O baile das princesas pretas na preconceituosa BH dos anos 1960
Promovida pela Associa��o Jos� do Patroc�nio, festa virou not�cia na revista A Cigarra. 'Nos chamavam de negra do cabelo duro', conta frequentadora da entidade
Cada garota ganhou uma rosa antes de debutar no baile promovido pela Associa��o Jos� do Patroc�nio em BH (foto: Revista A Cigarra/EM/D.A Press)
Vestidos brancos impec�veis. Saias rodadas, faixas na cintura. Capricho na maquiagem e nos cabelos armados e com tiaras, como ditava a moda na �poca. Aquela noite seria inesquec�vel para meninas que comemoravam seus 15 anos naquele baile. Depois de tanta espera, a emo��o fez o cora��o disparar.
A ansiedade, elas tentavam esconder entre sorrisos e olhares com um qu� desconfiado registrados pelo fot�grafo que circulava por ali.
�ltimos retoques diante do espelho (foto: Revista A Cigarra/EM/D.A Press)
Chegou o grande momento. Uma a uma, elas seguiram para o sal�o. Guiadas pelos padrinhos, deslizavam ao som de valsas cl�ssicas. Na m�o direita, uma rosa. A emo��o daquelas meninas fez hist�ria na vida social de Belo Horizonte.
Debutante e seu jovem par entram no sal�o (foto: Revista A Cigarra/EM/D.A Press)
Organizado pela Associa��o Jos� do Patroc�nio, criada em 1952 e que funcionou durante
12 anos, foi o �nico baile de debutantes de BH que, na d�cada de 1960, reuniu apenas meninas pretas.
Realizado no Clube dos Oficiais, o evento ganhou as p�ginas da revista A Cigarra, dos Di�rios Associados, grupo ao qual pertence o Estado de Minas. Fotos e reportagem est�o guardadas na Ger�ncia de Documenta��o (Gedoc) do EM.
Ver galeria . 13 FotosBaile de debutantes no Clube dos Oficiais de BH, no in�cio dos anos 1960
(foto: Jos� Nicolau/Revista O Cruzeiro/Arquivo EM )
O texto desta p�gina se baseou na observa��o das fotografias, datadas de abril de 1963. As imagens s�o o registro da festa, mas a revista n�o trouxe a identifica��o das meninas. Por meses, a coluna fez contatos, procurou informa��es, mas n�o foi poss�vel – at� agora – identificar as garotas. Se voc� conhece ou � da fam�lia de quem debutou naquele baile pode nos ajudar a contar essa hist�ria enviando e-mail para
Sal�o ficou lotado no baile para debutantes pretas realizado no Clube dos Oficiais (foto: Revista A Cigarra/EM/D.A Press)
O baile foi o primeiro organizado pela Associa��o Jos� do Patroc�nio, que funcionava na Avenida Brasil, 236, no bairro Santa Efig�nia. Na disserta��o de mestrado “Associa��o Jos� do Patroc�nio: Dimens�es educativas do associativismo negro entre 1950 e 1960 em Belo Horizonte-MG”, Andreia Rosalina Silva informa que, naquela sede, “reuniam-se pessoas negras que, na sua maioria, eram escolarizadas e algumas com ensino superior”.
�ltimos retoques diante do espelho (foto: Revista A Cigarra/EM/D.A Press)
Al�m disso, a autora destaca: “Ainda que algumas das fam�lias que ali frequentavam apresentassem condi��es t�picas de classe m�dia, n�o tinham acesso a diversos espa�os socioculturais da cidade de Belo Horizonte”. Nos jornais da �poca, houve registros do baile.
Natividade Bertolino, frequentadora da Associa��o Jos� do Patroc�nio, ao comentar o racismo: 'Comparadas ao passado, as coisas melhoraram, mas ainda n�o chegamos l�' (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
A coluna encontrou a costureira aposentada Natividade Bertolino, de 86 anos, que mora no bairro Urca, na Regi�o da Pampulha. Ela n�o foi ao baile, mas frequentou a associa��o e destaca sua import�ncia no combate ao racismo em BH.
“Para a mulher negra, tudo era muito dif�cil. �ramos criticadas, nos chamavam de negra do cabelo duro”, diz. “Comparadas ao passado, as coisas melhoraram, mas ainda n�o chegamos l�”, pondera Natividade, revelando que a entidade, “ambiente familiar”, oferecia cursos de forma��o profissional.
Debutantes, usando luvas, dan�am a valsa de 15 anos no Clube dos Oficiais, em 1963 (foto: Revista A Cigarra/EM/D.A Press )
H� nove anos Liliane Barros Marty Caron organiza o baile Fadas Madrinhas, reunindo meninas carentes que estudam na rede p�blica e selecionadas por meio de concurso de reda��o. Entre elas h� garotas pretas, brancas, adolescentes refugiadas e jovens abrigadas em casa de acolhimento. A pr�xima festa est� marcada para 9 de agosto, no Clube Chalezinho. Interessadas em participar devem mandar sua reda��o, at� 25 de maio, para o e-mail [email protected]