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Estado de Minas RACISMO

Tenho que admitir, o �bvio precisa ser dito

� �bvio que o racismo � um sistema de opress�o que exclui e mata e n�o uma mera ofensa, portanto n�o tem como haver racismo de negros contra brancos


26/01/2023 09:16 - atualizado 26/01/2023 10:51

Mulheres negras em protesto com faixas e megafones
O �bvio precisa ser dito toda vez que escuto que cotas raciais s�o privil�gios (foto: Pexels)


Confesso que em uma certa altura da minha vida me vi sem um pingo de paci�ncia para explicar o que para mim � �bvio demais, tipo: o que � racismo, se existe ou n�o racismo reverso, por que dia da consci�ncia negra e n�o dia da consci�ncia humana, se branca pode ou n�o usar turbante e tran�as, dentre outras quest�es do tipo. At� porque s�o tantas reflex�es interessantes que perpassam a hist�ria, a literatura, as artes pl�sticas, a m�sica, a dan�a, enfim a cultura negra que ficar reiteradamente se debru�ando sobre as mazelas do racismo � um pouco frustrante. 

Frustrante sim, mas necess�rio e �, em raz�o dessa necessidade, que venho constatando que o �bvio precisa sim ser dito, e essa constata��o se d� toda vez que escuto que cotas raciais s�o privil�gios, que tudo agora � racismo, que pessoas negras se vitimizam dentre outros coment�rios do tipo. Ent�o por gentileza, me acompanhe nesse racioc�nio super simples. H� um tempo na Terra havia seres humanos, n�o havia essa de ra�as, apenas pessoas de continentes, territ�rios e pa�ses diferentes, africanos, asi�ticos, ind�genas e europeus.
 
Um dia o europeu se autointitula como branco e determina que o africano agora � negro e cria toda uma teoria que o branco � o ideal de perfei��o e que o negro era uma esp�cie de “sub gente” e por esse motivo deveria ser escravizado. Durante s�culos, sustentam essa teoria de que as pessoas negras t�m menos intelig�ncia, n�o t�m alma,  que elas s�o selvagens, que s�o mais suscet�veis a se tornarem criminosas, enquanto  as sequestram de seu continente, as escravizam em territ�rios invadidos e as for�am sob amea�as e torturas a trabalharem para a constru��o de seus patrim�nios. 


Al�m de enriquecerem em cima do trabalho for�ado dos africanos, os europeus escravocratas  elaboraram todo um discurso de demoniza��o dos orix�s e de todo sagrado da f� de origem africana. O resultado disso � o medo, a repulsa e a intoler�ncia que in�meras vezes se perpetuam ainda hoje em um extremo de agress�es aos adeptos dessas religi�es e depreda��o dos templos e terreiros.

Aos poucos foram destruindo todos os s�mbolos de pertencimento, o nome foi o primeiro deles. Voc� j� reparou como s�o aceit�veis na nossa sociedade nomes como Michael, Giovanni, Luigi, Emilly, Alexandra? Mas garanto, se eu disser que vou colocar o nome dos meus filhos de Abayomi ou Samora as pessoas come�am a questionar dizendo que s�o nomes que causam constrangimento a� crian�a.
 
Entende como foi impregnado em nosso olhar como aceit�vel a religi�o, a linguagem, a cultura europeia e como foram classificados como inferiores os elementos da cultura negra. A capoeira, o samba, o candombl�, a umbanda, o afox�, o funk n�o existem ao longo da hist�ria, resistem. 

N�s negras e negros tamb�m n�o existimos ao longo da hist�ria, resistimos aos extremos da opress�o. Acho que ao chegar at� aqui nessa reflex�o j� � poss�vel entender que o racismo n�o � uma opress�o criada pelo negro ou pela a esquerda para se ter privil�gio, n�o � mesmo?
 
E sim um sistema criado pelo europeu para se dar bem economicamente, um sistema estruturado ao longo da hist�ria de uma forma t�o bem planejada que � preciso um outro planejamento para desestrutur�-lo. N�o vai ser da noite para o dia que estigmas e estere�tipos sobre pessoas negras ir�o desaparecer do imagin�rio social. Quem escravizou deixou heran�as econ�micas e simb�licas  para os seus descendentes e heran�a de apropria��o e de viol�ncia aos descendentes de seus escravizados. 

� essa heran�a que faz com que a universidade seja branca ao ponto de precisar de uma pol�tica que proponha uma reserva de vagas para que pessoas negras, ind�genas e quilombolas possam ter acesso. Porque at� ent�o 100% das cotas eram para os brancos com crit�rios de entrada elaborados por eles para eles, mas pago tamb�m por n�s.
 
Todas as gera��es da minha fam�lia arcaram com os custos atrav�s de impostos para que filhos e filhas dos descendentes de europeus pudessem estudar nas federais, transformando a educa��o que deveria ser encarada como b�sico e de acesso a todos em um artefato do privil�gio branco.

Pois ent�o, o �bvio precisa ser dito e � �bvio que o racismo � um sistema de opress�o que exclui e mata e n�o uma mera ofensa, portanto n�o tem como haver racismo de negros contra brancos. Tem como haver preconceito, falta de gentileza, desrespeito, mas racismo reverso n�o existe. Por que o poder � branco, a maioria dos pol�ticos, dos ju�zes, dos m�dicos, dos cientistas, dos empres�rios, de quem � dono dos meios de produ��o s�o brancos e n�o h� como negros oprimirem brancos em raz�o da ra�a.

Esse espa�o aqui proporciona uma introdu��o a esse assunto que mesmo buscando expor de uma forma mais simples n�o � nada simplista, e se por um acaso voc� tenha interesse em aprofundar um pouquinho mais pesquise as obras dos intelectuais Achille Mbembe, Carlos Moore, Douglas Barros, Cida Bento, L�lia Gonzalez, Neuza Santos e bell hooks. Tenho certeza que vai gostar muito.

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