
O futebol � uma experi�ncia est�tica. Nada mais que isso. Subir as arquibancadas, escutar os c�nticos em grupo, enxergar o verde da grama, tomar o primeiro gole de cerveja gelada e sentir o cheiro da partida que retira do est�mago o grito de gol. Quem n�o se contenta com isso procura outra coisa, que n�o um jogo.
Que falta faz Nelson Rodrigues, afirmando que o “ser humano precisa, de vez em quando, ser burro. E a nossa cr�nica de futebol parece inteligente demais”. Pouco importam os problemas de bastidores e os meandros das transa��es monet�rias. Nada mais mesquinho que politizar a bola que corre entre as quatro linhas. Geralmente, essa � a principal caracter�stica dos seres de alma pequena, que tentam arrebanhar gente frustrada para gozar de uma boa dose de ressentimento.
Da mesma forma que alguns pensadores defendem a arte pela arte, chegou a hora de experimentarmos o futebol pelo futebol. � preciso se deixar levar pelos noventa minutos como se fossemos transportados � outra realidade que, diferente da nossa, � verde de esperan�a at� o apito final. Basta torcer, se emocionar, sentir raiva e se entregar � paix�o.
A partida profissional, o time amador e a pelada no final de semana ainda s�o espa�os de respiro para aqueles que buscam, no esporte, aliviar as tens�es do mundo produtivo e gerencial. Romper essa �ltima barreira � permitir que o peso do patrulhamento pol�tico (sempre autorit�rio com verniz de boas inten��es) invada esse o�sis de frui��o. O mundo ficar� cada vez mais chato assim.
A pior coisa que poderia acontecer � uma arquibancada intelectualizada, exigindo, na compra dos ingressos, a apresenta��o da declara��o de posicionamento pol�tico. Isso sim � negar a pluralidade de torcedores que se abra�am, no momento maior, sem se perguntar por profiss�o, renda e ideologia. � preciso ter medo disso, pois “os idiotas s�o como a for�a da natureza”.
Ali�s, essa � uma das principais carater�sticas do esporte bret�o. Do radinho de pilha aos camarotes decorados, gente de toda sorte se encontra para, simplesmente, torcer. Pessoas com muito ou pouco tempo de vida, jovens e idosos, ricos e pobres, �ticos e imorais, vil�es e her�is, progressistas e conservadores. Tentar fazer teoria pol�tica a partir disso � desconsiderar, por inoc�ncia ou desonestidade, a natureza est�tica da partida.
L�gico que os inteligentes do futebol ir�o reclamar, isso porque talvez seja essa a oportunidade de se mostrarem sabedores de segredos que n�o s�o revelados aos pobres mortais, conhecedores de coisas que ningu�m mais sabe, portadores de teorias que n�o dizem nada da vida real, mas servem para massagear o pr�prio ego. Um bom div� resolveria tudo isso, n�o a arquibancada.
Poucas coisas s�o mais chatas que torcedor politizado, alienados que tentam reproduzir na peleja a separa��o “n�s e eles”. S�o idiotas que, para continuar na veia nelsonrodriguinana, provavelmente ir�o dominar o mundo, “n�o pela capacidade, mas pela quantidade. Eles s�o muitos”