
H� um erro na constitui��o do discurso contempor�neo que considera toda e qualquer atitude masculina como, necessariamente, machista. A primeira faz parte de uma constitui��o biol�gica e simb�lica; a segunda apresenta-se como ato que deve ser combatido pela educa��o e, em muitos casos, pelo rigor da lei.
Essa diferencia��o � importante, pois nos afasta do erro que constitui uma das formas mais eficientes de fugir da complexidade do real: colocar a culpa dos males do mundo em um agente �nico. � bonito xingar o patriarcado, � cool lutar contra a toxicidade masculina e digno exigir paridade salarial e de oportunidades entre os g�neros. No entanto, devemos tomar cuidado para que a generaliza��o, atitude f�cil e pouco inteligente, n�o se instaure em nossas discuss�es.
No Dia do Homem, vamos retomar o pensamento de uma das maiores fil�sofas existencialistas. Para Simone de Beauvoir, “ningu�m nasce mulher: torna-se mulher. Pensamento �bvio que precisa ser resgatado diariamente, denunciando a burrice em pensar que existe uma esp�cie de “natureza feminina”. Isto �, nenhum destino social, econ�mico ou pol�tico � capaz de definir o destino de um g�nero.
O leitor mais desatento pode se perguntar: mas que mal h� nisso? Existe natureza sim! No entanto, pense bem. Se existisse um lugar natural para a mulher deveriam supostamente existir trabalhos naturais para o g�nero em quest�o, posi��es sociais naturalizadas, rela��es hier�rquicas etc. Logicamente, sempre subordinadas ao masculino.
Para quem n�o conhece a filosofia existencialista, extraio a tese principal: n�o existe natureza humana, pois cada ser tem a liberdade de se construir ao longo da vida, sendo o projeto que fizer de si mesmo. Trata-se da afirma��o radical de uma liberdade de se autoconstruir.
Como exemplo, pense na coragem. Ningu�m nasce corajoso, pois n�o existe uma caixinha ou uma subst�ncia dentro de cada beb� chamada de “a coragem”. Crer nisso � acreditar em um determinismo biol�gico. O sujeito nasce corajoso e, por isso, comete atos de coragem?
Que tal come�ar a pensar de forma inversa? Ao longo da vida, ao fazer escolhas corajosas, o sujeito se torna corajoso. Bem melhor, n�o? S�o as escolhas, as decis�es e as a��es que formam a coragem dentro de cada indiv�duo, e n�o o contr�rio.
Mas o que isso tem a ver com o Dia do Homem e a discuss�o entre masculinidade e machismo? Muitas coisas! Primeiro, ao contr�rio do que os machos inseguros do Red pill, Incel e outros grupos radicais acreditam, n�o existe uma “masculinidade natural” que justifique algum tipo de supremacia masculina. For�a, coragem, lealdade e lideran�a n�o s�o atributos naturais atribu�dos a nenhum g�nero. A busca pelo “homem verdadeiro” � t�o real quanto a efic�cia do ch� de boldo.
Parafraseando a autora, mas fiel � corrente existencialista, ningu�m nasce machista: torna-se ao longo da vida. O ato preconceituoso n�o est� naturalizado na “condi��o masculina”, seja ela biol�gica ou simb�lica que cada homem carrega em seu corpo e em sua educa��o, mas nas escolhas e decis�es que s�o feitas ao longo da vida, e isso independe do g�nero.