
Ainda: o choro de gratid�o de outro judoca, Daniel Cargnin, ao homenagear a m�e depois de garantir o bronze. Ao mesmo tempo, o meu, o seu, o nosso choro ao v�-los chorar. E assim, l�grimas de cada recanto do pa�s v�o banhando a participa��o brasileira no Jap�o.
Interessante como o choro � forma de o corpo expressar sentimentos t�o antag�nicos. Ele nasce da tristeza profunda, da revolta, da raiva e da ang�stia, mas tamb�m da satisfa��o extrema, da felicidade incontida, do prazer. Incontrol�vel, se materializa a partir de emo��es t�o diversas, contrastantes at�, e, em suas muitas diferen�as, complementares.
No fim das contas, um acaba sendo par�metro para a exist�ncia do outro.
O esporte proporciona momentos assim. Uma sensa��o de empatia ao que � vivido por algu�m com quem, na pr�tica, n�o temos nenhuma liga��o. De um completo desconhecido, o atleta vira praticamente um ente querido, por quem voc� se submete a ficar acordado at� altas horas da madrugada para torcer por ele. E nem � torcida de ocasi�o n�o.
� um sentimento genu�no, de pertencimento. A luta dele, por alguns segundos, minutos ou dias, passa a ser a sua. A frustra��o dele d�i em seu peito. A explos�o de euforia dele arranca em voc� um sorriso. Uma conex�o passageira, por�m concreta.
Pelos motivos mais particulares, eles se emocionam no Jap�o e n�s, a quil�metros de dist�ncia e mesmo sem saber direito o que fez brotar as l�grimas naquele atleta, choramos aqui. Muitas vezes (na maioria deles), por tr�s do suor para ser o "mais r�pido, o mais alto e o mais forte", como rege o lema das Olimp�adas, est�o supera��es f�sicas e emocionais.
A isso se soma a pandemia de COVID-19, que adicionou elementos extras na caminhada de cada um deles – e cada um de n�s tamb�m. H� muito sentido em dizer que esta Olimp�ada � singular em v�rios aspectos, mas que, sobretudo, ela � dos atletas. Deles e para eles.
Seria, portanto, injusto resumir a um s� personagem a trajet�ria de luta que caracteriza a jornada da grande maioria. At� porque falta mais de uma semana para os Jogos terminarem e n�o sabemos quantas l�grimas ainda vamos derramar.
N�o h� como negar, no entanto, que alguns casos tocam mais fundo. Nesta quinta-feira, houve um exemplo desses. A medalha de prata de Rebeca Andrade.
Porque ela come�ou a ser desenhada anos antes das majestosas apresenta��es da ginasta brasileira nos aparelhos do Ariake Gymnastic Center.
Come�a na hist�ria de vida sofrida dela, passa pela coragem da norte-americana Simone Biles, a maior ginasta do planeta, em admitir problemas em sua sa�de mental e se recolher no momento em que todos os holofotes estavam voltados para ela e se encerra na grandiosidade do que � a conquista de Rebeca em termos de representatividade.
Justamente por saber de todas essas circunst�ncias, Daiane dos Santos (que no in�cio dos anos 2000 encantou o mundo com sua performance no solo ao som de Brasileirinho) n�o se conteve. Chorou. Desabou em l�grimas em rede nacional.
E justificou: "At� pouco tempo, os negros n�o podiam fazer alguns esportes. E a� a gente v� hoje a primeira medalha de uma menina negra. � uma menina que veio de origem muito humilde, criada por uma m�e solo, a dona Rosa, porque o pai da Rebeca � vivo, mas n�o � presente na vida dela. Aguentou tudo o que aguentou, v�rias les�es, para ser a segunda melhor atleta do mundo. Uma brasileira".
Quando Rebeca cravou o �ltimo movimento no solo, na exibi��o que lhe garantiria a medalha, cravou tamb�m ali um marco na Hist�ria - essa, do h mai�sculo, que continuar� a ser contada e vivida por gera��es.
Por isso, � bom saber que, em um evento como os Jogos Ol�mpicos, h� mais em todos esses choros do que a mera decep��o pela derrota ou o contentamento por um lugar no p�dio. E assim vamos seguindo: eles choram de l�; n�s choramos daqui.