(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

O pol�tico por voca��o e a pol�tica como neg�cio

Se a pol�tica n�o der resposta � ''vida banal'' da sociedade, , haver� uma onda popular antissist�mica


15/09/2023 04:00 - atualizado 15/09/2023 07:27
749

Há clara hegemonia no Congresso, sobretudo na Câmara, sob a presidência de Arthur Lira (PP-AL), dos políticos que veem a política como negócio e não como bem comum
H� clara hegemonia no Congresso, sobretudo na C�mara, sob a presid�ncia de Arthur Lira (PP-AL), dos pol�ticos que veem a pol�tica como neg�cio e n�o como bem comum (foto: ZECA RIBEIRO/C�MARA DOS DEPUTADOS)

A aprova��o da minirreforma eleitoral pela C�mara, com algumas medidas cujos objetivos s�o eminentemente conservadores, eticamente duvidosos e moralmente conden�veis, suscita reflex�o profunda sobre a atua��o recente dos pol�ticos em defesa de seus pr�prios interesses e a qualidade suas rela��es com a sociedade, a partir das pol�ticas p�blicas. A prop�sito, o professor Marco Aurelio Nogueira, doutor em ci�ncia pol�tica pela Universidade de S�o Paulo (USP) e professor da Universidade Estadual Paulista(Unesp), autor de “As possibilidades da pol�tica” e “Em defesa da pol�tica”, defende a tese de que h� tr�s pol�ticas que se correlacionam e deveriam interagir de forma positiva, num ambiente democr�tico, sem embargo de suas contradi��es: a dos pol�ticos, a dos t�cnicos e a dos cidad�os.

Marco Aur�lio, no seu livro mais recente, “As ruas e a democracia - Ensaios sobre o Brasil contempor�neo”, tamb�m fala das demandas “hipomodernas”da sociedade e das dificuldades de o sistema pol�tico compreender e dar respostas satisfat�rias �s mudan�as, o que vem sendo um fator de crise das democracias representativas no mundo. A quest�o � saber se as respostas dos pol�ticos a isso est�o sendo as mais adequadas.

A rea��o que estamos assistindo dos pol�ticos � a blindagem dos partidos e seus mandatos, que sentem como amea�ados por regras que eles pr�prios criaram, quando foi necess�rio responder a demandas por mais �tica, transpar�ncia e austeridade na politica. H� uma clara hegemonia no Congresso, sobretudo na C�mara, sob a presid�ncia do deputado Arthur Lira (PP-AL), dos pol�ticos que veem a pol�tica como neg�cio e n�o, como bem comum, para usar um conceito consagrado.

“A pol�tica como voca��o”, cl�ssico da ci�ncia pol�tica, � uma confer�ncia realizada por Max Weber em 1918, e publicada em 1919, na Alemanha. Para o economista e jurista alem�o, a pol�tica � “o conjunto de esfor�os feitos visando � participa��o do poder ou a influenciar a decis�o do poder, seja entre Estados, seja no interior de um �nico Estado”. Quem se mete na pol�tica, grosso modo, quer poder, seja para fins ideais, por interesses econ�mico-financeiros ou busca de prest�gio. Entretanto, parta isso, a sociedade precisa se submeter � domina��o do Estado.

Estado e sociedade

Se o governo e suas pol�ticas p�blicas n�o d�o respostas � “vida banal” da sociedade, num processo onde as demandas dos cidad�os n�o s�o levadas em conta, haver� uma disfuncionalidade que pode provocar, como j� aconteceu, uma onda popular antissist�mica. A blindagem dos pol�ticos contra isso, ao se protegerem do eleitor em vez de irem ao seu encontro, acaba levando aos tsunamis eleitorais, como o de 2018. Esse filme j� passou em v�rios pa�ses e, agora, est� em cartaz na Argentina.

Weber divide os “pol�ticos profissionais” entre os que “vivem para a pol�tica” e aqueles que “vivem da pol�tica”. Seu racioc�nio obedece ao bom senso: todo cidad�o pode e deve participar da vida pol�tica, mas nem todos t�m tempo dispon�vel e recursos para isso. Por isso, “todo homem s�rio, que vive para uma causa, vive tamb�m dela”, mas isso n�o impede a diferencia��o entre os que t�m a pol�tica como “bem comum”e os que a v�em como neg�cio.

Paralelamente � exist�ncia dos pol�ticos, existe uma burocracia formada por funcion�rios e t�cnicos encarregados de operar a m�quina do Estado. Por essa raz�o, se estabelece entre os pol�ticos uma disputa pela ocupa��o de cargos e a distribui��o de recursos do governo. Nessa din�mica, surge ainda uma camada de dirigentes partid�rios formada a partir de crit�rios plutocr�ticos e que v�o ocupar posi��es no governo ou na m�quina partid�ria. Para Weber, sem regras do jogo democr�ticas e controle social,  isso leva “� cria��o de uma casta de filisteus corruptos”.

No Brasil, onde n�o existe regulamenta��o do lobby, como nos Estados Unidos e alguns pa�ses da Europa, todos os pol�ticos defendem o “bem comum”, ningu�m assume a pol�tica como neg�cio, com exce��o, talvez, da bancada ruralista. O patrimonialismo, o cartorialismo e o fisiologismo est�o entranhados na nossa vida pol�tica porque s�o heran�as  de nosso passado colonial e escravocrata.

Apesar disso, ao longo da hist�ria, o Estado brasileiro constituir uma burocracia estatal com caracter�sticas weberianas, formada por “trabalhadores especializados, altamente qualificados e que se preparam, durante muito tempo, para o desempenho de sua tarefa profissional, sendo animados por um sentimento muito desenvolvido de honra corporativa, em que se real�a o sentimento da integridade”.

O choque entre os pol�ticos profissionais e essa burocracia, que conhece o lado escuro da pol�tica como neg�cios, ocorre quando a �tica da responsabilidade, pr�pria da burocracia estatal, e a �tica das convi��es, que preside a a��o dos pol�ticos, geram uma contradi��o  disruptiva. As crises �ticas e institucionais, via de regra, surgem nesse contexto.

� a� que a entrada em cena dos cidad�os, organizados em rede, como sociedade civil, e n�o apenas no processo eleitoral ou nas suas ag�ncias tradicionais, pode fazer a grande diferen�a para consolidar, ampliar e renovar o processo democr�tico. Por isso, a pol�tica de coopta��o de suas lideran�as, a longo prazo, acaba sendo � um tiro no p� da pol�tica como bem comum.


*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)