H� cerca de um m�s, enterrei o meu �ltimo cachorro (foto: Pixabay)
H� cerca de um m�s, enterrei o meu �ltimo cachorro. Digo �ltimo porque prometi n�o ter mais nenhum. Sempre gostei muito de animais. Meus primeiros bichinhos foram pintinhos comprados no mercado. Na �poca, era comum pais verem neles uma boa distra��o para seus filhos, pouco importava o fato de que se tratava de vida. De uma maneira geral, sobreviviam por pouco tempo, tamanho os cuidados inadequados de seus donos. Assim foi comigo. Decidia que era hora de eles dormirem e quase que os obrigava a faz�-lo, o mesmo em rela��o a comer e a se banhar. Afinal, se eu precisava fazer tudo isso, o que os isentaria de seguir as regras?
Tive tamb�m dois patinhos que tiveram melhor sorte. Criei-os no galinheiro do s�tio de uma tia, com quem passava muitos fins de semana. Me decepcionei com o fato de eles n�o se lembrarem mais de mim em poucos dias, mas me contentava com a ideia de que eles eram livres. Morreram de velhice, me garantiu meu tio, apesar de provocar minha ira dizendo que os colocaria na panela no Natal.
Desde minha inf�ncia at� m�s passado tive oito c�es. Dois quando crian�a e os demais depois que meus filhos nasceram. C�es s�o �timas companhias para crian�as e quis que os meus experimentassem conviver com eles, mesmo sabendo que sobraria apenas para mim toda a responsabilidade relacionada � sobreviv�ncia dos bichos. Com eles aprendemos a lidar com a vida e com a morte.
Os meus sempre ficaram na �rea externa das casas onde moramos, na maior parte do tempo soltos, o que nos valeu alguns s�rios problemas. Uma golden que tivemos comeu algo envenenado que encontrou no mato, o que acabou matando-a. Uma dachshund quase se foi tamb�m depois de comer um peda�o de p�o com chumbinho, segundo o veterin�rio que a salvou. O d�lmata precisou ser castrado porque toda vez que tinha uma cadela no cio na regi�o, voltava totalmente depauperado, pois n�o pensava duas vezes antes de entrar numa briga pela aten��o da f�mea.
Al�m dos c�es, tivemos ovelhas, com as quais criamos v�nculos afetivos. Elas atendiam pelos nomes e adoravam nos chamar para brincar, ou melhor, para correr. N�o era nada f�cil brincar de pegador com elas, ou seja, n�s sempre perd�amos, mesmo fazendo um esfor�o sobre- humano. Morreram de velhice na fazenda de um parente, por�m at� o �ltimo momento indicavam se lembrar de quem �ramos.
A profissional que tosava e dava banho no meu �ltimo c�o, um vira-latas muito peludo, acaba de me perguntar se eu poderia adotar um muito parecido com o que se foi. Animais enriquecem muito nossas exist�ncias, nos ensinam muito, inclusive a sermos mais humanos com os humanos. Mas n�o, n�o quero mais t�-los aos moldes que eu tive.
Decidi que agora meus bichanos ser�o todos os que vivem no meu jardim. Para os calangos, ajeitamos tantas pedras que aqui mais parece uma criat�rio de r�pteis que casa de gente. Para os esquilos, plantamos 15 coqueiros licuri e agora n�o conseguimos mais esticar um pouco o sono algumas manh�s, tamanha a barulheira que fazem abrindo os coquinhos com os dentes. H� p�ssaros de todo tipo e tamanho que fazem coro mesmo antes de o sol despertador de vez.
Amo muito estar no meio deles e mais ainda a certeza de que n�o precisam de mim para nada. Desde que n�o tentemos interferir na din�mica deles, estar�o sempre por aqui, assim como tudo do que precisam para viver e morrer. Alguns podem dizer que, ao contr�rio dos pets, com eles n�o h� intera��o e muito menos trocas afetivas. Sem d�vida, temos uma rela��o muito diferente se compararmos com a que se tem com c�es e gatos. Mas a vida selvagem est� aqui para nos lembrar tamb�m de que n�o podemos depositar nossa aten��o apenas nos que somos capazes de manipular e dirigir como bem entendemos e desejamos, mudando a natureza de sua vida como temos muitas vezes feito com os pets ao tentar transform�-los em seres humanos.