
Dias antes da inaugura��o do Mineir�o, o presidente do Cruzeiro, Fel�cio Brandi, fez uma de suas rotineiras visitas �s obras. Conhecia os oper�rios pelo nome; os cumprimentava como quem dividisse o rel�gio de ponto. A intimidade era imensa, mas ningu�m previa o que passava em sua mente.
No 5 de setembro de 1965, uma cidade inteira rumou para a abertura do Mineir�o.
Surpresa geral. � direita das cabines, uma enorme bandeira estava estendida atr�s do gol. Duas pontas amarradas na beirada do fosso e as outras na cobertura das arquibancadas. Nela, pintada � m�o, uma raposa com short branco e camisa azul e cinco estrelas. Nos p�s com chuteiras, uma bola dentro do gramado. Ao lado, os dizeres: “���ba estou aqui minha gente.” Desde ent�o, aquele lado da nova casa do futebol mineiro passou a ser da torcida cruzeirense.
Veio 2009. O Mineir�o foi um dos est�dios engolidos pela sanha da Copa do Mundo de 2014. Por todo o pa�s, contratos de reformas e constru��es de est�dios assinados sem uma m�nima an�lise cr�tica ou mecanismos de controle com a premissa de defender os cofres p�blicos.
Infelizmente, como � tradi��o no Brasil, novamente, uma suposta “grande oportunidade” de retorno para o povo se transformou em lucro para pol�ticos, conglomerados financeiros e empresas privadas. Muito se fala dos absurdos elefantes brancos de Cuiab� (MT), de S�o Louren�o da Mata (PE), de Natal (RN) e Manaus (AM). Ou dos privil�gios da arena do Corinthians. Mas pouco se coloca o dedo na ferida mineira, que desde 2014 sangra os cofres do Estado de Minas Gerais.
O contrato de parceria p�blico privada (PPP) criado pelos governos A�cio Neves e Antonio Anastasia, vendido como uma solu��o moderna, hoje, treze anos depois, se revela um c�ncer para o governo estadual em est�gio terminal de sua sa�de financeira.
Para os grandes clubes, um esc�rnio, onde ficam, no m�ximo, com 48% da bilheteria que proporcionam, como revelou o Superesportes. Sendo que ainda precisam pagar os cach�s (sal�rios) dos artistas (jogadores), emprestar � Minas Arena os seus p�blicos (torcidas) e assistirem calados a administradora do est�dio ainda faturar � parte com ingressos, estacionamento, alimentos e publicidade.
Qual o controle o contribuinte mineiro tem sobre os contratos firmados com fornecedores (seguran�a, comunica��o/m�dia e manuten��o) e outros eventos (shows e feiras)?
Hoje Cruzeiro e Atl�tico de Lourdes (e s� o Cruzeiro, a partir de 2023) n�o s� sustentam parte do lucro da Minas Arena, como tamb�m “doam” parte da renda que geram com seus espet�culos para amenizar a sangria do desembolso feito pelo governo estadual – mensalmente – � concession�ria.
Com a chegada das elei��es, se faz urgente questionar os principais candidatos a governador sobre seus posicionamentos em rela��o ao contrato com a Minas Arena.
Defendem? Por qu�? S�o contr�rios? O que far�o para modific�-lo?
Ao Cruzeiro, clube representante da maioria do povo contribuinte mineiro, cabe sim cobrar uma imediata revis�o de tal contrato. Particularmente, n�o acredito na proposta da Arena Betim, tanto por v�cio de origem (vindo de uma figura que em 2019 prop�s como solu��o para a nossa crise a insolv�ncia do clube) quanto pela inefici�ncia da localiza��o para atrair eventos para al�m do futebol.
J� o falastr�o Alexandre Kalil e o passivo Romeu Zema, caso n�o se coloquem – antes de 2 de outubro – contr�rios ao atual modelo de gest�o do Mineir�o, estar�o assumindo a responsabilidade de gerir tal rombo nas contas a partir de janeiro de 2023. Ser�o c�mplices de um contrato de “ganha-ganha” para empres�rios e de “perde-perde” para os cidad�os mineiros. E, se assim for, que Betim venha para, infelizmente, transformar o Mineir�o em mais um elefante branco desse Brasil que n�o aprende com seus erros estruturais.