
Mais de 2 mil brasileiros morrendo de COVID-19 todos os dias – e a tend�ncia � chegar � casa de 3 mil �bitos di�rios ainda neste m�s. Hospitais sem vagas para atendimentos em todo o pa�s, e em Minas Gerais n�o � diferente. Fam�lias inteiras apreensivas, temerosas de entrar para a cruel estat�stica do novo coronav�rus. E a bola rolando mansamente pelos gramados brasileiros. Como se o futebol fosse um mundo � parte. N�o, n�o �.
Por isso, mais algu�m do meio, al�m do t�cnico Lisca, precisa dar o grito. Precisa se indignar. Dar a cara a tapa e encarar o sistema. N�o � poss�vel essa passividade diante do cen�rio tenebroso que o Brasil vive.
No in�cio do m�s, o treinador do Coelho fez um desabafo que at� hoje ecoa na minha mente, mas que comoveu poucos colegas dele e n�o convenceu a CBF. Minutos antes do jogo contra o Athletic, em Juiz de Fora, pela segunda rodada do Campeonato Mineiro, ele abriu o verbo ao Canal Premiere.
“� quase inacredit�vel que saiu uma tabela da Copa do Brasil hoje, com jogos nos dias 10 e 17, com 80 clubes que vamos levar jogadores e delega��o com 30 pessoas de um lado para outro do pa�s. O nosso pa�s parou, gente. N�o tem lugar nos hospitais. Eu t� perdendo amigos, t� perdendo amigos treinadores. � hora de priorizar vidas. Estamos desesperados. Pelo amor de Deus.”
Era a noite de 3 de mar�o. Naquele dia, o Brasil registrava 1.840 mortes em 24 horas. De l� para c�, em menos de 10 dias, 15.588 pessoas perderam a vida – n�meros, segundo os cientistas, subdimensionados, j� que a notifica��o dos �bitos � mais lenta que a mortalidade da doen�a. Um exterm�nio impiedoso. E s� Lisca se indignou.
Nesta quinta-feira (11/3), o governo de S�o Paulo anunciou mais medidas para tentar frear a COVID-19. Entre elas, a proibi��o do futebol no estado at� o fim do m�s.
Nesta sexta (12/3), o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, conceder� uma entrevista coletiva, e a expectativa � de mais restri��es na capital.
N�o � s� a Copa do Brasil que deveria ser suspensa. N�o � s� o futebol. O esporte, meus caros, tem de parar. No Brasil todo. A morte de milhares de pessoas n�o pode ser s� estat�stica. N�o � poss�vel assistir a esse genoc�dio sem se incomodar.
� uma das “maiores crises sanit�rias e humanit�rias do s�culo 21”, como definiu Una� Tupinamb�s, infectologista e integrante do comit� de enfrentamento � COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte. E muita gente ainda n�o est� nem a�.
Dois dias depois do apelo de Lisca, l� na Inglaterra treinadores se mobilizaram contra a libera��o de seus atletas para as datas Fifa – jogos das Eliminat�rias Sul-Americanas que seriam disputados no fim deste m�s foram a principal preocupa��o, diante do descontrole da pandemia por estas bandas.
O isolamento for�ado ao qual os jogadores seriam submetidos na volta ao pa�s e o risco de contrair a doen�a fizeram Guardiola, do Manchester City; Klopp, do Liverpool, e Solskjaer, do Manchester United, darem o grito.
Como o presidente da Fifa, Gianni Infantino, n�o conseguiu convencer os clubes europeus a liberar os atletas, nem conseguiu consenso sobre outras manobras (como levar as partidas para pa�ses que n�o restringem a entrada de sul-americanos ou fazer as sele��es escalarem s� jogadores locais), no s�bado (6/3) as Eliminat�rias Sul-Americanas para a Copa do Mundo do Catar foram suspensas. Sem choro nem vela.
Curiosamente, a Copa Libertadores, que tamb�m exige tr�nsito de delega��es, continua valendo. Deve ser porque n�o vai afetar os europeus. Da mesma forma as competi��es nacionais.
Nessa quarta-feira (10/3), a CBF defendeu a continuidade dos campeonatos organizados pela entidade, amparando-se em um relat�rio que fez sobre a efetividade do protocolo de seguran�a e combate � COVID-19.
“O futebol � seguro, controlado, respons�vel e tem todas as condi��es de continuar”, disse Walter Feldman, secret�rio-geral da entidade. Segundo ele, a posi��o da CBF, das federa��es e dos clubes � de que o calend�rio deve ser mantido como “contribui��o do futebol e combate � pandemia”. Mais egocentrismo imposs�vel.
Essa vis�o da CBF � a mesma de quem se apoia em n�mero de recuperados para dizer que a COVID-19 � s� uma gripezinha e que a maior parte dos infectados vai passar imune.
Parar o futebol e os demais esportes teria efeito pr�tico e tamb�m emocional. Significaria tirar as pessoas de circula��o, restringir ao m�ximo os contatos e, consequentemente, o risco de cont�gio. Em todo e qualquer lugar. Mostrar que n�o � normal o que estamos vivendo.
Que mais Liscas apare�am para levantar essa bandeira.