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Estado de Minas TERCEIRO SINAL

'A noite dos assassinos', marco dos palcos de BH nos anos 70, ainda � atual

Maria Ol�via relembra os bastidores da pe�a dirigida por Paulo Cesar Bicalho, destacando a cena em que, de peito nu, sua personagem defendia a liberdade


29/04/2022 04:00 - atualizado 29/04/2022 00:39

Sentada em um banco, atriz Maria Olívia, de blusa preta, ensaia nos anos 1970
Talento de Maria Ol�via foi revelado no TU, curso de teatro da UFMG (foto: Acervo pessoal )

GRITO DE LIBERDADE

 
Maria Ol�via*
Atriz

Minha vida sempre foi marcada pelo acaso. Nasci em Paracatu, sou de fam�lia que se dividia entre o agroneg�cio e o direito. Na d�cada de 1960, de tanto ouvir sobre advocacia, decidi fazer aquilo tamb�m. Mas quando cheguei � Universidade Federal de Minas Gerais para me inscrever, fui atra�da por um panfleto sobre inscri��es para o curso de teatro. N�o tinha a menor ideia do que seria aquilo, mas resolvi ver o que era.

Fui � sala indicada, me informei, e quando me despedia das pessoas dizendo que faria vestibular para direito, Jo�o Etienne Filho disse que n�o, que meu caminho seria o teatro.

A partir desse encontro, aquelas pessoas do Teatro Universit�rio (TU) me receberam com muito carinho. Ronaldo Brand�o foi o maior incentivador da minha carreira. Como toda a minha fam�lia morava no Norte de Minas, eles me acolheram. Todos foram muito importantes para a minha forma��o. Quando estava em cena, ficavam mais emocionados do que eu. Fui criada por eles.

Nunca planejei ser atriz, mas me dediquei muito ao of�cio. Tanto que fiz um papel memor�vel na montagem de “As tr�s irm�s”, de Tch�khov, com dire��o de Hayd�e Bittencourt, no TU. Por causa daquela atua��o, fui convidada pela produtora Matilde Biadi para integrar o elenco de “A noite dos assassinos”, do cubano Jos� Triana, com dire��o de Paulo C�sar Bicalho. No elenco estavam Matilde e Orlando Pacheco. Eu tinha 20 e poucos anos.
Na peça 'A noite dos assassinos', encenada em BH nos anos 1970. Maria Olivia está no chão, ajoelhada, Orlando Pacheco está ajoelhado sobre ela e Matilde Biadi, de pé, segura a blusa dele
Os atores Maria Ol�via, Orlando Pacheco e Matilde Biadi na pe�a "A noite dos assassinos" (foto: Acervo pessoal)

A pe�a n�o tratava apenas do conflito entre pais e filhos. Falava da busca por liberdade, anseio eterno da humanidade. Paulo C�sar Bicalho foi diretor carinhoso com todos n�s do elenco, mas muito s�rio e exigente. Os ensaios eram verdadeira catarse. Cada ator representava v�rios pap�is, a come�ar dos pr�prios pais. No final, a irm� ca�ula, meu papel, de peito nu, grita ao mundo por liberdade.

“A noite dos assassinos” foi um marco do teatro nos anos 1970, tempos de censura e ditadura militar.

Nunca fui uma pessoa medrosa. Mas quando li o script, vi que a cena seria dif�cil. Sou de fam�lia tradicional, mas meu pai n�o era moralista e n�o criou problema. Minha preocupa��o era a qualidade do meu trabalho. Tirar a roupa n�o seria problema, desde que a cena fosse feita com muita qualidade, como realmente ocorreu.

Lembro-me do que o jornalista Fernando Telles escreveu no Estado de Minas: “Na estreia de 'A noite dos assassinos', Maria Olivia mostra que os fins justificam os seios”.

Durante toda a temporada, a plateia ficava em sil�ncio no momento em que eu rasgava a blusa. Hoje, nudez em cena n�o chama tanto a aten��o, mas a gente n�o deve se calar sobre a defesa da liberdade e o combate � repress�o. Nesse sentido, “A noite dos assassinos” � uma pe�a atual.

* Depoimento a Helv�cio Carlos

>> �S SEXTAS-FEIRAS, A COLUNA HIT PUBLICA A SE��O “TERCEIRO SINAL”, NA QUAL DIRETORES, ATORES E PRODUTORES ESCREVEM SOBRE PE�AS QUE FIZERAM SUCESSO ENTRE OS ANOS 1960/1990 E COMO SERIA A REA��O DO P�BLICO SE ELAS FOSSEM REMONTADAS.

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