A santa multa milion�ria de Coudet no Atl�tico

Faz pouco mais de um m�s e meio. O assunto do momento era a multa milion�ria que prendia o t�cnico Eduardo Coudet ao Atl�tico. Afinal, n�o � todo dia que se v� a rescis�o de um treinador custar mais de R$ 20 milh�es. N�vel europeu. E foi o peso desses milh�es em um caixa j� combalido que fez a diretoria alvinegra engolir a insatisfa��o e deixar o argentino no cargo.

� preciso relembrar os fatos com mais detalhes para fechar essa conta – para ficar na seara da matem�tica. O Atl�tico vinha de uma sequ�ncia de atua��es inst�veis. At� ganhava a maioria de seus jogos, mas sem futebol consistente. O tal venceu, mas n�o convenceu.

Coudet via evolu��o no time, defendia que estava no caminho certo, por�m, coletivamente, esse acerto ainda n�o era t�o evidente. E choviam cr�ticas.

O estopim veio na partida contra o Libertad, pela Copa Libertadores, no Mineir�o. Sem Hulk (suspenso), o Galo teve dificuldade para criar, foi inoperante na frente e acabou derrotado pelos paraguaios por 1 a 0, em sua estreia na fase de grupos da competi��o. Ao apito final, vaias.

Enfurecido, Coudet atirou para todo lado na coletiva de imprensa. Repreendeu torcedores que atiraram cerveja nele, condenou as contrata��es feitas pela diretoria (leia-se os 4Rs: Rubens e Rafael Menin, Ricardo Guimar�es e Renato Salvador) – que segundo ele prometera uma coisa e entregara outra – e disse que at� tinha pedido a retirada da multa rescis�ria de seu contrato, para que ambas as partes pudessem ter liberdade de optar por um novo caminho.

Foi um rompante de sinceric�dio. Naquele jogo especialmente, Coudet estava sem op��es no ataque. Ele mandou a campo Isaac, que estreava no profissional, aos 19 anos, e aparentemente para deixar bem expl�cito o desequil�brio no grupo ainda colocou R�ver para atuar na frente, esperando explorar a boa estatura do zagueiro na �rea advers�ria.

Coudet at� apresentou bons argumentos, que ajudavam, naquele momento, a explicar a irregularidade de sua equipe. Ajudavam, embora n�o encerrassem o assunto. Ainda no Mineir�o, mecenas do Atl�tico demonstraram contrariedade com o desabafo do t�cnico.

Torcedores pediam a "cabe�a" do argentino nas redes sociais. No dia seguinte, veio um pedido de desculpas p�blico, toalhas quentes e esperou-se pelo pr�ximo cap�tulo, que seria decisivo para o destino do treinador. 

Calhou que na partida seguinte o Galo sacramentou a conquista do Campeonato Mineiro, ao bater o Am�rica, e depois disso, continuou naquela toada de ganha uma aqui, perde outra acol�, at� emplacar uma sequ�ncia, agora sim, vencendo e convencendo.

Coletivamente e individualmente, n�o h� como negar que o Atl�tico � outro. Ainda tem falhas, por vezes demora a conectar defesa e ataque, mas tem um time vigoroso na busca pelo gol. Determinado.

As trocas de passe melhoraram. O jogo flui melhor – talvez consequ�ncia daquela evolu��o que Coudet e pouqu�ssimas pessoas e viram nascer, l� atr�s.

Fato � que o futebol j� mostrou que, sem dar tempo ao tempo, n�o h� resultado que apare�a. Um ou outro milagre � registrado nos anais do esporte bret�o, com treinadores conseguindo, em um curto per�odo de trabalho, colher resultados, t�tulos. Mas eles s�o exce��o em um mundo em que toda torcida queria que fossem regra.

Trabalho s�lido mesmo vem com repeti��o, aperfei�oamento, entrosamento. E isso s� se percebe com o passar de meses. A santa multa milion�ria de Coudet permitiu ao Atl�tico n�o entrar nas estat�sticas de trocas fren�ticas de treinador como solu��o para resultados. Pelo menos por enquanto.

Recentemente, Rodrigo Caetano, diretor de futebol atleticano (e um dos poucos que Coudet isentou de culpa no dia do rompante), afirmou que o trabalho do argentino ser� avaliado mesmo em junho de 2024, quando o treinador completar� um ano e meio na Cidade do Galo. Seria bom que fosse assim. Mas n�o h� garantias. 

O que se tem � o hoje, o agora. E o Atl�tico � o time da S�rie A com a maior s�rie de vit�rias, com cinco triunfos consecutivos.

Hulk e Paulinho voltaram a mostrar sintonia. �verson, a fazer defesas seguras. O meio-campo come�a a se entender melhor. Mas � preciso compreender que isso tamb�m � momento. Mais uma pe�a do quebra-cabe�a que se encaixa. Ainda faltam muitas para o tabuleiro ficar completo.