"Pezzolano � o maior treinador da hist�ria do Cruzeiro." A afirma��o categ�rica veio do amigo Angel Drumond, um dos grandes jornalistas esportivos da minha gera��o e ex-colaborador do pr�prio clube. Tal euforia me gerou espanto por julgar ser exagerada. Por�m, antes mesmo do meu contraponto virulento, ele se antecipou: "�nio Andrade? Agora, ele � o segundo." Calei-me e passei a dedicar esses rabiscos � minha reflex�o.
Antes, um adendo para os leitores de mais tenra idade, para os quais, talvez, a hist�ria do "Seu �nio" n�o seja t�o conhecida. Ga�cho de Porto Alegre, teve tr�s passagens pelo Cruzeiro de 1989 e 1995 e conquistou seis t�tulos. Era amado pelos jogadores. Numa conversa com o ex-zagueiro C�lio L�cio, na Toca da Raposa I, lhe perguntei sobre qual foi o maior treinador de sua carreira. Ele levantou; foi at� o canto do audit�rio; buscou um velho banquinho de madeira; o colocou entre as pernas e respondeu com os olhos cheios de saudade: "Era aqui, com pe�as de dama, que o Seu �nio nos ensinava a jogar. Ele foi o maior. Um pai."
Apesar das conquistas, como a heroica Supercopa da Libertadores de 1991, n�o foram exatamente os t�tulos que tornaram �nio Andrade o maioral. Foi algo ainda mais emblem�tico, digno de guarda-lo no cora��o para sempre. Um feito n�o mensur�vel em n�meros ou palp�vel em ta�as. Seu �nio fez o cruzeirense voltar a ser feliz!
Foi dele a filosofia de jogo que devolveu ao time estrelado � sua principal caracter�stica: jogar para vencer, "sem medo de ser feliz". Assim, expurgou o fantasma da d�cada de 1980.
Dito isso, voltemos � afirma��o de Angel: "Pezzolano � o maior." Certamente, ele n�o se embasou no t�tulo do Brasileir�o 2022. O status atribu�do ao uruguaio tem mais respaldo na forma como encarou o desafio de treinar um Cruzeiro esfacelado. Em como, assim mesmo, nos fez jogar como gigantes. No seu sangue latino que soube transformar a vibra��o da Na��o Azul em exemplo a ser seguido pelos jogadores. O Cruzeiro de - para e com - Pezzolano � feliz como a sua torcida!
Na carta intitulada "Dias de Gl�ria", Pezzolano exalta isso. "Quando a torcida enxerga o comprometimento dos jogadores com a causa, isso atrai mais at� do que as vit�rias. Foi exatamente com isso que o torcedor cruzeirense nos brindou. Jamais vou esquecer o que voc�s fizeram na final do Mineiro. Apesar de termos perdido o t�tulo para o rival, aconteceu algo que eu nunca tinha visto em toda minha vida. [...] uma torcida seguir cantando sem parar, � inigual�vel. Ali, naquele dia, foi o nascimento deste ano t�o especial que vivemos. [...] Minha inten��o era retomar o protagonismo do Cruzeiro, com e sem a bola, pois � algo que est� muito presente na cultura do clube. O que geramos de diferente em campo foi o que o torcedor cruzeirense, assim como eu, sempre gostou de ver: uma equipe que joga bom futebol. Isso � ser Cruzeiro. Um protagonista na hist�ria do esporte brasileiro".
Em 2017, Alex "Talento", ao criticar o estilo retranqueiro de Mano Menezes, tamb�m citou essa caracter�stica: "O cruzeirense prefere a derrota com proposi��o de jogo do que ficar jogando de forma reativa [...] para quem tem como refer�ncia Tost�o e Dirceu Lopes, fica complicado entender e aceitar [...] Mano encontra uma parede chamada Filosofia. E a do Cruzeiro � bem definida. O torcedor sente que seu sentimento pela sua hist�ria est� sendo usurpado quando olha seu time apenas reagir".
�nio Andrade e Paulo Pezzolano n�o se furtaram a essa Filosofia Cruzeirense. Cada um a seu tempo, ambos devolveram � Na��o Azul a possibilidade de "voltar a ser feliz". Que me perdoe meu amigo Angel, mas exatamente por isso, na minha lista de comandantes maiorais dos escretes celestes, eu os coloco no mesmo patamar, lado a lado, no alto do podium dividido.
Por fim, a todos os cruzeirenses, desejo uma boa vota��o no pr�ximo domingo. Que consigamos nos libertar dos tempos de �dio e desesperan�a. Que a hist�ria de resist�ncia contra a opress�o do nosso Palestra/Cruzeiro nos inspire na escolha de um presidente que lute pelo povo, sem medo de der feliz!