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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Mudar ou ser mudado: A pandemia � uma lente de aumento sobre o problema

''Nada ser� como antes depois de controlada a pandemia. Um novo ciclo de globaliza��o est� sendo iniciado''


27/12/2020 04:00 - atualizado 27/12/2020 07:49

"A pandemia � uma lente de aumento sobre o problema, se levarmos em conta que as transforma��es na estrutura produtiva do planeta" (foto: Lisa Ferdinando/DoD Photo)

A segunda onda da pandemia de COVID-19, que registra muta��o do novo coronav�rus – h� evid�ncias de que j� transborda da Inglaterra para outros pa�ses europeus e provavelmente chegou ou chegar� por aqui –, � a face mais vis�vel de uma contradi��o com a qual teremos que lidar durante muitos anos: a globaliza��o � um fen�meno objetivo e irrevers�vel, mas carece de mecanismos de governan�a mundial eficazes para neutralizar seus efeitos mais perversos, que aprofundam as desigualdades no mundo.

A pandemia � uma lente de aumento sobre o problema, se levarmos em conta que as transforma��es na estrutura produtiva do planeta, cujo dinamismo � ditado pelas inova��es tecnol�gicas e os novos conhecimentos, colocaram em xeque as pol�ticas ultraliberais. Revelou que a sa�de p�blica, por exemplo, continua sendo uma prioridade para a economia.

Muitos imaginavam, com o advento do n�o-trabalho e a inutilidade de grandes ex�rcitos industriais de reserva, que pol�ticas universalistas de sa�de deixariam de ser necess�rias para a reprodu��o do capital em escala global, assim como a boa forma��o educacional, pois supostamente j� n�o se precisaria da mesma abund�ncia de m�o-de-obra saud�vel e escolarizada dispon�vel para o desenvolvimento. 

Quem diria, por exemplo, que o home office se generalizaria em decorr�ncia de um problema de sa�de p�blica e n�o apenas da exist�ncia da tecnologia necess�ria para a reestrutura��o da organiza��o do trabalho. Foi mais ou menos o que ocorreu com a telefonia fixa, criada no final do s�culo 19, mas somente incorporada � vida dom�stica ap�s a Segunda Guerra Mundial, com a diferen�a de que o smartphone se popularizou num intervalo de tempo muito menor (o iPhone foi criado em 2007).

O que aconteceu com a grande ind�stria mecanizada, na qual a maior parte dos oper�rios foi substitu�da por rob�s, est� se dando agora nos grandes escrit�rios e lojas de departamento, por causa da pandemia, numa velocidade maior do que se imaginava, e de forma irrevers�vel. 

� nesse contexto que a elei��o de Joe Biden, nos Estados Unidos, com a derrota do nacionalismo e do negacionismo de Donald Trump, dar� um novo impulso aos debates que j� estavam em curso nos grandes f�runs internacionais, sobre o problema da governan�a global e a necessidade de um desenvolvimento mais sustent�vel, cujo epicentro vinha sendo o F�rum Econ�mico Mundial, em Davos.

Que ningu�m se iluda, nada ser� como antes depois de controlada a pandemia – o que deve acontecer no decorrer de 2021, na maioria dos pa�ses desenvolvidos, com a vacina��o em massa –, um novo ciclo de globaliza��o est� sendo iniciado, com o 5G e a plena  implanta��o da “internet das coisas”, com �nfase na economia limpa e no combate �s desigualdades. 

Moderniza��o

N�o se espantem com o aumento da frequ�ncia com que a sigla ESG (“environmental, social and corporate governance”) – n�o confundir com a  Escola Superior de Guerra – entrar� no gloss�rio do nosso ‘econom�s’. Sustentabilidade, responsabilidade social e governan�a corporativa formam agora uma esp�cie de Sant�ssima Trindade para os principais fundos de investimentos e grandes corpora��es.

Estima-se que 45 trilh�es est�o sendo aplicados empreendimentos com essas caracter�sticas, ou seja, metade dos investimentos previstos em todo o mundo. Multinacionais como Nestl�, Walmart e Tesco j� exclu�ram de sua lista de fornecedores, por exemplo, os produtores associados ao desmatamento do cerrado brasileiro. O resultado pr�tico j� se faz sentir no agroneg�cio, que vende cada vez menos para a Europa. 

No Brasil, os ciclos de moderniza��o sempre foram impulsionados pelo Estado, concentraram renda e descartaram m�o de obra dos ciclos anteriores (a��car, ouro, caf�, borracha). O que os historiadores chamam de “revolu��o passiva” resultou na industrializa��o, na moderniza��o da agricultura e na urbaniza��o acelerada dos pa�s, por�m, aprofundou desigualdades regionais e sociais. O ciclo de substitui��o de importa��es se esgotou, mas as consequ�ncias perversas, que dispensam maiores detalhes, de t�o escancaradas est�o, perduram.

O conceito de “revolu��o passiva” – mais do que “moderniza��o autorit�ria” ou “via prussiana” –, valoriza os aspectos pol�ticos desse processo, em boa parte ocorrido durante a ditadura Vargas (1930-1945) e o regime militar(1964-1965). Nesse sentido, devemos destacar os governos de Juscelino Juscelino Kubitschek (1956-1960), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz In�cio Lula da Silva(2002-2010), nos quais houve crescimento econ�mico e redu��o da pobreza, num ambiente democr�tico, sem preju�zo das ressalvas � infla��o, � focaliza��o dos gastos sociais e � corrup��o generalizada, respectivamente. 

No Brasil, pesos pesados da economia, nacionais e estrangeiros, j� se articulam em defesa da economia sustent�vel, da boa governan�a corporativa e da transpar�ncia nas rela��es p�blico-privadas. Saem na frente diante de um novo ciclo da globaliza��o, mas esbarram numa situa��o em que o governo Bolsonaro realiza uma marcha for�ada na dire��o contr�ria.

De certa forma, a disputa de narrativas que j� se estabeleceu  na sociedade – em torno de temas como nossa pol�tica externa, a Amaz�nia, a pol�tica de sa�de p�blica, a viol�ncia urbana etc – reflete essa contradi��o. De alguma maneira, o Brasil ter� que se reposicionar diante do que est� em curso no mundo. Ou o governo muda ou ser� mudado, em 2022.

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