
O Atl�tico anunciou ontem o acerto com Cuca, que deve ser apresentado na segunda-feira, 8 de mar�o, Dia das Mulheres. Cuca foi acusado de participa��o num estupro coletivo em 1987 e condenado dois anos depois. Este colunista reconhece e compreende o lugar de fala das mulheres, e por isso cede seu espa�o para que se manifestem livremente sobre o retorno do t�cnico campe�o em 2013. O texto que se segue tem a assinatura da Grupa, coletivo de torcedoras atleticanas que lutam por respeito e igualdade de g�neros. A elas:
“Sanha punitivista, o crime j� prescreveu!”, bradava um. “V�o impedir um pai de fam�lia de trabalhar?”, alegava outro. “Voc�s n�o s�o torcedoras de verdade e jogam contra o time!”, esbravejava aquele que, sabemos, ser� o primeiro a pedir a cabe�a do treinador ap�s tr�s derrotas. Mas ent�o olhamos para o outro lado. Encaramos n�meros que nos dizem que ao menos 180 mulheres brasileiras s�o violentadas por dia. Na d�vida, seremos por elas.
De todo jeito ia doer. Seria extremamente doloroso ter de impedir o t�cnico que nos levou � maior conquista da nossa hist�ria de vestir novamente nosso manto. Seria triste pensar na sua fam�lia, que iria padecer junto. Mas do�a ainda mais saber que se n�o tomamos uma decis�o dr�stica n�o paramos a roda da viol�ncia, e de certa maneira incentivamos novos crimes contra mais mulheres no presente e no futuro. N�o � sobre o Cuca, � sobre o papel social de uma institui��o que apaixona e influencia.
De novo, nos vemos nessa posi��o inc�moda. Outra vez fomos obrigadas a nos posicionar, recebendo as pedradas de parte de uma massa raivosa. N�o precisar�amos, se o Clube adotasse uma pol�tica interna s�ria e adequada com os novos tempos. Mas sai diretoria, entra diretoria, quase sempre formada por homens brancos, e literalmente jogam pra torcida casos como de Robinho, Villa e agora Cuca, enquanto nos assistem digladiar at� tomar uma decis�o.
De nada adianta fazer campanhas de marketing no Dia das Mulheres, nem se solidarizar com Mariana Ferrer e todas as v�timas de estupro se, internamente, promovemos aqueles que foram condenados por atos cru�is contra outros seres humanos e sequer se desculparam. Porque, acreditem, uma desculpa sincera por parte do t�cnico teria ajudado sobremaneira a resolver a quest�o. Ajuda, ainda.
No final das contas, � mais f�cil construir est�dios do que reputa��es. E as estruturas do Galo v�m sendo sistematicamente abaladas no quesito respeito �s mulheres. Andamos cansadas desses embates. Precisamos de atitudes que nos blindem e poupem de escolhas de Sofia como essa. Merecemos torcer seguras e em paz.
Terminamos com o depoimento de uma das integrantes da Grupa, esse coletivo que talvez nem precisasse existir, caso a institui��o fizesse sua parte. “Fui abusada por volta dos meus 10 anos. O trauma � t�o grande que n�o consigo lembrar direito, n�o lembro do rosto, tenho apenas flashes, porque reviver causa dor. Meu anivers�rio � daqui 5 dias, olha o presente que o Galo me deu.”