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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Gigantes e meninos numa manh� cruzeirense de inverno

'As pelejas marcadas para as manh�s dominicais t�m uma caracter�stica un�ssona: a invari�vel presen�a em massa do p�blico infantil'


25/05/2022 04:00 - atualizado 25/05/2022 15:49

Criança na toricda do Cruzeiro
As crian�as fizeram a festa no Mineir�o lotado, domingo pela manh�, na vit�ria por 2 a 0 sobre o Sampaio Corr�a (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

O lindo do inverno rigoroso � o tom de azul celeste - vivo e compacto - a tomar conta do c�u nas suas manh�s ensolaradas. Esse resplendor beirando o divino, por si s�, � capaz de gerar alegria num simples contemplar. Em contraponto ao baixo astral do cinzento das nuvens pretas e brancas.

Pre�mbulo feito, sou tomado pela tranquilidade de um multicampe�o para descrever a manh� do �ltimo domingo, moldura do embate entre Cruzeiro e Sampaio Corr�a, como sendo uma das mais alegres da hist�ria de Belo Horizonte.

Assim como a beleza suprema do azul do c�u de inverno (e do manto sagrado do Cruzeiro) � unanimidade mundial, as pelejas marcadas para as manh�s dominicais tamb�m t�m uma caracter�stica un�ssona: a invari�vel presen�a em massa do p�blico infantil.

Seja qual for o advers�rio, l� estar�o os cabulosinhos a lambuzarem de do�ura as arquibancadas majestosas do Mineir�o.

Mas no �ltimo domingo, como num passe de m�gica vindo no sopro do vento frio, ao adentrarem o est�dio, eles deixaram de ser crian�as. Transformaram-se em gigantes.

Foi preciso, pois logo perceberam seus pais, m�es e av�s se converterem em meninas e meninos, tamanha era a euforia pueril por estarem ali com seus rebentos, no instante de retomada do Cruzeiro, revivendo assim seus pr�prios tempos de crian�a.

Parei num canto estrat�gico para a contempla��o. Postei o olhar de forma a dividir a aten��o entre os lances do escrete encardido do Pezzolano (como chamamos os times pegadores e "chatos" l� na minha Mariana) e as trocas de carinho e cuidado entre os novos gigantes e os velhos meninos.

Bola em jogo. A cada mordida certeira do Lucas Oliveira para roubar a bola do advers�rio, o pequeno gigante Bernardo – com a sua fita na testa, a la Renato e Roberto Ga�cho – dava uma bocada euf�rica no pacote de pipoca. Era seu jeito de divertir o Vov� Fernando e o Papai Leandrinho, reduzindo a tens�o de seus velhos meninos.

A sequ�ncia de dribles e passes rasteiros de Jaj� para dentro da �rea, na tentativa de encontrar algu�m para empurrar a bola para o fundo das redes, deixava todos aflitos pela abertura do placar.

O pequeno gigante Dieguito, sabidamente, usava da artimanha de esticar os pezinhos no alambrado para serem carinhosamente tocado pelo Rapos�o e pelo Raposinha. O Papai Bruno, ent�o, chorava e ria como um menino.

Quando Rafa Silva invadiu a �rea e finalmente fez explodir o Mineir�o lotado - 1 a 0, Wilder, o Nem do Rato, lenda do futebol amador de Belo Vale, comemorou como se fosse ele menino e autor do tento.

Seu pequeno gigante, Mateus, pulou em seu colo e lhe conteve com um abra�o dos mais gostoso do universo.

Faltava o gol do Edu. "Ele vai fazer daqui a oito minutos." Sussurrou uma voz conhecida da torcida, em meio aos milhares de tenores da orquestra a cantar incessantemente nas arquibancadas.

Gol. 2 a 0. Edu. Explos�o! O menino e papai Gleyson Lage, autor daquela profecia, olhava para o azul do c�u de inverno. A sua pequena gigante Nina lhe protegia num abra�o de profundo amor.

At� o Mineir�o, velho gigante – da Pampulha – por natureza, pulsava. Vivo. Ressoava os c�nticos de uma multid�o de quase 60.000 apaixonados. Seus arcos de concreto, com detalhes pontiagudos, pareciam enormes m�os dadas, a circundar um tapete verde e encantado.

Veio o apito final. Tudo girou como numa enorme ciranda de roda. Foi quando o Mineir�o virou menino. Rodava. Dava gargalhadas � medida que, por seus poros, os torcedores, com vestes azuis e brancas, iam saindo, como se lhe fizessem c�cegas.

Como cirandeiros, eles se dan�avam pela esplanada. Foram ganhando as avenidas. A cidade j� n�o sentia mais frio. Foi se esquentando na alegria deles. No azul deles. No ensolarado deles. Na vit�ria deles.

Cantavam, se abra�avam. Jogavam a blusa para longe. N�o havia inverno rigoroso, cinzento, de preto e branco mal humorado capaz de sufocar o calor gostoso do cora��o feliz dos cruzeirenses. Fossem eles gigantes ou meninos.
 

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