ser, Ibiraci foi expandindo �s custas das disparidades e necessidades internas e externas. Antigamente, era grande receptora de migrantes oriundos do Paran�, mas h� bom tempo vive da m�o de obra tempor�ria dos migrantes que v�m do sul da Bahia. Imaginar a realidade desses migrantes � como voltar na realidade das metr�poles de S�o Paulo ou do Rio de Janeiro, nas d�cadas de 70/80 do s�culo XX. 

Na �poca da colheita, os supermercados de Ibiraci ficam mais cheios, as escolas e os postos de sa�de operam no seu limite de capacidade e os migrantes passam a compor a din�mica da vida da cidade. Nos supermercados encontram-se produtos aliment�cios e de cama, mesa e banho. Lojas vendem roupas de boas marcas e os(as) migrantes, ao retornarem para suas casas, saem orgulhosamente bem vestidos(as). O que ganham em 3 a 4 meses de trabalho �rduo na lavoura �, em geral, o que levam para sobreviver nos outros 8 meses do ano. 

J� teve �poca de colheita em que Ibiraci chegou a ter mais residentes tempor�rios do que permanentes. E com essa ocupa��o maci�a, os residentes locais n�o veem com bons olhos os tempor�rios, sobretudo os trabalhadores permanentes da lavoura cafeeira. 
Mas as quest�es trabalhistas ainda s�o desafiadoras no munic�pio. Resqu�cios da cultura olig�rquica ainda se fazem presentes, apesar dos sinais evidentes de transforma��o. Os jovens, em sua maioria, parecem n�o querer seguir a atividade na lavoura, buscam atividades no setor servi�os e/ou fora da cidade. Pela proximidade com Franca e C�ssia, o fluxo di�rio entre essas cidades � intenso, muito embora a armadilha da falta de oportunidade, dentro ou fora do munic�pio, ainda propicia condi��es inadequadas de trabalho.

Do total de autos de infra��o lavrados no estado de Minas Gerais, entre os anos de 1995 e 2022, 26% referem-se ao cultivo do caf�. Ibiraci � o munic�pio mineiro com maior n�mero de autos de infra��o lavrados no cultivo de caf�, no estado de Minas Gerais, nesse mesmo per�odo. Sua �ltima infra��o ocorreu no ano de 2020 - 10 autos -, e a fiscaliza��o vem se intensificando, sobretudo na �poca da colheita, entre os meses de maio e agosto.
Na din�mica da vida agr�cola, o cultivo tem passado de pai para filho e a produ��o ganhado aprimoramento e notoriedade. A contradi��o aparece em todos os cantos. Dos melhores exemplos de for�a e vontade de mudar, Ibiraci tem, no m�nimo, dois casos que se destacam: a qualidade de seus provadores e a for�a das mulheres trabalhadoras e produtoras.

Ibiraci tem um produtor e provador de caf� - “Q-grader”, certifica��o para competi��es internacionais – vencedor do Campeonato Brasileiro CUP Tasters 2019, que ficou em 26º entre os 80 Q-graders internacionais, no mesmo ano. Nesse mesmo munic�pio, foi criado o grupo Cerejas do Caf�, cuja presidenta � grande produtora de caf� local. Trata-se de grupo formado �nico e exclusivamente por mulheres produtoras. Cansadas de serem vistas como “a mulher que ajuda fulano na produ��o”, as mulheres reuniram-se e constitu�ram esse grupo que, gradativamente, vem ganhando visibilidade. Em outubro pr�ximo far�o seu primeiro evento nacional. 

Ibiraci � o retrato de um pa�s que tem (i) riqueza conjugada a elevada concentra��o de renda; (ii) pessoas simples lutando contra as arapucas do livre mercado; (iii) grandes produtores desafiando os mercados e buscando seu espa�o internacional. Convive com os conflitos de migrantes e residentes, carece de pol�tica constru�da entre os setores p�blico e privado e ainda � alvo das a��es intervencionistas de inst�ncias federais para correi��o de pr�ticas trabalhistas. Ibiraci � um peda�o do Brasil, um misto de orgulho e l�stima, de coragem e sonho, de beleza e dor. Em Ibiraci cabe um Brasil.  

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