
Se tem algo que muito me incomoda quando o assunto Sociedade An�nima do Futebol (SAF) come�a a ser discutido � o car�ter milagreiro que atribuem ao modelo de gest�o. Os investidores ganham status de salvadores da p�tria, com objetivos quase filantr�picos. O tom � sempre catastr�fico, como se o clube n�o tivesse outra sa�da. Como se s� a SAF pudesse evitar fal�ncia.
O modus operandi no Brasil tem sido assim, nos �ltimos anos. Frente a frente, planilhas e artif�cios emocionais, quase nunca tratados de forma proporcional - e n�o � dif�cil imaginar para qual lado pende a balan�a. A natureza do neg�cio fica em segundo plano, como se quem estivesse comprando o clube estivesse fazendo um favor, em nada fosse se beneficiar.
Alguns torcedores s�o contagiados por esse discurso e perdem o senso cr�tico para avaliar a situa��o. Algo semelhante ocorre com quem decide o destino dos times, os conselheiros, com a diferen�a que, al�m da quase chantagem emocional, entra uma press�o absurda, com dirigentes colocando-os contra a torcida.
� importante lembrar que quem se disp�e a comprar a��es de um clube para torn�-lo SAF n�o o faz por amor ou caridade. S�o empres�rios, milion�rios, que querem agregar ao patrim�nio pr�prio mais alguns milh�es. O clube vai ser apenas mais um dos empreendimentos deles. E n�o h� problema algum nisso, � leg�timo.
H� casos em que a vaidade exerce importante papel nessa conta. Poder atrai poder e pede cada vez mais poder. No fim de tudo, � o dinheiro que manda.
H� casos em que a vaidade exerce importante papel nessa conta. Poder atrai poder e pede cada vez mais poder. No fim de tudo, � o dinheiro que manda.
Seria muito mais honesto, contudo, se o assunto fosse tratado com a seriedade e a transpar�ncia que exige. E que, sobretudo, houvesse serenidade nas tomadas de decis�o.
O martelo n�o deveria ser batido por coa��o ou justificativas funestas. Afinal, o que n�o faltam s�o argumentos honestos para defender a iniciativa. O problema � que raramente eles s�o usados.
O martelo n�o deveria ser batido por coa��o ou justificativas funestas. Afinal, o que n�o faltam s�o argumentos honestos para defender a iniciativa. O problema � que raramente eles s�o usados.
O futebol brasileiro, de forma geral, carece de gest�es profissionais, eficientes e efetivas. Endividados, os clubes se tornam ref�ns, cedendo a projetos no calor da emo��o, quase sempre sem pesar todos os pr�s e contras e, principalmente, sem apontar alternativas plaus�veis.
Os Conselhos Deliberativos, com frequ�ncia, s�o extens�es de quem est� no poder. Nos clubes em que h� alguma oposi��o inteligente, a transi��o para a SAF � feita de maneira mais racional. Mas onde n�o h� contesta��o, tudo passa com relativa facilidade, como se, a partir daquele momento, o clube fosse alvo de alguma d�diva, interven��o divina.
A febre das SAFs no Brasil j� mostra exemplos que t�m funcionado e outros que t�m gerado decep��o nos torcedores. O Rio de Janeiro tem essa dicotomia bem evidente, com Botafogo e Vasco.
John Textor virou queridinho pelos lados da agremia��o de General Severiano. H� pouco mais de um ano, comprou 90% das a��es do clube que, hoje, lidera o Campeonato Brasileiro com folga e � exaltado por toda parte.
O empres�rio estadunidense, que fez seus milh�es no ramo da tecnologia antes de se aventurar no futebol, � visto at� em arquibancada, assistindo a jogos da equipe. A sinergia tem funcionado e, a�, tudo � festa.
O empres�rio estadunidense, que fez seus milh�es no ramo da tecnologia antes de se aventurar no futebol, � visto at� em arquibancada, assistindo a jogos da equipe. A sinergia tem funcionado e, a�, tudo � festa.
Pelos lados de S�o Janu�rio, por sua vez, nada de calmaria. A 777 Partners, fundo norte-americano sediado em Miami, adquiriu 70% do clube em fevereiro do ano passado. H� pouco mais de um m�s, insatisfeitos com os rumos do time (que luta conta o rebaixamento no Brasileiro), alguns torcedores protestaram contra os investidores.
A culpa n�o � dos torcedores. � vendido a eles a ideia de que tudo vai melhorar com a SAF. Que tudo passar� a dar certo. Cria-se uma expectativa que n�o resiste aos primeiros choques de realidade. As promessas n�o se cumprem no tempo demarcado pela passionalidade. E a lua de mel acaba.
Em alguns dos casos, falta explicar ao torcedor que a SAF n�o d� garantias de que a situa��o vai mudar. N�o pode assegurar isso.
Por mais que seu time esteja na m�o de um milion�rio, ele n�o vai entrar nessa jornada para perder dinheiro. O objetivo � lucrar, como conv�m a toda e qualquer rela��o capitalista. Custe o que custar.
Na programa��o, entram n�meros, metas a cumprir. No tempo dos investidores, n�o no da torcida. Mais: do jeito que os investidores entendem que deve ser feito - o que geralmente n�o coincide com os anseios da torcida. N�o custa alertar.
Na programa��o, entram n�meros, metas a cumprir. No tempo dos investidores, n�o no da torcida. Mais: do jeito que os investidores entendem que deve ser feito - o que geralmente n�o coincide com os anseios da torcida. N�o custa alertar.